Com versos de Chico
João Maria de Lima – Mipibuense, professor e Diretor da Escola da Assembleia Legislativa do RN Texto baseado nos versos das canções A banda, Valsinha, As vitrines, João e Maria, Para todos, A volta do Malandro, Todo o sentimento, A noiva da cidade, Cotidiano, Futuros amantes, Construção, de Chico Buarque.
João Maria de Lima - Mipibuense, professor e Diretor da Escola da Assembleia Legislativa do RN
Texto baseado nos versos das canções A banda, Valsinha, As vitrines, João e Maria, Para todos, A volta do Malandro, Todo o sentimento, A noiva da cidade, Cotidiano, Futuros amantes, Construção, de Chico Buarque.
Uma moça estava à toa na vida. De repente, um antigo pretendente se aproximou. Ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar, e disse: “Eu te vejo sair por aí. Te avisei que a cidade era um vão. Tu passas em exposição, passas sem ver teu vigia. Parece que vais catando a poesia que entornas no chão”. E prosseguiu na investida: "Agora eu era o herói, e o meu cavalo só falava inglês. A noiva do cowboy era você além das outras três. E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz”.
“Não, meu senhor, a viola não lhe redime. Creia, ilustre cavalheiro, contra fel, moléstia, crime, use Dorival Caymmi, vá de Jackson do Pandeiro”, disse ela. E continuou: “Para mim, não passas de um *malandro na praça outra vez, caminhando na ponta dos pés, como quem pisa nos corações que rolaram dos cabarés, entre deusas e bofetões, entre dados e coronéis, entre parangolés e patrões”.
Ele não deixou por menos: “Tenho um remédio para um coração mesquinho, contra a solidão agreste: Luiz Gonzaga é tiro certo, Pixinguinha é inconteste. Tome Noel, Cartola, Orestes, Caetano e João Gilberto”.
Ao dizer isso, ele "olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar e nem a deixou só num canto e, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar".
Foi uma cena linda. E olha que eu já "vi cidades, vi dinheiro, bandoleiros, vi hospícios, moças feito passarinho avoando de edifícios”. Porém nada como aqueles dois. Ela, “com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar”. Ele, como bom conquistador, começou a fazer-lhe promessas: "Prometo te querer até o amor cair, doente”. “Depois os dois deram-se os braços, como há muito tempo não se usava dar, e, cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar.”
Contudo, esse clima não durou muito. Primeiro, ele começou a reclamar dela. Chamou-a de moça descuidada: “Ai, como essa moça é descuidada, com a janela escancarada, quer dormir impunemente”. Depois, passou a reclamar da rotina: "Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã”.
Cansada disso tudo, ela desistiu sob o argumento de “que nada é pra já, o amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio”. Ele ainda tentou se redimir: “-Dá tua mão. -Olha pra mim. -Não faz assim. -Não vai lá não”. E seguiu com promessas: “Pretendo descobrir no último momento um tempo que refaz o que desfez, que recolhe todo sentimento e bota no corpo uma outra vez”.
Mas *"agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim"*, pois ela *"sumiu no mundo sem avisar"*, e ele *“era um louco a perguntar: ‘O que é que a vida vai fazer de mim?’”*
Ele sabia que "amou daquela vez como se fosse a última. Então atravessou a rua com seu passo tímido, bebeu e soluçou como se fosse um náufrago e flutuou no ar como se fosse um pássaro e se acabou no chão feito um pacote flácido, morreu na contramão atrapalhando o tráfego”.
Gostei do texto. Estarei preparando o meu em homenagem ao rei Roberto Carlos quero que publique em 18 de abil.