Mariana Rodrigues -

Hoje (31/08), eu acordei e ouvindo a música "Bandolins", na voz de Oswaldo Montenegro, e acho que o mundo respirou mais porque eu me rodopiei ao som dos bandolins, lembrando e abraçando a lição que você me deixou: - Faça o que ama e seja feliz!

Não tenho nenhuma lembrança do senhor me perguntando sobre as notas na escola ou sobre a minha opção para o vestibular, mas lembro das histórias de navio que ilustravam as milhares de fotos das máquinas que fazia parte da sua rotina no alto-mar. Você teve sorte na vida, fez do seu vazio uma imensidão que foi preenchida por cada horizonte que seus olhos contemplaram.

Hoje eu percebi como eu era sortuda em ter a sua curiosidade sobre minhas relações e sua devoção em me proporcionar um lugar de privilégio em um mundo que só subtrai. Eu sempre achei que ninguém deveria perder pai ou mãe, antes dos 30, porque praticar a ambivalência nos laços afetivos requer tempo e autonomia diante da própria vida.

Você foi embora quando eu tinha 20 anos, mas só hoje, aos 30, eu me sinto capaz de lhe perder, muito embora eu tenha praticado, na última década, um lhe deixar ir, recheado de gratidão.

Faz tempo que eu não lhe escrevo, talvez porque eu estivesse sentindo cada palavra que traduz a sua falta, de uma forma que conforta o coração. Hoje eu estou feliz em marejar os olhos pra aguar a alma. Chorar de felicidade é outra história.

Obrigada por me fazer, a partir do seu exemplo, uma pessoa capaz de reforçar a minha busca por ser feliz. Quanta vontade de compartilhar minhas escolhas com o senhor! Mas, alguém que sabe se fazer ser visto, deixa de presente pra quem fica, a capacidade de seguir com a ausência do outro.

Hoje, sua ausência se fez presente, mas de presente eu ganhei a lição mais preciosa que um pai pode deixar pra uma filha: Faça o que gosta e seja feliz!