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maio 7, 2023

Golias, o grande

Alex Medeiros – Jornalista e escritor (alexmedeiros1959@gmail.

Alex Medeiros - Jornalista e escritor (alexmedeiros1959@gmail.com)

José Ronald Golias faria, no dia 3 de maio, 94 anos. Morreu em 2005 aos 76. Quando menino, eu ri muito com o Agente 86, mas ri muito mais com Ronald Golias. Não há manifestação de patriotada na declaração. Os dois comediantes foram marcantes na infância e adolescência de muita gente sexagenária de hoje; mas o brasileiro me arrancou muito mais gargalhadas que o americano Don Adams.

Falei uma única vez com o humorista. Foi no Carnatal de 1995. Ele era um dos convidados vips do camarote da TV Ponta Negra e da rádio 95 FM. Aquele foi o último evento festivo do saudoso senador Carlos Alberto, que ali já começava o processo de transmissão do comando das empresas de comunicação à sua primeira filha, Micarla de Sousa.

Guardei daquele encontro algumas fotos e a brincadeira que fiz com Golias, indagando se teria sido ele o misterioso ladrão da Taça Jules Rimet, conquistada pelo Brasil na Copa de 1970 e desaparecida em 1983. Revelei acreditar numa profecia involuntária dele. Ele não escondeu a curiosidade.

O humorista havia estrelado o filme “O Homem que roubou a Copa do Mundo”, em 1963, vinte anos antes do roubo real e três anos antes do desaparecimento do troféu na vitrine do Center Hall, na Inglaterra, quando foi achada no subúrbio de Londres pelo cãozinho “Pickles”. Ele riu a coincidência.

Golias foi o primeiro personagem a fazer rir os da minha geração na TV, apesar de já fazer a mesma coisa no rádio, assim como faziam Chico Anysio, José Vasconcelos, Costinha, Zé Trindade e Barnabé, entre outros. O clássico “A Família Trapo”, onde interpretou o eterno Carlo Bronco Dinossauro, foi a primeira série brasileira no estilo “sitcom”, criado na Inglaterra e popularizado nos EUA.

Campeã de audiência nos sábados, “A Família Trapo” comandava o pique da TV Record entre os anos 1960 e 1970. Nos vários incêndios que atingiram a emissora, a produção criada pelo quarteto Nilton Travesso, Manuel Carlos, Raul Duarte e A. A. de Carvalho desapareceu nas chamas, ficando apenas dois episódios. Na memória, no entanto, ficaram muitos.

Chamada do programa “Família Trapo” na TV Record em 1967 | Portal Memória Paranaense

O estilo do pioneiro programa ganhou versões modernas, como “A Grande Família”, “Sai de Baixo”, “Toma lá, Dá cá” e “Meu Cunhado”. Quem viu “A Família Trapo” não esqueceu as confusões armadas por Golias ao lado de Jô Soares (o gordinho Gordon), Ricardo Côrte-Real (então um garoto de 15 anos interpretando Sócrates), Otelo Zeloni (o primo azucrinado Pepino Trapo), Renata Fronzi (a bela Helena), Cidinha Campos (a adolescente Verinha) e Sônia Ribeiro (a então mulher de Blota Junior no papel de uma criada).

Dos episódios desaparecidos, dois me marcaram, um com a então jovem cantora Gal Costa (já contei aqui), iniciando sua carreira como coadjuvante de estrelas tropicalistas; e outro que tratava da fuga de um feroz gorila que acabou aparecendo na casa e dividiu com o Bronco as agruras da intrépida família.

“A Família Trapo” tinha roteiro dos jovens Jô Soares e Carlos Alberto de Nóbrega, que substituiu o pai em “A Praça é Nossa”. O nome foi tirado do clássico “A Noviça Rebelde”, que tinha a família “Von Trapp”. O programa era todo ponteado em piadas e esquetes rápidos, fórmula que até hoje dá audiência aos programas de humor. 

O personagem de Golias havia sido criado para o rádio desde 1955 e surgiu nos filmes do humorista, “Tudo Legal”, de 1960, e “O Dono da Bola”, de 1961. E foi revivido pelo próprio no seriado do SBT, “Meu Cunhado”, de 2004, contracenado com Moacir Franco. 

Em 1979 foi resgatado pela TV Globo no programa “Super Bronco”. O genial Chico Anysio, considerado o maior pelos próprios semelhantes, dizia que contracenar com Ronald Golias foi um desejo nunca realizado. Quando Golias morreu, senti morrer um pouco a alegria da minha infância.

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