Crônicas do domingo
Alguns ‘Traquinos’ do passado natalense… Gutenberg Costa – Pedagogo, Bacharel em Direito, Escritor e Folclorista.
Alguns ‘Traquinos’ do passado natalense...
Gutenberg Costa – Pedagogo, Bacharel em Direito, Escritor e Folclorista. A história, quando é séria, registra fatos, lugares e pessoas em quaisquer situações e épocas. Os chamados heróis ou bandidos merecem ser lembrados. Sejam temáticas agradáveis ou polêmicas é dever dos historiadores ou memorialistas tocarem nas ditas ‘feridas’ do passado. Confesso que fiz alguns cursos de História, mas sou mesmo um memorialista nato, que não deixa de rememorar tudo que eu vi ou ouvi. Sou pesquisador sem o dom de escrever ficção, embora seja leitor de contos, novelas e romances. Prefiro a história, como podem ver em minhas quase crônicas ou quase memórias! O grande cronista Carlos Drummond de Andrade dizia que era preciso chegar a uma certa idade para ter propriedade em falar do passado. São coisas de velhices e passados! Mas muitos não gostam e até nos ficham de saudosistas e radicais... Digo que a nossa biblioteca aberta, Dona Maria Estela, se parece com as feiras de Caruaru/PE e a do meu Alecrim, em Natal. Tem de tudo. E nessa linha temos alguns livros, como - O Crime e os Criminosos na Literatura Brasileira, de Lemos Brito; A Paixão no Banco dos Réus, de Luiza Eluf; Serial Killers no Brasil, de Ilana Casoy; Crimes Famosos no Brasil, de Paulo Jr e Crimes que Abalaram o Brasil, de George Moura e Flávio Araújo. Quem, na minha idade ou mais idoso, não se lembra dos ditos larápios famosos do seu tempo de criança e adolescente? Causavam-nos medo e espanto, principalmente durante as noites. Nossas protetoras mães nos advertiam dos possíveis surgimentos desses durante nossas alegres brincadeiras nas calmas ruas e calçadas da Cidade do Natal: Cuidado, menino, que o ‘diabo’ tá solto! E desse modo, cresci com medo do valente e lendário Pé Seco, apelido de João Batista da Silva. Negro alto e magro, apelidado assim por ter um defeito físico em um dos pés. Deu medo a muita gente em Natal nos anos 60. Era um ladrão famoso e temido das Rocas as Quintas. Foi preso e desapareceu sem biógrafo algum até hoje. Outro que também famoso nos anos 70 foi o macauense Piolho. Exímio larápio, cuja oralidade afirmava roubar uma carteira durante um simples abraço em alguém. Pé Seco e o Piolho, não matavam ninguém, só roubavam o que estivesse dando sopa em suas frentes, sem usarem das violências futuras. Na Ribeira velha de guerra, dos anos 70, tinha uma mulher prostituta apelidada de Cafufa. Morena magra com seu invejável vernáculo pornográfico. Bebia muito, roubava e causava homéricas confusões nos antigos cabarés que ainda restavam teimosamente em pé. Ela era assunto todos os dias na hora do almoço na Rádio Cabugi. Era divinamente interpretada pela saudosa amiga radialista e comediante Nice Fernandes no afamado programa Patrulha da Cidade. Lembrei todos esses apelidos e outros, no meu livro Dicionário Papa Jerimum de Apelidos e Afins, de 2001. O mundo da criminologia natalense nos deu até um santo canonizado pelo povo dos anos 60. João Baracho. Era o homem terror, principalmente, dos motoristas de carros de aluguéis, chamados de ‘praças’. Papai, Geraldo Costa, era um desses, conhecido como ‘Chofer’ e sua praça/ponto ficava na Rua Princesa Isabel, no centro da Cidade Alta. O João assaltou e matou muita gente. A lenda diz que morreu suplicando água e pedindo perdão a Deus, pelas mazelas feitas. Morreu em abril de 1962, na localidade do Carrasco, em um tiroteio com a polícia. Uma vez fui ver seu túmulo e me espantei com os ex-votos milagreiros deixados pelo povo que acredita ser Baracho, um Santo. Achei muito parecido os milagres com o que vi em outro santificado popularmente, o Jararaca, lá em Mossoró. Estudando o folclore religioso, aprendi a respeitar e não discutir a fé do nosso povo! Nos anos 80, tivemos o jovem Edmilson Lucas da Silva, apelidado de Brinquedo do Cão. Dizem que esse apelido foi lhe colocado pelo padre holandês ‘Pio’. Ele começara roubando o vinho do religioso. Morava no bairro de Lagoa Seca e causou muito aperreio a população de Natal. Uma vez vestido de mulher, o jovem fugiu da polícia. Era esperto e sábio nas fugidas e disfarces. Naquele tempo, Natal era guarnecida pelo RP, fusquinha preto e branco e pelas duplas andantes que eram apelidadas de Cosme e Damião. Era o ‘cão chupando manga’. Aparecia com fotos e causos todos os dias nos jornais Tribuna do Norte e Diário de Natal. Vivia com uma mulher apelidada de Branca. Casal, como dizia minha mãe, dona Estela, Tomé e Bebé. O mesmo, talvez, tenha influenciado um irmão mais moço na vida criminal que logo morreu e era apelidado de Brinquedinho. Tenho outros ilustres nomes que a história natalense esqueceu muito bem arquivada na minha bagunçada papelada em pastas. Isso é como aquela guloseima comestível infantil do meu tempo... Um eterno puxa puxa... Algum leitor ou leitora vai dizer na bucha: faltou fulano. Esqueceu sicrana... Não escrevo nada sobre Natal sem consultar antes o mestre Câmara Cascudo. Nem doido! Pois bem, dando uma espiada em seus volumes extraídos de suas importantes ‘Actas Diurnas’, observei que na pacata Natal ainda bem antes dos Xarias e Canguleiros, aparecem alguns nomes de verdadeiros traquinos, como diria a gíria popular do meu tempo. Entre outros, Cascudo faz menção ao espanhol João Manuel da paz, o qual ficou famoso pela alcunha de João da Paz. Causou até o dito: Ladrão como João da Paz, para classificar seus sucessores na arte de furtar. Do mesmo modo o memorialista Octávio Pinto, em seu livro Reminiscências, rememora quatros conhecidos ladrões da Natal tranquila de 1900/1913: Zetine, Bruneti, Negro Melado e Pedro Gato. O célebre Melado passava óleo no corpo para não ser agarrado e o tal do Gato era um mulato bem forte que, além de furtar as casas, se aproveitava sexualmente das vítimas femininas. Lenine Pinto, em seu trabalho Natal, cita o Pedro Gato e o Negro Melado também. Nem precisa dizer que esses dois deram serviços e fama ao policial apelidado de Joca do Pará. Lair Tinoco, em sua obra memorialística Tempo de Saudade, não esqueceu a fama do Negro Melado, que ninguém registrou o nome ou fim de vida ainda. E quem acaso estiver lendo estas histórias e recordações, pensará como eu: que saudade danada dessa Natal de pouquíssimos larápios nas cadeias. E diga-se, que danosa evolução não tivemos? Que a diga a minha neta, a qual nasceu há algum tempo e já vive assombrada em pleno dia lá por Natal e Nova Parnamirim! Nísia Floresta/RN, 30/08/2020. |
Ô saudade da gota (IV)
Rosemilton Silva – É jornalista
Apois num é que hoje comecei a “márrescordá” dos jogos de futebol com os “tivucos” de Jurandir e Deusdedith, das batidas de escanteio de Juvená Pé de Copa; dos peixinhos de Reco, dos dribles de Raimundo Preto, dos vôos de Zezim Cacheado e ainda da torcida de Pitico com seus tiques que afastavam todos ao redor dele.
Puxando pela memória sem muito esforço, dá pra ver Pedro de Tico com aquele pano de saco de estopa no ombro, “assugando” as calças pra vender um polí saído daquela bandeja de alumínio com um cabo para facilitar a retirada ou uma cerveja bem geladinha saída da geladeira a gás. Do sacolejar dos copos na bacia com água depois de servidos para serem colocados no “atajé” e atender o freguês seguinte.
Remoendo o pensamento vem uma saudade danada do puxa-puxa feito por Prima, do algodão doce de Lourival, do quebra queixo vendido por Zé Domingos, da tábua cheinha de pirulito vendido por Zé Nadir, do polí de cajá de dona Noca, do cachorro quente acompanhado do latido e do cuscuz vendidos por Juvenal Pé de Copa que também era flandeleiro e excelente consertador de panelas, tachos, bules, papeiros, caçarolas e frigideiras.
Atracado no porto da saudade ouço a voz de João Bosco desafiando o portinhol em Malagueña ou La Barca, Jandir Cruz soltando a voz em Sonhar Contigo, Geraldo Moura abrindo o gogó em Rosa, Dinarte temperando a garganta em Maria Helena, Fogão imitando um piston em Royal Cinema... Os violões de Antonio Aleixo, Zé Domingos, João de Luiz Passo... As sanfonas de Everaldo, Zé Guilherme, Dé de Moisés e Zé Galdino... O sax de Deusdedith, o clarinete de Hildebrando, a tuba de Manoel Pataca... Dá saudade até do chulé de “mestre” Oscar.
Rastejando nas lembranças do Bar do Ponto, vem o cheiro do café de Zé Garcia para animar as discussões debaixo daqueles caramanchões enfeitados com suas flores vermelhas, do som da “boca de ferro” em cima do Bar do Ponto da Difusora Irapuru com Nivaldo Mouco batendo na testa quando errava alguma coisa. Das vozes maravilhosas de José Maria Madrid – que andou até pelo Rio de Janeiro na Rádio Tupi, de Jandir Cruz e de João Leite. Do rádio de doutor Jonas e do relógio preciso de seo Horácio.
Encafifado com o lacrimejar dos velhos e bons tempos, dá pra ver os cangapés nas águas claras depois medir a subida das águas no rio, da pescaria com anzol feito de alfinete e amarrado em linha urso como diversão para melhorar o almoço, de soltar coruja feita de papel crepon e armação de palito de folha de coqueiro. Apois me dê licença, seo Minino, que eu vou ali na bodega de Pulucena na rua do Pecevejo antes de chegar na casa de Reginaldo Andrade pra me encontrar com Toinho Gabriel (Fogão), Renato, Joca Lindo, Deusdedith e Dinarte que hoje é dia de ensaio de “Os Impossíveis”.
Um Deus que se escandaliza com divórcio e perdoa estupro e assassinato
Cefas Carvalho – É jornalista
'Fazer o quê? Separar não posso, porque ia escandalizar o nome de Deus'. Segundo a polícia do Rio de Janeiro, isso foi o que escreveu a pastora evangélica e também deputada federal Flordelis. Como já se sabe, ela está envolvida no assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, no ano passado, em crime que chocou o Rio e a comunidade evangélica.
Mas, a história é bem mais bizarra. Na segunda-feira, nove pessoas, sendo seis filhos de Flordelis – um deles já estava preso – e uma neta dela, foram presos pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Flordelis foi denunciada, não podendo ser presa por ter imunidade parlamentar como deputada, e aguardará abertura de processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. A denúncia foi aceita na Justiça e ela é já ré no processo.
Entre as bizarrices que a história comporta, está o fato de que o ex-marido da deputada havia sido adotado por ela, e depois se relacionado com uma das filhas. Já se sabe que a trama familiar envolve sexo grupal e rituais, além de manipulações e chantagens. Enfim, um horror.
Mas, voltemos à frase que abre o texto: 'Fazer o quê? Separar não posso, porque ia escandalizar o nome de Deus'. Sim, sabemos que para os evangélicos (na verdade para os católicos, digamos, praticantes, também) o que Deus uniu o homem não pode separar, portanto, divórcio seria um pecado aos olhos do todo poderoso. E, claro, para uma pastora também pegaria mal na igreja e entre os fiéis e seria ruim para os negócios e para a política.
Partindo deste raciocínio - que ela se referia á opinião de Deus -o que assombra é a alternativa que ela optou para além do divórcio: O assassinato.
Não seria perdoável, claro, mas, seríamos menos rigorosos se houvesse acontecido o sinistro em meio a uma briga, uma discussão inflamada, troca de ofensas e agressões de ambos os lados, enfim, um crime passional.
Nada disso. O assassinato do marido que era ex-filho e ex-genro foi premeditado, calculado, planejado e armado para parecer um latrocínio. Inclusive voltaram à tona as imagens de Flordelis aos prantos no sepultamento.
Pode-se dizer que crimes bárbaros acontecem aos montes e que já vimos histórias como essa na crônica policial. Sim, mas assassinato como opção menos ofensiva a Deus e ao Mundo do que um simples divórcio, não, não vemos com frequência.
O que nos leva a pensar sobre este tipo de pensamento de Flordelis e de parte considerável dos evangélicos, em especial àquele ramo chamado neo pentecostal. Um pensamento que relê a Bíblia e o Código Penal com uma leitura muito particular (e deturpada). Onde, repito, assassinato é menos grave que divórcio. Que estupro é menos grave que um aborto necessário em uma criança de 10 anos que correria risco de morte com um parte. Ou alguém duvida que os religiosos que fizeram papelão na porta do Hospital são do tipo de Flordelis?
Um tipo de religiosos que parece ler mais o Antigo Testamento, com seus montes de estupros e mortes violentas, do que os Evangélios, onde temos um Jesus Cristo que prega o amor e que sentenciou: "Não julgueis para não serdes julgados". Gente que crê em um Deus que se escandaliza com divórcio e perdoa estupro e assassinato, como provoquei no título deste texto.
Não creio em Deus, mas, se ele existir, que me mantenha bem distante de gente como Flordelis e dos religiosos que chamaram a criança de assassina. Assim como Jesus, prefiro ficar entre os pecadores.
Lembranças da casa da minha avó
Nadja Lira – Jornalista, Pedagoga, Filósofa
Ultimamente me pego lembrando a rotina diária na casa da minha avó. A lembrança é tão forte, que chego a sentir o aroma das comidinhas feitas por ela, e então me sinto invadida por uma saudade gostosa, de um tempo bom que certamente não volta mais. Minha avó era especialista em inventar “comidinhas”, como ela mesma definia, já que eu dava muito trabalho para comer alguma coisa, diferentemente de hoje.
Assim, recordo o almoço servido aos sábados – dia de feira em João Câmara – a cidade onde morávamos. Dia de feira em cidade do interior é um dia de festa e requer comida especial. O cardápio na casa de vovó era composto por farofa de feijão verde com carne de carneiro, prato que tem o sabor da minha infância e que eu adoro até hoje.
Aos domingos, o almoço também era especial e reunia todos os filhos, noras, genros, netos e primos em torno da grande mesa da cozinha. O cardápio do domingo era formado por um delicioso pirão batido na tigela, acompanhado por arroz branco e uma enorme perna de boi. Ao meu avô, sentado à cabeceira da mesa, cabia a responsabilidade de bater a perna do boi, para a retirada do tutano – gordura pura - que todos saboreavam sem qualquer preocupação com o colesterol.Depois do almoço todos se sentavam na sala de estar, para ouvir meu pai tocar trombone, acompanhado pelos pífanos tocados por meu avô e meu tio.
Havia domingos em que vovó decidia mudar o cardápio. Pegava, então, algumas das galinhas que criava no quintal, e fazia galinha à cabidela. Nessas ocasiões o prato principal era diferente, mas delicioso do mesmo jeito e tanto eu quanto os meus primos comíamos à vontade, para sossego de nossos pais.
O jantar na casa de vovó também era momento de festa. Especialmente para as crianças. Nossa comida favorita era farofa d´água com carne de sol assada na brasa – prato típico e caro nos restaurantes potiguares.Toda a comida feita por minha avó era preparada num enorme fogão à lenha, o que dava um sabor especial aos alimentos. Mesmo depois de ganhar um fogão à gás, ela preferia cozinhar no velho fogão de lenha, hábito que manteve enquanto teve forças.
O café era outra de suas especialidades e tinha um sabor bastante especial. Ela comprava os grãos, que torrava no fogão à lenha e depois pilava num enorme pilão, cujo barulho ainda consigo ouvir. Basta fechar os olhos. Mas nós, as crianças, não tomávamos café na casa de vovó. Ela dizia que queimava os neurônios e isso dificultaria o nosso rendimento escolar.Ninguém questionava. Apenas obedecia. Os adultos, porém, deliciavam-se tomando cafétorrado em casa, prazer que eu só pude comprovar depois que me tornei adulta.
Outra comida que a gente adorava, era uma tal de “mala assada” –espécie de omelete feita com farinha de mandioca, ovos e charque picada, que a garotada comia de boca cheia. Sempre que a gente fazia “birra” para não comer, nossas mães recorriam às comidinhas de vovó e tudo virava uma festa.
A hora do lanche era outro momento inesquecível e cuja lembrança me enche a boca de água. Uma das delícias produzidas pelas mãos de fada da minha avó era um doce feito de coco com mamão, que agradava às crianças e aos adultos.
Para meus primos e eu, a casa de vovó era sinônimo de festa, alegria e comida gostosa. Além do mais, vovó era muito carinhosa com todos nós, enquanto vovô nos contava as histórias de suas famosas caçadas na Serra Verde, aventuras que até hoje vivem em nossa memória.(02.06.2011)
Périplo do Sábado pelos bares e restaurantes de Mipibu
Júnior Rebouças - É radialista e blogueiro em São José de Mipibu
Um pouco antes do término da feira, depois de já ter comprado a goma da semana e o bolo que a madame pediu, ele dá uma paradinha em Dona Nalva na Marron Glacê, conversa séria, boa, um cafezinho e pé na bunda.
Na sequência chega-se em Dona Quinininha, por trás da rodoviária, lá se sabe das últimas resenhas, bate um papo com o pessoal do jogo e motoristas, toma aquele caldo de peixe reforçado e pegue mais conversa e segue a estrada.
Passa em Joinha, mas hoje não tem carteado, ele tá preparando a bancada do almoço, ainda todo enjoado. Pergunta o placar do futebol, o resultado do bicho, um tiquin de papo tosco e vai embora pertubado.
Os trabalhos efetivamente se iniciam no Caipira, em Nélio e Eumarques, reduto tradicional de encontro da turma, junto com filhos e esposa. E pra aliviar um pouco a tensão da molecada, pede-se logo tripa assada, carneiro torrado, caldo de camarão e uma galinha refeição. Produto e atendimento diferenciados em qualquer situação. Eis aí a questão! Conversa já rolando solta, suave, naquela ventania da mesa do fundo, mulher, homem e menino, todo mundo falando junto, tem muito papo, risada e descontração, ninguém para um segundo é só animação.
Já chegando em meados da tarde, o cortejo marca encontro em Dona Zezé. Manuel Auto Peças chegou antes e já está tomando seu whiski acompanhado de uma pratada de mocotó, pense num negocin bom. Todo mundo já devidamente sozinho, alguns já alegres, outros em pé. Chegando lá, é pedido uma galinha petisco e a cerveja mais gelada, quero uma cadeira na sombra perto de Manuel, mesmo que seja a quebrada, nem é necessário mais cardápio, ela já conhece toda aquela rapaziada. Mesmo com o inconveniente do sol, a alegria já contagiou a todos e a conversa soa leve e mais alta, a zoeira tá grande nessa hora, Dona Zezé servindo, nada na mesa ela deixa faltar. O tempo vai passando e depois da tardinha, já começam os primeiros a desertar. Vá em paz e pra casa não mude o caminho não, não entre na vizinha.
A passagem por Pinha é rápida, só o tempo de comer uma dobradinha, uma língua, falar um pouco e se atualizar das coisas das cavalgadas.
E a mundiça segue rumo às ladeiras do Bela Vista. Novamente remarcam para Zezinho do Violão, onde Manezin já os aguarda com uma mesa farta, num ambiente bucólico, no meio do verdão, naquele arvoredo acolhedor, isso já chegando a noitinha, começa a seresta com Zezinho cantando, tem caldo de ova, carne, peixe, cerveja geladinha, cada um pedindo música, o povo falando, muita piada… agora é festa, diversão, vira uma farra danada.
E no avançado da hora, já é momento de partir novamente, encontrar com a Cumadi e os filhos lá no Espetinho do Marcos, churrasquinho e petisco de primeira, bem quente e novinho, conversa boa, ambiente saudável. Alguns já totalmente a vontade, tem o gastoso, o risonho e o gaiato, um tiquin de proza com Clóvis. É o apogeu do encontro daquela confraria e nesse exato momento a alegria é geral, todo mundo se cumprimentando e se encontrando por ali, papeando na maior alegria e astral.
E pra fechar a noite de mais um sábado, bebendo aquela expulsadeira, tem que passar em Eduardinho, para lanchar, tomar açaí ou sorvete. E uns já cochilando, imploram pra ir embora, já tá na hora, quero dormir, e outros ainda pedindo a emboradeira e de novo mais uma saideira. Aí a confusão tá formada. Depois de ponderar e entrar em consenso, ânimos apaziguados, todo mundo acalmado, bem pensado, é melhor terminar a noitada.
Os mais jovens e resistentes, como eu, ainda não se dão por vencidos, vão dar uma última passada pela Gruta, escutar reague, rock pesado, dançar, ver gente nova, azarar, barulho, zoada, muito ruído. Mas lá pelo início da madruga, não tem mais jeito não, agora tem que ir pra casa. Dar aquela dormida, descansada.
Domingo, acorda, ressaca?
Não!
A galera vai pra Fábio Couto, tem caldo da caridade e aquele churrascão.
De leve…