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janeiro 7, 2024

A LUA DAS FLORES

NILO Emerenciano – Arquiteto e escritor Pronto! Passaram, afinal, os festejos natalinos.

Assassinos da Lua das Flores: conheça a história que inspirou novo filme de Martin Scorsese

NILO Emerenciano - Arquiteto e escritor

Pronto! Passaram, afinal, os festejos natalinos. Estamos em um ano novo que apenas se inicia. Respira-se, certamente, ares melhores. Lula na presidência com certeza faz diferença. Muita diferença. Não que isso seja difícil, tendo em vista a ausência de qualidades do seu antecessor.

A gente sente nas ruas e nos becos, feiras e supermercados, nos preços do leite, dos queijos, da carne. Já sobra uma laminha de dinheiro para a picanha no fim do mês. Mas, principalmente, porque sumiram aqueles arroubos autoritários, aquela linguagem chula, aquela gente enlameando a camisa da seleção brasileira de futebol.

E isso é, sim, pra comemorar. Sei que é cedo. Lembra a piada do homem que salta do vigésimo andar de um edifício e ao passar pelo décimo, diz, sorrindo: - Até aqui tá tudo bem.

Mas enfim, vamos falar de livros e de cinema, pois estamos em ritmo de férias e de verão.

Está pintando o filme de Scorcese, sério candidato ao Oscar, O Assassino da Lua das Flores. O título já atrai. Na verdade, a Lua das Flores diz respeito ao mês de maio, que para os indígenas da nação  Osage, residentes no nordeste do estado de Oklahoma, nos EUA, é tempo da lua que mata as flores que vicejam nas pradarias. 

Filme O Assassino da Lua das Flores

Não vi o filme ainda, mas aguardo com expectativa. O livro que dá origem ao filme, de David Grann, Assassinos da Lua das Flores, no entanto, li e recomendo com entusiasmo. Trata de uma história para nós - e também para os americanos do norte – desconhecida ou ignorada, o assassínio sistemático e cruel de componentes de uma tribo, os Osage, que tangidos de reserva em reserva foram finalmente alocados em uma área inóspita, árida e pedregosa do estado do Oklahoma. Ocorre que nesse local perdido do mundo surgem ricas reservas de petróleo, fato que vai representar a riqueza daqueles nativos e também atrair sobre si a inveja, o ódio e a cobiça dos brancos inescrupulosos, ditos civilizados.

Lily Gladstone é destaque do filme (Imagem: Reprodução/Paramount Pictures, Apple)

E aí começam os assassinatos de famílias inteiras dos Osage proprietários de terras ricas em petróleo. O livro centra suas pesquisas na família de Mollie Burkhart, e na morte de sua irmã, Anna. Na sequência vamos saber do assassinato também da mãe de Mollie, e de outros componentes da família, 24 pessoas, no total. Para isso são usados todos os meios: envenenamentos, acidentes, tiros, explosões que matam famílias inteiras, além de que os assassinos contam com uma rede de médicos, juízes, polícia corrupta e a indiferença de uma população que encara a morte de índios como algo corriqueiro. Índio bom é índio morto, já dizia um militar das tropas americanas, no século XIX.

Jesse Plemons como o agente Tom White (Imagem: Reprodução/Apple, Paramount Pictures)

Os responsáveis pelas mortes só são apontados com a intervenção do FBI, ainda em fase de estruturação sob a direção de Hoover. Uma força tarefa se instala na região e persegue os autores do crime.

Esse horror não é bastante? Não. O jornalista aprofunda suas pesquisas ao descobrir furos no trabalho do FBI e vai se deparar com uma realidade dura, um quase genocídio, a morte de mais de uma centena de componentes da tribo.

Desde Dee Brown e o excelente Enterrem Meu Coração na Curva do Rio eu não havia lido pesquisa tão bem-feita e exaustiva. E tão dramática. E não há como não estabelecer um link entre o que ocorreu com os indígenas americanos e os nossos, inclusive nos dias de hoje, em que os Ianomami continuam sendo assassinados, estuprados, espoliados em seus direitos. E ainda são vistos como “bugres” que não deveriam ter direito a áreas tão vastas do nosso território, como se não fossem eles os povos originais, ou seja, os verdadeiros donos da terra.

Crianças yanomami foram vítimas também de estupros e assassinatos - João Negrão - Brasil 247

Uma dessas manhãs de sábado a rede Globo transmitiu um excelente mini-documentário sobre a vida dos Ianomami e a sua forma de vida, em perfeita harmonia com a natureza. Foi pico de Ibope. Deve estar acessível em algum lugar, G1, por exemplo. A tribo vive como viviam antes do descobrimento. Pescando, caçando, dançando seus ritos e celebrando a vida e a natureza. Pedem tão pouco. Um pouco de paz para viver e criar seus filhos. E a natureza intocada, pois dependem do que ela lhes fornece e com ela interagem perfeitamente.

O futuro é indígena na terra-floresta Yanomam
Documentário da rede Globo que retrata comunidade indígena Yanonami

Vamos lá, pedir respeito a essa gente. Torcer e apoiar a ministra Marina, tão identificada com os problemas do povo das selvas.

O filme, que ainda não vi, vem em bom momento. Tomara que Martin Scorcese tenha tido sensibilidade bastante para tocar os nossos corações.

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