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fevereiro 18, 2024

Goleiros, heróis solitários

Alex Medeiros – [instragram @alexmedeiros1959] – Texto publicado na Tribuna do Norte Amigos e leitores sempre indagaram sobre a ausência de goleiros nas tantas crônicas que faço em culto aos craques do futebol.

Alex Medeiros - [instragram @alexmedeiros1959] - Texto publicado na Tribuna do Norte

Amigos e leitores sempre indagaram sobre a ausência de goleiros nas tantas crônicas que faço em culto aos craques do futebol. Reconheço o pecado da omissão com a importante figura do homem que faz das tripas solução para impedir a derrota de um time. Confesso meu equívoco desde a infância em priorizar sempre os outros dez jogadores de linha. É que eu era da linha, o 8.

Oferto, então, o texto de hoje a cada um deles, esses atletas incríveis que seguram os ataques adversários, remendam as furadas dos seus zagueiros e operam até milagres. E olhem que o goleiro nem santo padroeiro tem, como seus colegas de defesa e ataque que contam com a proteção de São Onofre.

É esta ausência que faz a torcida batizar alguns guarda-metas com apelidos do tipo “São Marcos”, “São Vitor”, “São Cássio”… Os primeiros goleiros da minha infância foram Dedé, do América; Ribamar e Erivan, do ABC; Manuelzinho e Bastos, do Alecrim; Gilmar e Castilho, da seleção brasileira (Santos e Fluminense respectivamente), e Manga, do Botafogo carioca.

Erivan (Goleiro do ABC) Foto: Rubens Lemos
Gilmar (Goleiro da Seleção brasileira)


Eram os anos 1960 e eu ouvia seus nomes nas ondas do rádio ou nos torneios de futebol de tampa de garrafa que eu e meu irmão promovíamos na mesa da cozinha. Na década seguinte, estavam nos meus times de caixinhas de fósforo.

Eu ouvia os narradores Roberto Machado e Hélio Câmara nas defesas de pênaltis de Ribamar, ou quando Erivan se esticava ao limite da baixa estatura para espalmar uma falta cobrada por Icário, o pequeno artilheiro do Alecrim.

Ri muito das anedotas sobre os saltos acrobáticos de Bastos, que acabavam atirando longe tanto a bola quanto a peruca. Meu irmão jura que viu Dedé voar em parafuso, rodando o corpo no ar, e caindo com a bola encaixada no peito.

Li na Revista do Esporte que o feioso Manga fechava os dois ângulos das traves com as mãos, verdadeiras pás de tão grandes. Eu só não entendia a suplência de Castilho na seleção se ele pegava mais pênaltis do que Gilmar.

Vi e revi as cenas de 1969 no gol 1.000 de Pelé contra o Vasco no Maracanã. Mais sorte do que talento teve o rei naquela cobrança, em que o argentino Andrada chegou a milímetros da bola no pulo que deu, quase certeiro.

O milésimo gol de Pelé - Folha PE

Às vezes basta um gol para demonizar a vida do goleiro, por mais espetacular que ele seja. Aquele gol do rei virou estigma na biografia do arqueiro vascaíno, que foi um dos maiores do seu tempo, assim como foi Barbosa anos antes.

Mas, que graça teria um gol histórico num goleiro sem história? Também goleiro do Vasco, Barbosa era absoluto na seleção da geração dos gênios Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Nilton Santos, Ademir Menezes e Danilo Alvim.

O chute quase fortuito do uruguaio Ghiggia impôs a mácula que jamais o deixou em paz. Tão genial quanto Barbosa foi o inglês Gordon Banks, cujo destino foi oposto, consagrando-o com a mais bela defesa da História. Ele defendeu uma cabeçada mortal de Pelé, fazendo uma ponte rasteira, se esticando com o corpo na grama e com as pontas dos dedos desviou a bola por cima da trave, naquela que é a maior partida da historia das copas.

A feia Copa de 1994, onde a genialidade de Romário fez a diferença e o Brasil arrancou a taça nos pênaltis contra a Itália de Baggio, proporcionou também o resgate de Taffarel, o maior goleiro brasileiro desses tempos contemporâneos.

Taffarel e a final da Copa de 94: "Estava nervoso antes dos pênaltis" | GZH

O goleiro, este ser que de tão preso ao quadrilátero eterno dos gramados provoca a esterilidade do terreno, defende ali todas as glórias do seu time, afasta as angústias das torcidas, provoca espasmos de alegria quando agarra o que parece impossível.

Foto: Pleno News

A eles sequer é dado – salvo alguns mais ousados que avançam – o tumulto coletivo dos festejos de gol. Vibram sozinhos sob as traves, rezam à distância, ajoelham-se de costas para o gol iminente dos companheiros. Vivem entre a suspeita constante e o heroísmo solitário.

Uma resposta para “Goleiros, heróis solitários”

  1. Só pararam de demonizar o goleiro Barbosa do Vasco da Gama e da Seleção brasileira, depois que a Seleção canarinho levou uma goleada humilhante na Copa do Mundo, dentro do país. Admiro esses atletas arqueiros.
    Conheci um goleiro de várzea, que jogou umas partidas, pelo Arsenal, time de Mipibu. Esse rapaz é primo de Antônio Fagundes, filho de Zé Fagundes. Nunca vi no mundo, um goleiro igual aquele,me escapa o nome dele. Ele voava na bola falando o ângulo superior, com o corpo. Infelizmente Toinho Fagundes afirma ele era alcoólatra. Teve até convite de ir pra um time grande, mais devido a malvada cachaça, não aceitou. Vejo através da televisão goleiros dos times de todo mundo. Nunca vi um goleiro, igual ou fazer o que ele fazia, de baixo das traves.