Com derrota do PT e aliados de Bolsonaro, eleição aponta despolarização
Um balanço do segundo turno das eleições municipais não altera as tendências apontadas pelo primeiro: houve uma despolarização política, que mostra a resiliência do sistema democrático brasileiro, apesar das ameaças de retrocesso autoritário observadas em alguns momentos recentes da vida nacional.
Um balanço do segundo turno das eleições municipais não altera as tendências apontadas pelo primeiro: houve uma despolarização política, que mostra a resiliência do sistema democrático brasileiro, apesar das ameaças de retrocesso autoritário observadas em alguns momentos recentes da vida nacional. Destaque para o fato de que a apuração dos pleitos não teve os atrasos do primeiro turno, o que enfraquece as críticas ao sistema de urnas eletrônicas, protagonizadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Os partidos de centro-esquerda e centro-direita saíram fortalecidos: MDB, PSDB, DEM e PP, principalmente, somando novas capitais ao bom resultado obtido no primeiro turno.
Grande derrotado no primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro não conseguiu se recuperar no segundo, apesar da vitória de alguns poucos aliados, como Delegado Pazolini (Republicanos), em Vitória. Seus aliados mais importantes, Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio de Janeiro, e Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, perderam. Engana-se, porém, quem imagina que o chefe do Executivo virou um pato manco. Tendo o governo federal sob seu controle, ele pode mitigar essas derrotas. E continuar sendo o mais forte candidato a uma vaga no segundo turno das eleições de 2022.
A reeleição líquida e certa de Bolsonaro, porém, foi o sonho de uma noite de verão. Teria de fazer tudo certo e contar com muita sorte até lá, o que não é muito provável, por causa do histórico de trapalhadas na Presidência e porque as circunstâncias (crise sanitária, volta da inflação, desemprego em massa) ainda são muito desfavoráveis para o seu governo. De qualquer forma, são potenciais aliados de Bolsonaro os prefeitos eleitos em Rio Branco, Tião Bocalom (PP); Manaus, David Almeida (Avante); João Pessoa, Cícero Lucena (PP); Belo Horizonte, Alexandre Kali (PSD); e Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD). Sem partido, Bolsonaro é assediado pela cúpula do PP para que dispute a reeleição pela legenda; já o PSD pode derivar em direção à oposição.
A esquerda
No outro extremo do espectro político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sai enfraquecido do segundo turno, que não confirmou a tendência de recuperação apontada no primeiro. As derrotas de Marília Arraes, no Recife, e de João Coser, em Vitória, deixaram o partido sem nenhuma prefeitura de capital. Além disso, a emergência da liderança de Guilherme Boulos, na disputa de segundo turno em São Paulo, e a vitória de Edmilson Rodrigues, em Belém — ambos do PSol —, quebram o hegemonismo do PT no campo da esquerda.
O triunfo de João Campos (PSB), no Recife, em eleição disputadíssima, na qual a hegemonia do clã Arraes esteve ameaçada, deixará sequelas para o relacionamento do PSB com o PT. O maior ponto de contato entre os dois partidos foi o apoio do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, ao candidato do PT em Vitória, mas a derrota do petista João Coser inviabiliza esse eixo de aliança. Sem um nome próprio para disputar a Presidência, o PSB deriva na direção de Ciro Gomes, o pré-candidato do PDT, um dos grandes vitoriosos do segundo turno no campo da esquerda. Venceu em Fortaleza, com Sarto Nogueira, e em Aracaju, com Edvaldo Nogueira. Em ambas as capitais, sinaliza o sistema de alianças que pretende construir para sua candidatura, mais amplo do que o do PT, que está perdendo espaço, também, para o PSol.
O centro
Já o MDB obteve um resultado espetacular no segundo turno, elegendo Arthur Henrique, em Boa Vista; Emanuel Pinheiro, Cuiabá; Maguito Vilela, Goiânia; Sebastião Melo, Porto Alegre e Dr. Pessoa, Teresina. Com isso, em número de prefeituras, ultrapassa o DEM e o PSDB, que elegeram quatro prefeitos de capital, cada uma. O MDB ainda é o fiel da balança no Congresso, mas não tem um projeto próprio para a Presidência. Em contrapartida, pela projeção estratégica, as vitórias de Bruno Covas, em São Paulo, e Eduardo Paes, no Rio de Janeiro, desequilibram o jogo a favor do PSDB e do DEM, respectivamente.
O PSDB venceu, também, em Natal, com Álvaro Dias; em Palmas, com Cinthia Ribeiro; e Porto Velho, com Hilton Chaves. A manutenção da Prefeitura de São Paulo, porém, por causa de sua importância, fortalece a candidatura do governador tucano João Doria à Presidência. Já a vitória de Eduardo Paes, na Prefeitura do Rio de Janeiro, coroa um desempenho excepcional do DEM que, no primeiro turno das eleições, conquistou as prefeituras de Florianópolis, com Gean Loureiro; Curitiba, Rafael Greca; e Salvador, Bruno Reis. A cúpula da legenda namora a candidatura à Presidência do apresentador Luciano Huck, cuja filiação à legenda disputa com o Cidadania. (Luiz Carlos Azevedo -Correio Braziliense)