A VÍRGULA QUE MATOU UM HOMEM
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filosofia Na minha atuação em sala de aula, não me utilizo apenas dos conhecimentos adquiridos através dos cursos realizados na área da Educação.
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filosofia
Na minha atuação em sala de aula, não me utilizo apenas dos conhecimentos adquiridos através dos cursos realizados na área da Educação. Valho-me também de tudo aquilo o que tenho aprendido durante a minha vida e, especialmente, de todas as lições que recebi do meu pai. Afinal, ele foi o grande responsável pelo meu interesse na prática da leitura e da escrita, bem como foi graças a ele, que passei a me interessar pelo estudo da Filosofia.
Foi graças a meu pai que tomei conhecimento da Mitologia Grega e seus personagens maravilhosos, cujas explicações respondem a quase todas as perguntas que nos fazemos sobre a origem das coisas. Também foi a graças a ele, que descobri as maravilhosas poesias de Cassimiro de Abreu, Manoel Bandeira, Mário Quintana e tantos outros.
Lembro-me com saudade e profunda gratidão, os textos que ele lia para mim todos os dias e que contribuíram não apenas para despertar o meu interesse pela leitura, mas para me tornar uma pessoa mais criativa, mais crítica e com maior capacidade de concentração.
Todos os que trabalham com Educação, sabem os benefícios que a leitura leva a uma criança e por isso, cultivo o hábito de ler todos os dias para os meus alunos, seguindo o exemplo ensinado por meu pai.Meu grande interesse é fazer por eles, o mesmo que meu pai fez comigo, possibilitando-me embarcar numa viagem mágica através do mundo das letras e me tornando capaz de escrever minhas próprias histórias. Criar meus próprios personagens.
Nenhuma palavra, por mais expressiva que seja, pode expressar a alegria que me invade a cada vez que um dos meus alunos consegue escrever seu nome sem precisar de uma “cola”. Quando, então, eles conseguem escrever uma frase e aos poucos escrevem uma poesia ou uma pequena história, sinto-me como se conquistasse o paraíso.
Nestas ocasiões não tenho dúvidas de que Deus me enviou para o mundo com objetivo de realizar esse trabalho: estimular crianças ao mundo mágico da leitura e da escrita. É um trabalho de formiguinha, extremamente lento, e demasiadamente estressante. Mas, o prazer obtido ao final, é imensurável e me dá a certeza plena de eu não vivo em vão. Deus me deu uma grande missão.
Guardo no HD da minha memória, uma infinidade de histórias, que meu pai lia para mim. A cada vez que remexo no baú das lembranças, chego a ver o livro de capa verde em cujas páginas meu pai viajava comigo através das histórias que lia. E, como as boas histórias não envelhecem jamais, conto as mesmas histórias para os meus alunos e elas fazem um enorme sucesso.
Nas aulas de português, por exemplo, para ensinar a importância do uso da vírgula, conto uma das histórias que ouvi do meu pai. Como quem conta um conto aumenta um ponto, eu vou aumentando pontos, vírgulas, exclamações e interrogações, de forma que a aula acaba se transformando numa grande brincadeira.
Segundo a história do meu pai, havia um reino cujo rei era completamente analfabeto, mas para resolver este problema, ele pagava um grande salário a um secretário. O rei, porém, era muito cruel e por qualquer motivo, condenava seus súditos à morte.
Certo dia, ele condenou à morte, um homem que tinha muitos filhos. Quando a esposa dele soube da condenação, levou todos os filhos para mostrar ao rei e pedir clemência. Se o Marido morresse, ela não teria como cuidar sozinha de todas aquelas crianças.
O rei ficou compadecido pela situação da mulher e decidiu poupar a vida do homem. Mas, ele já havia enviado o condenado para o cadafalso. Imediatamente, o rei chamou o secretário e pediu que ele escrevesse um bilhete para o carrasco, onde dizia: Não mate este homem! Assinado, o rei.
Na hora de escrever, o secretário que não era assim tão bom em pontuação, escreveu: Não, mate este homem! Assinado o rei.
A mulher pegou o bilhete e correu o mais rápido que pode, para entregá-lo ao carrasco. Ele leu e mais rápido do que um raio, desceu o machado e cortou o pescoço do homem. A pobre mulher chorando, perguntou ao carrasco a razão pela qual ele não seguiu a ordem do rei poupando a vida do marido dela.
O carrasco mostrou-lhe o bilhete e ela compreendeu: uma vírgula errada pode custar o pescoço de um homem.
Nadja Lira, muito bom e bem oportuno o seu texto. Lamento o quanto se deixa a desejar o escrever corretamente.
Nadja Lira. Que bonito sua crônica. Sua história de vida em relação ao contato com o mundo da leitura através do seu pai é comovente. Seus alunos são privilegiados. Sua missão de despertar o prazer da leitura é nobre e gratificante. A sociedade agradece. Realmente,a leitura é o caminho para se aprender a nos conhecer e conhecer o outro na perspectiva de uma convivência mais sociável possível. Que todos os professores e professoras de todas as aéreas tenham na leitura o atalho mais seguro para uma sociedade mais democrática.