Haroldo Varela

Dia de festa! Oba, hoje é dia de ir ao aeroporto.

Ninguém viajava sem despedida. Ir ao aeroporto Augusto Severo, de Natal ( na verdade, em Parnamirim) era um grande programa, quase dia de festa. Dos bilhetes carbonados de vermelho saíam as melhores viagens. O bom mesmo era a despedida, a parada estratégica no topo da escada para acenar com um adeus cinematográfico, mas nada comparado à emoção de esperar alguém.

A marquise do terraço ficava lotada e chegar cedo era garantia de um lugar privilegiado. A ansiedade era grande, qualquer brilho no céu era confundido com um avião. Agora sim, tá chegando...o barulho ensurdecedor dava a certeza da aterrissagem.

Era muita emoção e protocolo, até que a porta principal da aeronave abrisse (claro, ninguém queria sair pela porta traseira. Não tinha glamour).

- É ela. Não, não é, acho que é aquela de vermelho. Está acenando...sim, agora é ela sim.

Momento de correr e aguardar a porta de desembarque ser aberta. Era um desfile de moda, e se a procedência do voo fosse de um lugar frio, as pessoas desembarcavam como se nossa terrinha fosse a Sibéria (não mudou muito).

Botas, frasqueira, cachecóis, sobretudo, casacos, luvas, oportunidade de mostrar a elegância de quem procedia de uma região fria. Era uma época em que as viagens internacionais não eram tão frequentes.

Lembro de uma namorada que tinha um álbum só com as lembranças da viagem para a Europa. Bilhete do voo, ticket da bagagem, guardanapo e cardápio do avião faziam parte do acervo. Diante de tudo isso, eu sonhava um dia poder fazer a minha viagem.

Bom, chegou o grande dia, tão esperado.

-Atenção senhores passageiros com destino...

-Estão chamando. É meu voo. Até...