A gostosa da carteira

fevereiro 19, 2023

Alex Medeiros – Jornalista e escritor [alexmedeiros1959@gmail.

Alex Medeiros - Jornalista e escritor [alexmedeiros1959@gmail.com)


Morreu Raquel Welch, uma das mais belas e desejadas estrelas de cinema nas décadas de 1960-1970. Quando ela fez 80 anos, há três anos, escrevi aqui o que segue... Muitas foram as musas dos garotos e homens daqueles anos, Brigitte Bardot, Jane Birkin, Ursula Andress, Jane Fonda, Claudia Cardinale, Sharon Tate, Catherine Deneuve, mas apenas uma teve a dimensão de pin-up como as garotas das décadas anteriores; Betty Grable, Marilyn e Bettie Page.

Welch, nascida em Chicago, galgou a condição de pin-up e de atriz popular de forma quase instantânea, durante as filmagens do filme “Viagem Fantástica”, uma aventura de ficção científica, lançado em agosto de 1966. Só que a foto era para um outro filme, a ser lançado no final do mesmo ano e onde Raquel faria o papel de uma garota da Idade da Pedra, substituindo Ursula Andress que desistiu de participar da fita, com o título “Mil Séculos Antes de Cristo”.

A fotografia da atriz vestida num biquíni de pele de corça gerou um fato único na história do cinema, já que o pôster de propaganda acabou fazendo mais sucesso do que o próprio filme e elevou Raquel à estatura de símbolo sexual.

Seu corpo escultural de curvas estonteantes, vestido no que seria o primeiro biquíni da humanidade, se transformou numa imagem icônica da cultura pop e foi descrito por estilistas ingleses como o look definitivo daqueles anos 1960.

O papel da jovem Loana foi oferecido a Ursula Andress exatamente por causa de um biquíni, o famoso conjunto branco que ela usou na cena histórica do filme 007 Contra o Dr. No, de 1962, quando sai do mar como um tsunami loiro.

Nas duas décadas de sonhos e delírios, quase todas as estrelas usaram biquíni, inclusive as beldades da Jovem Guarda e das novelas, como Leila Diniz que se eternizou na imagem chocante, a primeira grávida em duas peças.

Mas, ninguém, ninguém mesmo foi tão fotografada na exploração da sensual anatomia como Raquel Welch. Nas cinco fotos que ilustram a coluna, a do meio foi a imagem que eu, aos 13 anos, escolhi pra decorar a primeira carteira.

Eu já tinha assistido os dois filmes citados, exibidos poucos anos depois no Cine São José, nas Quintas, quando em 1972 (acho) fitei com mais atenção a beleza da atriz no faroeste “Desejo de Vingança”; ela de pijama e camisola.

Na rua da feira havia um armarinho onde fui algumas vezes com minha mãe, onde ela comprava carreteis de linha, agulha e botões. Um dia eu vi uma carteira de colocar documentos e dinheiro, com compartimentos de plástico.

As capa e contracapa traziam dentro um retângulo de cartão para dar firmeza e volume. Não esperei muito e fui procurar uma foto de Raquel nas revistas, encontrando a divina imagem de todos os pecados, uma catedral de carne.

Os colegas insinuavam essas coisas que você, leitor, está imaginando agora. Eu reagia, avermelhado. Um safado, mais velho, parodiou: “eu sou magrelinho / pequeno como um botão / trago Raquel no bolso e mamãe no coração”.

Cada um naqueles anos sonhava com Welch do seu jeito. Quando era garoto, o americano William Evans tinha duas fotos na parede do quarto, uma do carro Isotta Fraschini e outra de Raquel. Quando cresceu se tornou um milionário.

Em 2012, durante o evento Louis Vuitton Classic, que expõe automóveis raros e de luxo, um modelo Isotta de 1913, de sua propriedade, era o mais caro. Ele disse aos jornalistas que como ainda tinha 52 anos, continuava sonhando com o outro pôster da parede da infância.

Nos anos 1970, o dono de um pequeno cinema em Barcelona, com apenas 320 lugares, botou um anúncio querendo um aparelho de ar para dar conforto aos clientes, “principalmente aos homens que gostam de ver Raquel Welch”, destacou no reclame.

Para sua surpresa e de todo o mercado espanhol, a empresa Chrysler Airtemp mandou instalar um moderno equipamento de ventilação no purguinha catalão e lançou uma campanha publicitária do produto com o título “Como Refrescar 320 Homens Assistindo Raquel Welch”.

O mito se foi quarta-feira, aos 82 anos.

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