CANJICA, CANJIQUINHA E CANJICÃO

janeiro 29, 2023

Ricardo Moura Sobral, advogado.

Ricardo Moura Sobral, advogado.

O Kaba estava deitado na rede  jiboiando, com controle remoto na mão, assistindo um jogo qualquer da copa, desses jogos mornos, burocráticos, sem entusiasmo maior.

A mulher mexendo nas coisas na cozinha, aqui e acolá um estalo de metal  paneloso, uma xícara espatifada no chão.

Nada de extraordinário naquela tarde pachorrenta; nada que prenunciasse que em instantes o tempo iria fechar.

- Amor, quer canjica? Tá bem quentinha, do jeito que você mais gosta.

- Filha, canjica não combina com cerveja. Obrigado. Depois...

- Mas amor... insistiu a "crionça" em meio ao vapor exalado da panela.

Bateu uma crise de consciência no animal cervejeiro. Então, cai-lhe na telha a ideia de que ela havia preparado a iguaria junina para ele.

- Tá bem. Aceito. 

-  Maravilha. Sirvo já. Quer num prato de sopa ou raso?

- Não, minha branca, menos... Quero só uma fatia.

- Tá bem, amor. De que tamanho?

- Do tamanho de sua...

- Safado! Eu levo.

- Filhaaaaa; corte a metade.

Quinze minutos depois o kaba foi atendido na urgência do Hospital Walfredo Gurgel, com queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus.

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