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maio 6, 2024

Diocese: caminho sinodal e identidade

Por Padre José Lenilson de Morais – Pároco da Paroquia de Sant’Ana e São Joaquim – São José de Mipibu O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi uma das maiores bençãos para a Igreja e para toda a humanidade, sendo superado em importância e magnitude somente pelos primeiros sete concílios ecumênicos – de Nicéia I em […].

Por Padre José Lenilson de Morais – Pároco da Paroquia de Sant’Ana e São Joaquim – São José de Mipibu

O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi uma das maiores bençãos para a Igreja e para toda a humanidade, sendo superado em importância e magnitude somente pelos primeiros sete concílios ecumênicos – de Nicéia I em 325 a Nicéia II em 787. Foi também muito importante naquele contexto e realidade o Concílio de Trento (1545-1563) que guiou a Igreja por mais de 400 anos.

 Contudo, só o Concilio Vaticano II revelou toda a capacidade da Igreja de Cristo para o diálogo e para a compreensão mais profunda de sua missão evangelizadora em todas as culturas e realidade humanas e sociais. A Igreja Católica na América Latina foi rápida em acolher a proposta conciliar através das conferências dos bispos latino-americanos, mas também das conferências nacionais e das próprias dioceses que, com entusiasmo, abraçaram a novidade (“sempre antiga e sempre nova”) que o Espírito soprava sobre todo o Povo de Deus disperso por toda a terra.

Nos últimos anos e meses, se acentuou nas nossas dioceses, paróquias e comunidades a palavra “sinodalidade” e seu significado. Tudo começou com o ressuscitar da mesma, a partir das falas do Papa Francisco. É bem verdade que, entre teólogos e bispos, o termo não era de todo desconhecido, mas praticamente nada se falava entre a imensa maioria do Povo de Deus, do qual todos os batizados fazem parte.

 Agora, a palavra e seu sentido estão na “boca do povo” e os fiéis leigos começam a assumir e cobrar essa postura eclesial na prática concreta da vida pastoral e administrativa. Se formos olhar com atenção, a América Latina e a África já viviam este espírito sinodal e diocesano há muitas décadas, graças ao protagonismo dos leigos, legitimamente devolvido pelo Concílio Vaticano II.

Os conselhos atuantes, as iniciativas pastorais, os movimentos eclesiais, as CEBs e as Comunidades de Vida e Aliança são provas concretas desta realidade de caminho trilhado em comunhão e participação.

Agora, porém, pede-se uma identidade maior com a própria diocese, porção do único Povo de Deus confiado a um bispo como seu pastor próprio para tornar presente e atuante a Igreja Viva de nosso Senhor Jesus Cristo.

Na diocese encontramos a nossa própria identidade religiosa, litúrgica, pastoral, missionária e cultural mantendo, ao mesmo tempo, a plena comunhão com Igreja Universal, congregada na unidade pelo Bispo de Roma, o Papa.

Essa diocesaneidade é um estilo de vida pastoral e espiritual centrado na fraternidade de toda a Igreja Local. Neste sentido, não se vê a diocese como um “tu” com o qual formalmente e esporadicamente os fiéis leigos e o clero se relacionam, mas como um “nós”, um organismo vivo de comunhão de todo o Povo de Deus daquela região.

 Por outro lado, a própria a sede da diocese (ou mitra) se vê não como uma estrutura apenas de governo, fria e burocraticamente exigente, mas como uma “Mãe-Pai” que congrega todas as paróquias e comunidade onde vivem a dura existência a grande maioria do Povo santo de Deus.

Seria muito estranho tentar viver ou impor um estilo sinodal sem essa compreensão de que essa via extremamente evangélica é de “mão dupla” ou é “pericorética”, como a Trindade, onde nenhuma Pessoa subsiste (= é) fora da comunhão e mútua dependência eterna. Se a Trindade Santíssima é a única legítima fonte primeira de unidade e comunhão deverá este ser o modelo de fortalecimento da identidade da (Arqui)diocese e da sua missão.

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