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Figuras Mipibuenses – Dona Pequena, rezadeira de São José de Mipibu

As rezadeiras ou simplesmente benzedeiras tem como atividade a reza, o qual sãorealizado as preces junto a gestos e o uso de algumas plantas ou ervas, num ritual que visaproporcionar a cura e o bem-estar da pessoa doente.

As rezadeiras ou simplesmente benzedeiras tem como atividade a reza, o qual são
realizado as preces junto a gestos e o uso de algumas plantas ou ervas, num ritual que visa
proporcionar a cura e o bem-estar da pessoa doente.

Anos passados, se alguém procurasse em São José de Mipibu por Josefa de Souza, provavelmente ninguém informaria. Porém, se procurasse pela rezadeira "Dona Pequena", todos indicariam a sua residência, na rua Cônego Lustosa, 82 - centro. Era nesse endereço que ela residia, desde os 15 anos de idade, quando veio do Engenho Sapé, de propriedade de João Hélio (pai do ex-prefeito Hélio Ferreira), onde foi criada desde os cinco anos de idade.

Dona Pequena concedeu entrevista ao jornal O Alerta, publicada na edição 290 - Outubro 2001. Vale a pena ler:

Com 80 anos (em 2001), Dona Pequena diz que ganhou esse apelido por ser muito pequena, quando nasceu. Muitos ficavam admirada ao visitá-la, por conta do tamanho diminuto da recém nascida.

Ela estudou até o 4º ano Primário ( atualmente, Fundamental), numa escola na localidade de Ribeiro, em São José de Mipibu. Sua primeira professora foi dona Mocinha Soares.

Em 1948, casou-se com Pedro Leandro da Silva, com quem teve quatro filhos. "Criei sete, de minha irmã, além de adotar dois". Ela se emociona ao dizer que todos os domingos eles telefonam para ela.

Aprendi a rezar com uma velhinha rezadeira, chamada Geraldina, que também morava no Engenho Sapé. Com ela aprendi todas as orações, rosários, fazer petições e curas". Católica praticante, ela só ficou tranquila quando perguntou a um frade: - Se era pecado o que estava fazendo (benzendo)? Ele me tranquilizou dizendo que, a reza era um dom que Deus me tinha dado".

Dona Pequena é bastante procurada na cidade. É o dia todo, até a noite. "Tem dia que atendo mais de vinte pessoas". Além de São José de Mipibu vem gente de Natal e cidades vizinhas. As pessoas me procuram para rezar, curar quebranto, mau olhado, ventre e espinhela caído. Mas a procura maior é mau olhado em criança. Teve até uma médica de Mipibu que trouxe sua filhinha para eu curar", afirmou.

Sinto quando uma pessoa está pesada" ou tem algo lhe prejudicando, como inveja. Eu pressinto". Ela diz que também reza à distância. "Uma mulher certa vez me mandou uma carta pedindo para rezar pelo seu filho que havia tentado o vestibular várias vezes e não conseguia. Depois do resultado e aprovação do filho, vieram aqui me agradecer.

As rezadeiras tem uma coisa em comum: a pobreza e a fé. Em hipótese algum deve oferecer qualquer quantia em dinheiro a uma rezadeira. Recomenda-se que passado uns dias, visita a rezadeira e entrega um agrado: um presente, seja alimentos, roupas... nunca dizendo que é pagamento. "Um vez uma pessoa deixou sobre a mesa 50 cruzeiros. À noite, uma voz me orientou para dar o dinheiro em esmola aos mais pobres", comentou.

Na humilde casa de dona Pequena são vistas imagens e reprodução de diversos santos. Durante as rezas ela invoca a diversos santos. Existem centenas de orações. No quintal da casa existem plantas cujos ramos verdes são retirada para curar as pessoas.

"Recebo pessoas de todas as classes sociais. Todas tem algo a ser curado", diz a rezadeira.

Segundo Cristóvão Cavalcante, Dona Pequena, "sempre foi presente na minha vida, me viu nascer, acompanhou meu crescimento. Era amiga de minha mãe, sua comadre e comadre da minha irmã Vicentina. Ela não média esforços em ajudar com suas rezas a todos, que batiam em sua porta"

"O casal teve quatro filhos legítimos: Raimundo Nonato, Nana, Zé Humberto e Guinga. Criou seus sobrinhos, Maria Borges, Manoel Borges e João Borges. Seu filho adotivo, Jairo cuidou do casal até a morte de Pequena. Minha madrinha foi muito boa para mim e minhas irmãs. Ela me ensinou duas orações fortíssimas. Uma dela, a “Força do Credo”, está entre minhas orações", lembrou Cristóvão.

Além de Dona Pequena tem outras rezadeiras em São José de Mipibu, entre elas, dona Luzia Barbalho, e Maria do Céu Francisca das Chagas, em Lagoa do Fumo (Laranjeiras dos Cosmes).

Não conseguimos a data do falecimento de Dona Pequena.

Por PEDRO FREIRE DE MELO - Historiador e pesquisador (in memoriam).

              Entre os séculos XVl a XVlll as rezadeiras eram consideradas feiticeiras e por conseguinte perseguidas e às vezes condenadas ao suplício e sacrificadas pelos Tribunais da Inquisição, também conhecidos por Santo Ofício,  instituídos na época para punir os crimes contra a fé católica. Com a extinção daqueles órgãos de opressão, esta benemérita, operosa e secular essas pessoas passaram a praticar livre e democraticamente a filantropia através do ato de benzer e curar toda e qualquer pessoa, sem distinção de cor, credo ou classe social.

             Em algumas regiões do Brasil as rezadeiras também são conhecidas como “curandeiras” ou “benzedeiras”. Dando sequencia ao assunto em pauta, passaremos a descrever sobre suas atividades e procedimentos no Rio Grande do Norte e também no município de São José de Mipibu, transcrevendo dados do encarte “Galante”, da revista “Preá” e, também, pelo conhecimento do assunto desde minha infância e adolescência a partir da década de quarenta do século passado.

Crença popular em rezadeiras persiste apesar dos avanços - Blog Encantos do Seridó

       Nas pesquisas realizadas por alguns historiadores norte rio-grandense junto a diversas rezadeiras domiciliadas na capital e cidades do interior foi constatado que todas elas professam a religião católica e são devotas fervorosas daqueles santos a quem rogam a intercessão e proteção divina, por ocasião de procederem ao benzimento da pessoa que deseja ser curado de algum mal, dentre os quais: dor de dente (Santa Apolônia) – olhado ou doença dos olhos (Santa Luzia) – gravidez ou parto (Nossa Senhora do Bom Parto) – engasgo ou espinhela caída (São Brás) – picada de cobra (São Bento) – azia (Santa Sofia) – Endividados (Santa Edvirges) – e tantos outros, dependendo da doença que o suplicante está acometido e da dor que sente naquele momento. A devoção aos Santos é expressa através das imagens ou quadros espalhados por diversos compartimentos de suas casas.

Foto: Jornal O Povo

            Alguns possuem oratórios, frente ao qual elevam suas preces, rezam e fazem suas orações de costume. Preferem ser chamada “benzedeira” e não “curandeira”, alegando que a cura é um dom de Deus. Apenas rezam com convicção e fundamento no dogma da fé e acreditam piamente naquele dito popular e secular que diz:  A fé remove montanhas.

            Para proceder ao ritual de rezar qualquer pessoa, seja adulto ou criança e até alguns animais, usam galhinhos de pinhão ou manjericão, ou ainda ramos verdes, todos colhidos nos quintais ou jardins de alguma casa. A maioria tem nos quintais de suas casas as plantas que curam os doentes, a saber: para dor de barriga – mastruz; para catarro e gripe - romã; para garganta inflamada – corama; para inflamação – sabugueiro; para febre – capim santo; para indigestão – erva cidreira e erva doce, para acalmar.

Observam alguns procedimentos e crenças consideradas de caráter místico. Exemplos: a pessoa não pode cruzar os pés ou as mãos durante o processo de cura; - não se pergunta qual é o preço da cura, pois elas não aceitam pagamento em dinheiro. Passados alguns dias, visita-se a rezadeira e deixa-se um agrado que pode ser alimentos ou outro qualquer objeto ou bem de consumo como presente.

            Ao rezar qualquer animal não considerado sagrado (entre os quais, cachorro e gato) elas usam a “varredura” que no seu linguajar significa não invocar o nome dos santos durante as orações; - não ensinam o nobre oficio a outra mulher, pois a sua reza fica enfraquecida e daí pode perder o poder de cura. No entanto, pode passar seus conhecimentos para o homem sem, no entanto, perder seus primitivos poderes, segundo afirmação de todas as entrevistadas. Todas têm uma coisa em comum: a pobreza.

            Possuem uma maneira muito peculiar de curar: combinam os poderes místicos da religião e os truques da magia aos conhecimentos da medicina popular.

            Sobre cura de animais, passaremos a relatar um fato ocorrido com o cão de estimação do jornalista Emery Costa e por este narrado em artigo publicado na edição de julho do ano 2000, do jornal “O Mossoroense”, onde é repórter: certo dia ao chegar em casa na praia de Tibau, onde veraneava em férias, verificou que o seu cãozinho pequenez chamado Banzé estava muito doente, deitado em um canto da sala semi desacordado, causando grande alvoroço por parte de seus dois filhos pequenos. Na ocasião, apareceu um nativo da região sugerindo que levasse o animal a uma famosa “benzedeira” residente naquela praia. Acatando a sugestão do estranho e os apelos dos filhos, já desesperados com o estado do pequenez, todos rumaram para a casa indicada. Lá chegando as crianças conduziram o pequeno animal, praticamente morto, à presença da benzedeira.

            O Sr. Emery, pela sua quase absoluta descrença daquele tipo de cura, ficou do lado de fora da casa a espera do que poderia acontecer. Qual não foi sua surpresa quando de repente o cachorrinho saiu em louca e disparada carreira pela porta da frente, lépido e fagueiro, completamente curado. Segundo o autor do artigo, o que ficou como conclusão de tudo isso foi que, se não fora às orações daquela senhora simples e humilde, o cãozinho Banzé não teria vivido muitos e muitos anos em sua companhia.

            Outro caso parecido ocorreu com o cão pastor Cherk, de Frankie Macio Souza Varela, filho do vice-prefeito de São José de Mipibu (atual prefeito), José de Figueiredo. Ele conta que em determinado dia, seu cão começou a ficar estranho.  Não comia e nem andava mais. “Parecia que estava morto”. Aconselhado, levou-o para um rezador, na rua Canaã e, “logo que sai de lá, Cherk nem parecia o mesmo”.  O cão vive até hoje.

     SÃO JOSÉ DE MIPIBU - A seguir farei uma descrição sucinta sobre as ações e atividades de algumas rezadeiras do passado e do presente, domiciliadas em São José de Mipibu: Em outras épocas não havia em São José de Mipibu, hospital ou posto de saúde para atendimento ao público e sim enfermeiro prático que atendia a alguns casos menos grave. Os mipibuenses pobres, remediados ou mesmo os mais abastados recorriam aos préstimos da operosa e tradicional classe, que atendia a todos sem nenhuma compensação pecuniária e com a maior boa vontade.

              Eu mesmo, quando adolescente fui curado diversas vezes por uma velhinha de nome Joaninha Brandão, que também atendia a outras pessoas, inclusive membros de minha família. Em pesquisa realizada junto a moradores de comunidades rurais do município, os mesmos forneceram os nomes daquelas que ainda praticam o ritual de rezar: Em Japecanga, Carminha Simplício; Sitio Buraco, dona Beatriz; Laranjeira do Abdias, as irmãs Francisca e Júlia Cassiano; Lagoa do Fumo e Laranjeira dos Cosmes, Maria do Céu.

Pedro Freire: "Eu mesmo, quando adolescente fui curado diversas vezes por uma velhinha de nome Joaninha Brandão"

              Na sede do município, mesmo com toda estrutura de saúde publica e privada, apta para o pronto atendimento ao público em geral, as pessoas, ainda acreditam na cura por meio de “benzimento” e procuram ajuda a uma das rezadeiras que ainda hoje atuam, com a maior boa vontade e sem nenhum interesse financeiro.  Entre elas, destacamos dona Dalva (que faleceu há poucos dias) e Manhota, residente a rua 15 de novembro, dona Mãezinha (bairro do Pau Brasil) e Josefa de Souza, mais conhecida por “dona Pequena”.

               Em outubro de 2001, O ALERTA publicou uma matéria sobre dona Pequena, “Residente à rua Cônego Lustosa, 82. Chegou a São José com apenas quinze anos, procedente do Engenho Sapé, aonde foi criada desde os cinco anos de idade. Aprendeu o oficio de rezar com uma velhinha chamada Geraldina que também morava no Sapé. Ela lhe ensinou todas as orações, rosários, petições e a curar”.

         É bastante procurada não só por gente da cidade, mais também por pessoas vindas da capital e cidades vizinhas. Às vezes atende a mais de vinte pacientes durante o dia. A maior procura é para rezar e curar quebranto, mau olhado, principalmente em crianças, ventre e espinhela caída. Também reza as pessoas à distância, independente da classe social a que pertence. Atualmente acha-se bastante debilitada, talvez devido ao peso da idade e não pode mais se deslocar para atender a um paciente fora de casa.

          Ao concluir a presente explanação, congratulamo-nos com a nobre e meritória classe das rezadeiras e que até o presente prestam o relevante oficio, com fundamento no dogma da fé, e que têm por finalidade amenizar a dor e o sofrimento do ser humano.       

  FONTES DE CONSULTA: Revista PREÁ nº 6 –  Maio de 2004 e GALANTE  nº 12 – Maio de 2000.

Uma resposta para “Figuras Mipibuenses – Dona Pequena, rezadeira de São José de Mipibu”

  1. Madrinha Pequena:
    Sempre foi presente na minha vida, me viu nascer, acompanhou meu crescimento.
    Muito amiga de minha mãe, sua comadre e comadre da minha irmã “Vicentina”.
    Ela não média esforços, pra ajudar com suas resas e preces a todos, que batiam em sua porta.
    Antes de casar com Pedro Leaandro, trabalhou como doméstica na casa do casal, Dr Hernestro e Dona Palmira, na praia do Meio,em Natal. Sua patroa a considerava uma pessoa da família, saiu pra casar. O casal teve quatro filhos legitimos: Raimundo Nonato, Nana, Zé Humberto e Guinga. Criou seus sobrinhos Maria Borges, Manoel Borges e João Borges. Seu filho adotivo Jairo, ainda mora na mesma casa de Pequena e Pedro. Jairo, cuidou do casal até a morte de Pequena, já Pedro depois da Morte de Pequena, Nana sua filha o levou pra sua casa em São Paulo, na Baixada Santista, lá faleceu aos cuidados da filha Nana. Minha Madrinha Pequena, foi muito boa pra mim é minhas irmãs. Ela me ensinou duas orações fortíssimas. Que uma dela a “Força do Crédo”, carrego como carro chefe de minhas orações. Seu filho mais velho, Raimundo Nonato, foi interno comigo no Colégio Agrícola de Ceará Mirim, em 1964.
    Eu, mais velho,que ele o protegia, defendia das agressões discriminatória e bulings, pela cor de sua pele. Consideração a minha madrinha e a amizade, que tinha com Raimundo. Defendia como meu irmão. Minha Madrinha está no Reino da Glória.