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junho 9, 2024

A gênese do horário nobre

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor [Instagram @alexmedeiros1959] – Texto publicado na Tribuna do Norte Na historiografia da teledramaturgia nacional, o big bang das novelas de capítulos diários é um número que a TV Excelsior exportou da Argentina, transmitindo em julho de 1963 a trama “2-5499 Ocupado”, onde estreou o casal Tarcísio Meira e Gloria […].

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor [Instagram @alexmedeiros1959] - Texto publicado na Tribuna do Norte

Na historiografia da teledramaturgia nacional, o big bang das novelas de capítulos diários é um número que a TV Excelsior exportou da Argentina, transmitindo em julho de 1963 a trama “2-5499 Ocupado”, onde estreou o casal Tarcísio Meira e Gloria Menezes. Mas as novelas que viriam a dominar a audiência do país seriam aquelas exibidas de segunda a sexta às 20 horas.

Coube à TV Tupi iniciar há exatos 60 anos a programação do horário nobre com a primeira telenovela de capítulos diários, utilizando a grande modernidade da TV de 1964 que foi a chegada do vídeo-tape.

Entre 2 de março e 8 de maio daquele ano entrou no ar “Alma Cigana”, um folhetim escrito por Ivani Ribeiro a partir do original do escritor argentino Manuel Muñoz Rico. A novela que apresentou ao Brasil a atriz Ana Rosa, nossa primeira grande celebridade televisiva, promoveu também o primeiro trabalho do ator Amilton Fernandes que logo seria o galã do fenômeno popular “O Direito de Nascer”.

Ana Rosa, na novela Alma Cigana TV Tupi, interpretava uma mulher de vida dupla.  Durante o dia era uma recatada freira e à noite, uma fogosa cigana Foto: Astros em Revista

Com apenas 22 anos, Ana Rosa encarou interpretar um personagem duplo, que durante três meses deixou a audiência curiosa sobre se ali era um caso de dupla personalidade ou de irmãs gêmeas. De dia era freira, à noite uma cigana.

Dirigida por Geraldo Vietri, a trama era ambientada na Revolução Espanhola onde uma condessa enlutada pela morte de um capitão, a quem abrira seu coração, se recolhe a um convento para aplacar a desilusão como Irmã Tereza.

Mas o Capitão Fernando (Amilton Fernandes) não morreu e resolve procurar sua amada. Ele descobre que a condessa agora responde como a cigana Esmeralda, a sensual dançarina das festas a incendiar os olhares masculinos.

Ana Rosa no papel duplo na novela Alma Cigana pela TV Tupi (1964)

O papel duplo e pioneiro de Ana Rosa fez escola na primeira década das novelas diárias, repetido de 1965 até 1972 com atrizes que se consagraram: Eva Wilma, Nathalia Timberg, Gloria Menezes, Dina Sfat e Regina Duarte.

O sucesso de Alma Cigana foi tão relevante que a TV Tupi transmitiria um remake intitulado “A Selvagem”, de novo tendo Ana Rosa interpretando as gêmeas Estela e Esmeralda (Estela era um outro nome da freira Tereza)

As duas tramas de Ivani Ribeiro foram determinantes para que a Tupi fosse buscar em Cuba o fenômeno daquele 1964, a novela “O Direito de Nascer”, com Amilton Fernandes e Nathalia Timberg fazendo o Brasil chorar e arrepiar.

“O Direito de Nascer” foi o maior sucesso do rádio e tv no Brasil

Seis anos depois de “Alma Cigana”, 1970, a TV Globo gerou desconforto autoral na Tupi ao botar no ar a novela “Irmãos Coragem”, escrita por Janete Clair e dirigida por Daniel Filho. Com Gloria Menezes fazendo um papel triplo

A trama com conflito de terras em tom de faroeste rural tinha dois pares românticos, Tarcísio Meira com Gloria e Claudio Marzo com Regina Duarte. Percebendo a semelhança, a Tupi repetiu Ana Rosa a partir de janeiro de 1971.

Ana Rosa nasceu predestinada a ser artista, veio à luz debaixo da lona do circo do avô e já participou de uma peça circense com apenas 15 dias de vida. Casou aos 16 anos com Dedé Santana e rodou o Brasil fazendo espetáculos.

Estudou balé, fez números de trapézio, andou em arame, seguindo à risca a herança genética de uma mãe trapezista e um pai que fazia acrobacias sobre duas rodas. Portanto não foi surpresa sua estreia em papel duplo na televisão.

Ninguém fez mais novelas do que Ana Rosa na TV brasileira; da sua estreia em “Alma Cigana” (1964) até a última “A Fórmula” (2017) foram 53 anos ininterruptos. Este fôlego lhe deu em 1997 a catalogação no Guiness Book

Entre as décadas de 1960 e 1970, o sucesso e a estampa anatômica da atriz fizeram multiplicar-se nos cartórios e arquivos paroquiais o seu nome em meninas por todo o Brasil.

Em 18 de junho, Ana Rosa fará seu 82º aniversário

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