Casas e casarões de São José de Mipibu
Este prédio, situado na Praça Desembargador Celso Sales, em São José de Mipibu, funciona , atualmente, o Shopping Popular.
Este prédio, situado na Praça Desembargador Celso Sales, em São José de Mipibu, funciona , atualmente, o Shopping Popular. Mas, antes foi o único cinema que teve na cidade.
Neste artigo escrito pela professora e pesquisadora Lúcia Amaral, vamos dar um passeio ao passado para conhecer esse antigo casario centenário de São José de Mipibu:
"São José de Mipibu só veio conhecer o cinema – com todo o seu poder de sedução – na década de 40, quando um visionário e apaixonado pelas inovações tecnológicas além de incentivador da cultura, chamado Mário Pessoa Guimarães, que residindo na cidade e sonhando vê-la próspera e inserida na modernidade, trouxe os primeiros “artefatos” para montar uma sala de projeção de filmes.
O local escolhido para isso foi o Teatro do Centro Artístico Operário, que passou a se chamar “Cine Teatro Artístico Operário”, ponto máximo da cultura da cidade de São José de Mipibu, à época. Solo sagrado dos artista da cidade – mesmo que amadores -onde realizavam-se peças teatrais, shows musicais e demais apresentações culturais.
Foi nesse local que Mário Pessoa Guimarães fundou o primeiro cinema da cidade, com o nome de Cine Barão de Mipibu (nessa época, só tinha o velho Grupo Escolar, com esse nome). O primeiro filme a ser exibido foi “Rebeca, a mulher inesquecível.”
No entanto, essa inovação (o cinema) não fazia parte da cultura e do cotidiano da população conservadora, patriarcal e rural do município. Assim, não havia público suficiente para manter em funcionamento “a sétima arte” na cidade. O proprietário, para não deixar morrer o seu sonho, com esperança de acostumar a população com a inovação tecnológica mais fascinante do momento, convidava os amigos para assistirem aos filmes sem pagamento.
O Cine Barão de Mipibu faliu pouco tempo depois, fechando as cortinas de uma cultura que em São José de Mipibu, só renasceria uma década depois, com o paraibano, Décio Pereira da Silva, que reabriu o cinema, com o nome “Cine São José”.
Além de filmes, o Cine São José foi palco para grandes apresentações de artistas famosos da época, como Valdik Soriano, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Trio Irakitan e tantos outros.
O Cine São José foi a alegria e o lazer da cidade, notadamente das crianças e jovens estudantes. Décio lutou com muito esforço para que o cinema prosperasse e os amantes da arte se beneficiassem com belas películas épicas e os famosos faroestes que a todos encantavam. Não tinha patrocinadores nem o apoio dos órgãos públicos.
O único funcionário era o sobrinho Pedro Brito, embora tivesse os “voluntários” amarrados em cinema como Josuete Alves (Fu), Café, Valdir Cabral, Ivan Lira e Segundo Estevão, para citar apenas alguns que ajudavam em troca “da entrada”.
Era uma bela época onde a palavra valia mais do que qualquer papel assinado. Era assim que os voluntários ajudavam a projeção dos filmes, sem reclamarem seus direitos trabalhistas que hoje substitui a palavra, a amizade e a consideração entre os seres humanos.
Quem não lembra do Gordo e o Magor“, Tarzan, Hapolong Cassyd, os famosos faroestes com milhares de índios e com revólveres que nunca faltavam balas e nem por isso, deixavam de atirar.
E a famosa cortina vermelha que separava a entrada da plateia, onde os casais de namorados se refugiavam para alguns momentos de intimidade. Vivia-se numa época de repressão total dos pais sobre os filhos, melhor dizendo, sobre as filhas. Daí, a oportunidade era no cinema mais, precisamente, atrás da cortina. Mas as intimidades, não passavam de alguns beijinhos mais calientes, até porque tudo era pecado.
Esse era o Cine "São José". Quem pode esquecer as músicas de Bienvenido Granda, Sukiaki e outras músicas que eram oferecidas aos namorados, antes da sessão do cinema ser iniciada? Já se conhecia o “prefixo” musical que indicava o início da projeção e todos aguardavam ansiosos.
E quando tudo parecia bem, a fita se quebrava, as luzes eram acesas e pequenos flagras eram feitos dentre os casais apaixonados. Quem não tinha namorado, aproveitava para ir comprar pipoca ou balas. E tudo recomeçava tranquilamente onde o sonho e a realidade não tinham fronteiras, onde podia-se dar asas à imaginação e se ver projetado na tela grande de “Cinemascop”, do Cine São José.
Em 1968 Décio vende o cinema para João Nunes e se muda para a cidade de Belém/PA, depois para o Maranhão, onde os filhos residem.
Faleceu em 1997, aos 76 anos de idade.
*Com informações de Lúcia Amaral ecolaboração dos familiares de Mário Guimarães e de Décio Pereira da Silva
Excelente crônica , que me reportou aos anos 60 ao relembrar algumas das músicas que hoje são jóias clássicas do cinema – e com as quais o “Cinema de Seu Décio ” nos brindava , geralmente avisando que o filme estava prestes a começar. Essas duas são para mim e certamente para muitos dessa época, são
verdadeiramente inesquecíveis: AFRIKAAN BEAT – (Bert Kaempfert – 1961 ) e THEME FROM A SUMMER PLACE – ( Percy Faith – 1965 ). Obrigada, Seu Décio, por já naquela época ter
brindado a nós mipibuenses com ” a boa música ” , que generosamente
se espalhava até aonde se pudesse ouvir . Bons tempos, aqueles ! Bons tempos ,aqueles ! Elza Freire.
Boas lembranças eu tenho desse cinema. Tbm a tarde quando sentava numa roda q tinha na praça pra escutar as músicas de Nelson Gonçalves. Era bom demais
A queridíssima amiga, e historiadora, Lúcia Amaral nos brindando com uma viagem no tempo.
Tempo de romantismo ingênuo e de descobertas juvenis, onde o cinema se inseria como novidade cultural e de lazer, naquela São José de Mipibu inesquecivelmente pacata e acolhedora.
Particularmente, sinto saudades daquela época.