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fevereiro 4, 2024

FIGURAS MIPIBUENSE – Luiz Justino

Por JOSÉ ALVES – Jornalista O otimismo e bom humor eram as principais características e combustíveis de ‘Seu’ Luiz Justino, para ultrapassar um século de idade.

Por JOSÉ ALVES - Jornalista

O otimismo e bom humor eram as principais características e combustíveis de 'Seu' Luiz Justino, para ultrapassar um século de idade. No seu aniversário eram realizadas duas comemorações: pela manhã, quando chegava ao local de trabalho, um pequeno espaço ao lado do Mercado Público, onde reunia os amigos, alguns comerciantes, amigos de longa data e, à noite, em sua residência, com a presença de familiares.

“Seu” Luiz Justino nasceu no dia 18 de julho de 1909, em Barra do Morgado, comunidade rural de Santa Cruz (“do Inharé”). Foi casado durante 71 anos com a senhora Anita Batista de Lima, que viveu 90 anos, falecendo em 2005. Dessa união tiveram os filhos: José Anchieta, Rubens, Rui, Lourival ('Pitinga'). Lourival (('Azogue') e ainda adotou Meiriane, que mesmo casada, ainda, morava com o pai.

Sua infância e adolescência foi no campo ajudando os pais na lavoura. Já rapaz, pensava em vencer na vida, deixando o campo para trabalhar na cidade grande. Em 1932, escreveu uma carta para o Padre Cícero Romão (24.03.1844 /20.07.1934), pedindo um conselho para saber se o seu destino era viajar para São Paulo/SP, onde pretendia ganhar a vida.

“ -Meu “Padim Ciço” me respondeu que eu fosse tratar de minha roça, que era o melhor que eu tinha a fazer”. Desistiu da viagem e permaneceu trabalhando no campo, em Santa Cruz.

Procurando fugir da seca que assolava o sertão do Rio Grande do Norte, em 1942, veio morar em São José de Mipibu, onde continuou trabalhando na agricultura (milho, feijão e algodão). Em entrevista a José Alves editor do jornal O Alerta, em julho de 2014, disse:

“- Neste mesmo ano arranjei um emprego na Estrada de Ferro Sampaio Correia, antes conhecida por “Great Western”, no trecho entre Natal-Recife, onde permanecei por dois anos”.

Deixando o emprego na estrada de ferro, começou a trabalhar de feirante, juntamente com a mulher, onde vendiam feijão, milho, farinha, nas feiras livres de São José de Mipibu, Parnamirim, Goianinha e Nova Cruz.

Em 1949 começou a exercer a profissão de barbeiro, onde atuou por 22 anos.

”-Deixei a profissão de barbeiro quando deixaram de vender navalha, ferramenta que usava para tirar a barba de meus clientes”, comentou, com saudosismo.

Voltou, em 1971, a ser feirante. Exerceu a profissão de comerciante em um ponto, ao lado do mercado público de São José de Mipibu, onde vendia sandálias, ovos, etc. Seu Luiz aposentou-se pela Previdência Social, em 1976. Mesmo assim, diariamente, está no comércio. Ele chega às 7h e sai às 11h para o almoço, onde, tirava uma soneca em casa, retornando ao local de trabalho e, permanecendo até às 16h”, disse a filha  Meiriane, que morava com o pai, juntamente com o marido e duas filhas.

O segredo para ultrapassar os 100 anos de idade, era não fumar, não bebe e dormir nas horas certas. Sempre respondia ao ser indagado qual o segredo para viver bem. Em relação à alimentação, diz que come de tudo, não fazia dieta alimentar.

“Seu Luiz é católico praticante. Diariamente assiste a missa pela televisão e aos domingos comparece a Igreja Matriz de Sant’Ana e São Joaquim, onde  assiste a missa, das 7h.

  Durante a entrevista ao Alerta, falava sobre alguns momentos da história de São José de Mipibu, do Rio Grande do Norte e do Brasil. Falou sobre a Intentona Comunista - um movimento revolucionário que aconteceu no Brasil em 1935, com objetivo de derrubar o governo de Getúlio Vargas e instalar o regime Comunista no Brasil. “Me lembro que Dinarte Mariz organizou as pessoas na Serra do Doutor (antes de Currais Novos) e fizeram um bloqueio na estrada para não deixar os Comunistas passarem. Do alto da serra, começaram a atirar fazendo com que os revoltosos fugissem”, lembrou.

Falou dos hidroaviões que amerissavam nas águas da Lagoa do Bonfim, durante a Segunda Guerra mundial. Muitos americanos aproveitavam para tomar banho na lagoa, nos finais de semana. Sobre Getúlio Vargas, declarou que “tudo que a pobreza e o trabalhador tem, foi deixado durante o seu governo. "Quando  suicidou-se, em 1954 muitas pessoas ficaram chocadas com a morte do "pai dos pobres", e algumas chegaram a chorar”, disse.

Relembra as Copas do Mundo, quando ainda não tinha a televisão. “Escutava no rádio. Me lembro de um jogo entre o Brasil e Itália, quando o Brasil venceu por 2 x 0”.

Falando de política disse que o melhor governador do Rio Grande do Norte, foi Juvenal Lamartine (governou de 1928 a 1930, quando foi deposto por Getúlio Vargas). Em sua opinião, o melhor prefeito de São José de Mipibu foi Áureo Tavares e, depois, Hélio Ferreira.

“Antigamente eu gostava de dançar, hoje não danço mais”, disse Luiz. Uma de suas diversões é vê novelas na Tv. “Ele é noveleiro, assiste a todas elas”, revelou a filha, sorrindo.  “Mas o que ele gosta mesmo é relembrar fatos da sua vida, para os amigos e familiares”.

Seu Luiz Justino era leitor do Jornal O Alerta

Confessou que seu maior sonho, antes de “partir” era ir a Juazeiro do Norte/CE, onde já foi mais de dez vezes”.

Seu Luiz  disse que o dia mais feliz é o seu aniversário, “quando os amigos se cotizam e comemoram o meu aniversário. É um festão danado.”

Segundo postagens nos blogs que cobriram a festa dos 105 anos, no ano de 2014, “seu” Luiz dançou muito forró, ao som da sanfona do amigo pessoal, Marcos Lopes, idealizador do Forró da Lua  e do Museu do Vaqueiro. A todo instante elogiava o aniversariante: "- Como seria bom se todos nós pudéssemos chegar a essa idade, e o melhor, com esta saúde," dizia Marcos Lopes.

No ano seguinte, por ocasião dos 106 anos, comemorou mais um aniversário, entre parentes e amigos de longas datas. Muita alegria na hora de cantar o parabéns pra você, afinal de contas, não é todo dia que alguém comemora 106 anos de uma vida muitíssima bem vivida.

Estiveram presentes, entre outros, o então prefeito Arlindo Dantas, Marcos Lopes, comerciantes, amigos e familiares. O editor do Alerta, José Alves e o presidente da Câmara Municipal, na época e, atualmente prefeito, José de Figueiredo, também foram abraçar o aniversariante.

Um mês depois, no dia 15 de agosto de 2015, Seu Luiz Justino partiu para a eternidade.

Não faltava disposição para trabalhar em seu comércio. Na foto, com a filha  Meiriane e a neta
O jornalista José Alves, editor do Alerta, fez questão de ser fotografado com “Seu” Luiz Justino

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