Mariana Rodrigues – Psicanalista e Advogada e, nas horas vagas, cronista

Ele nasceu em um dia, mas foi registrado em outro, detesta fotos, não gosta muito de doce, escreveu nove livros, mas vive dizendo que queria apagar todos. Nas estantes da sala, inúmeros dicionários, talvez por isso ele seja tão bom com neologismos. Como um bom hedonista, tem um limiar muito curto pra dores e incômodos. É a pessoa mais comodista que eu conheço e extremamente autêntico.

Perdeu o medo de almas, mas conserva o de avião; mesmo assim, viajou pra onde quis e adora os alemãs que golearam o Brasil de 7x0. Não tem agenda, mas anota as coisas importantes em uma folhinha de papel, e toda corrida de F1 é um compromisso ao qual ele não falta.

Concorda com Nietzsche e acha que sem música a vida seria um erro. Não decora nenhuma letra, mas nos primeiros acordes decifra até as mais improváveis improvisações de jazz.

Me dedicou o último livro que escreveu parafraseando uma letra que condiz com o que a gente vive. Ele me ensina todo dia a não me importar com o que os outros pensam. Tem a mania me chamar o tempo todo, mesmo quando está me vendo, só pra eu olhar pra ele. Teve sorte na vida, mesmo não acreditando no azar. Ele garantiu aqueles amigos que cabem nos dedos das mãos e alimenta as amizades com ligações do telefone fixo diariamente. Não tem celular, nem usa computador, mas adora a biblioteca do YouTube dele; é o maior curador de músicas bonitas que eu conheço.

Ele tem defeitos incuráveis, mas uma sensibilidade que remedia. Ele não só suporta minha loucura, como me ensina a olhar pra ela com mais gentileza. Ele é o meu laboratório, com ele eu aprendi a desconstruir pra construir mais forte.

Esse ano eu quis escrever no aniversário dele. - Feliz Aniversário, Alex! Te quiero, cariño! Porque "Te amo" em várias línguas, e ainda assim, é muito pouco pra o que a nossa relação nos convoca.

Saúde pra que você chegue vivo no dia da sua morte, consciente do que você fez e se perdoando pelo que deixou de fazer. E eu, sigo aqui pra acender quantas velinhas forem.