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maio 14, 2023

Confissões de Agostinho

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa Agostinho escreveu uma obra vasta, mas é de extrema importância que o livro “As Confições” seja lido por todos e em especial, pelos estudantes de Filosofia e Teologia.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

Agostinho escreveu uma obra vasta, mas é de extrema importância que o livro “As Confições” seja lido por todos e em especial, pelos estudantes de Filosofia e Teologia. Em primeiro lugar, porque Santo Agostinho, autor da obra, é considerado como um dos maiores filósofos da história. Seu pensamento exposto na publicação ainda influencia aos que estudam Filosofia na atualidade. A obra mostra a coragem, determinação e a genialidade de um homem que dedicou sua vida a Deus e à busca pela sabedoria. Sua leitura, portanto, é essencial para uma discussão no que tange a um entendimento da ética cristã.

Ao longo da publicação, Agostinho aparece valendo-se de três nomes: Aurélio, Aurélio Agostinho e Agostinho. Cada nome retrata um período de sua vida. Assim, Aurélio é o homem das vivências – aquele que experimenta o pecado. É o retrato de Santo Agostinho antes de sua conversão. Aurélio Agostinho é o homem da crise, da análise, do pesar. É o retrato de Santo Agostinho quando faz análise dos seus feitos, erros e acertos. Agostinho é o homem da sabedoria e do caminho reto. É o retrato do Agostinho filósofo – santo e doutor da Igreja.

Segundo Agostinho, a razão ajuda o homem a alcançar a fé. A fé orienta e ilumina a razão. A razão, por sua vez, contribui para esclarecer os conteúdos da fé. Desse modo, ele traça fronteiras entre os conteúdos da revelação cristã e as verdades acessíveis ao pensamento racional.

Para ele, o homem é uma alma racional que se serve de um corpo mortal e terrestre. Ele também distingue dois aspectos na alma: a razão inferior e a razão superior. A razão inferior tem por objetivo o conhecimento da realidade sensível e mutável. É a ciência, conhecimento que permite cobrir as nossas necessidades. A razão superior tem por objeto a sabedoria, isto é, o conhecimento das ideias, do inteligível, para se elevar até Deus. É nesta razão que repousa a iluminação de Deus.

Agostinho procura uma filosofia que ele entende como sendo o caminho para a felicidade, capaz de englobar o cristianismo e a salvação. Adota algumas posições dos seguidores de Platão, como a concepção de dois níveis de conhecimento: um através dos sentidos e outro percebido unicamente pela razão.

A concepção de Deus para Platão era a de um Deus do intelecto. Para Agostinho, Deus pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Enquanto para Platão o homem é definido como uma alma que se serve de um corpo, o homem em Agostinho é inquieto e sempre busca algo.

Esta busca, segundo Agostinho, é Deus que o homem encontrará no seu interior. Daí a importância da interioridade. Em Platão existem dois mundos: o Mundo Sensível e o Mundo das Ideias. Em Agostinho existem duas cidades: Cidade dos Homens e Cidade de Deus.

Mas, agostinho deixou uma questão em aberto: A questão do mal – assunto amplamente discutido ao longo dos séculos sem chegar à uma resposta satisfatória. A concepção que ele tem do mal, tem como base a teoria platônica.

Assim, o mal não é um ser, mas a ausência de outro ser – o bem. O mal é aquilo que “sobraria” quando não existe mais a presença do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto, o mal não seria oriundo da criação divina, mas seu antagonista por excelência, na condição de fruto do seu afastamento.

Agostinho explica que a origem do mal está no livre arbítrio concedido por Deus, porque Deus, em sua infinita perfeição quis criar um ser que pudesse ser autônomo, consciente, e assim, escolher o bem de forma voluntária.

O homem, então é o único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em si mesmo e na natureza. O homem, portanto, é um ser capaz de escolher entre algo bom – proveniente de Deus em uma criação perfeita – e algo mau – a prevalência das vontades humanas imperfeitas e que afetam negativamente a criação da perfeição idealizada por Deus.

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