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março 10, 2024

FREI HÉLIO

jardins Hoje fomos à Cidade Alta, bairro mais antigo de Natal.

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Hoje fomos à Cidade Alta, bairro mais antigo de Natal. Passamos em frente à Igreja do Galo e lembrei de uma história: eu e o César procurávamos uma igreja para o casamento religioso (nem mesmo éramos católicos, mas todos se casavam na igreja, então...). 

As mais antigas e bonitas ficavam naquela região, portanto, iniciamos as visitas para escolher o santuário. Na primeira, encontramos um pároco que parecia de mal com a vida. Não sorriu, não nos acolheu, apenas deu o valor das taxas, frisando o quanto o espaço era procurado pela sociedade natalense. Saímos frustrados pelos valores exorbitantes do serviço e pelo jeito afetado do religioso.

No Convento Santo Antônio, mais conhecido pelos potiguares como “Igreja do Galo” devido à ave feita de bronze "pousada" em sua torre, fomos recebidos por Frei Hélio. Simpático, mostrou-nos os espaços barrocos da construção seiscentista e nos fez perceber o quanto a igreja era importante para a história do bairro e da cidade.  O jeito daquele homem (era alto, corpulento e fazia lembrar o frade Biscoito, de Marcelino Pão e vinho) nos cativou.

Casamo-nos em 25 de dezembro de 1996 na singela igreja do período colonial. Uma cerimônia bonita e afetiva como queríamos, graças à sensibilidade, carisma e voz de barítono de Frei Hélio. Não éramos católicos, mas sentimos confiança naqueles rituais de “Na alegria e na tristeza, amando-nos e respeitando-nos até que...”.

A recepção foi nos jardins do templo. Lembro de ver um garçom passar com uma caneca de alumínio cheia de whisky com gelo. Mais tarde, soube que era para o frei, rs, afinal, demasiadamente humano como nós. Não era santo, nem fingia ser. Talvez por isso mesmo, fosse santo. Um, de santidade anfitriã, se é que existe uma. 

Nunca mais o vimos. 

Agora à noite, encontrei uma foto dele na internet, já de barbas brancas, bem mais magro, morando em outro convento e em outro estado. Vinte e sete anos se passaram e espero que esteja bem. 

Frei Hélio casou dois ingênuos que se amavam e frutificaram apesar das muitas dificuldades de uma vida a dois. Acho que começamos bem.  Fizemos escolhas espirituais, sem nos darmos conta disso.

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