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março 3, 2024

De repente eu aprendi

André Gravatá – Reportagem publicada na Revista Piauí Há 60 anos, trezentas pessoas foram alfabetizadas em 40 horas na primeira experiência em larga escala do método Paulo Freire.

Paulo Freire - Acervo: Tribuna do Norte

André Gravatá - Reportagem publicada na Revista Piauí

Há 60 anos, trezentas pessoas foram alfabetizadas em 40 horas na primeira experiência em larga escala do método Paulo Freire.

Foto: Folha UOL

Ele foi convidado pelo governo do Rio Grande do Norte para organizar uma iniciativa piloto na cidade de Angicos, na época, com quase 10 mil habitantes, dos quais 70% eram analfabetos. No Brasil, 39,6% da população total de 70 milhões de habitantes era analfabeta, de acordo com o Censo de 1960.

A experiência em Angicos começou em 18 de janeiro de 1963. Foram criados quinze “círculos de cultura” – como Freire preferia chamar as aulas de alfabetização – para receber as pessoas que se inscreveram, de artesãos a agricultores, de empregadas domésticas a pedreiros. Os alunos tinham entre 6 e 72 anos.

Os círculos de cultura foram instalados em escolas, residências e até em uma maternidade, conta André Gravatá na edição deste mês da piauí. As aulas aconteciam depois do horário de trabalho, a partir das sete da noite. Ex-alunos contam que, como não havia carteiras escolares suficientes, alguns levavam suas próprias cadeiras ou tamboretes. Trezentas pessoas foram alfabetizadas em 40 horas de curso.

Foto: Aventuras na História

O sucesso da iniciativa levou o presidente João Goulart à cerimônia de encerramento em Angicos, em 2 de abril de 1963. Pouco depois, Paulo Freire foi convidado por Goulart para liderar o Programa Nacional de Alfabetização (PNA), com uma meta audaciosa: alfabetizar 5 milhões de pessoas.

Enquanto isso, um rumor se espalhava em Angicos: que Paulo Freire era comunista e que os alunos deveriam queimar os cadernos para não serem presos. Os boatos e ameaças eram sinais do que viria a seguir: o golpe militar e a ditadura, que interrompeu o PNA, prendeu Freire por 72 dias, acusando-o de trabalhar contra os interesses da nação, e impôs seu exílio, que durou dezesseis anos.

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