A feira livre de Mipibu antes dos anos 70
Cristóvão Cavalcanti – Escritor mipibuense, domiciliado no Rio de Janeiro/RJ Presente em quase todas as cidade do interior, a feira livre é um espaço de resistência.

Cristóvão Cavalcanti - Escritor mipibuense, domiciliado no Rio de Janeiro/RJ
Presente em quase todas as cidade do interior, a feira livre é um espaço de resistência. As feiras não estão se acabando, mesmo com a chegada dos supermercado. As pessoas vão à feira por gostam do ambiente, além de comprar alimentos mais frescos e ser um espaço de integração e reencontro. As feiras ficam guardadas na mente das pessoas. Como esse texto escrito por Cristóvão Cavalcante, um mipibuense, atualmente residente no Rio de Janeiro, que lembra como era a feira de São José de Mipibu, nos anos 60/70.
Vamos a leitura da lembrança do autor deste texto:
"A feira livre de São José de Mipibu, nas décadas de 50/60 era uma feira diferenciada das demais cidades da região Agreste. Só ficava atrás da feira de Nova Cruz e a da capital.

A feira, tinha início na sexta-feira à noite, com várias barracas em torno da pracinha e do mercado, que serviam bebidas aos boêmios, juntamente com tira gosto de galinha caipira, picado de porco, (sarapatel), entre outras guloseimas. Geralmente apareciam os 'artistas populares' , entre eles, Veiga, Bié (cantores de músicas bregas) e outros que faziam a farra nas barracas, frequentadas por boêmios, até 6h da manhã, quando chegavam os consumidores e iniciava a feira propriamente dita.

Vivenciei nas feiras de antigamente, coisas fantásticas, curiosas, cômicas e até sobrenaturais...
No início da década de 50 aparecia na feira de Mipibu um homem, que andava de quatro pés, "invertido". Ele andava com as solas dos pés e as palmas das mãos apoiados no chão, de ventre pra cima. Não se levantava, pedia esmolas com um saco sobre a barriga. Passou uns anos e o mesmo personagem retornou a Mipibu. Dessa vez, teatralmente dava empurrões levando o que tivesse pela sua frente, provocado por "algo invisível", vindo a cair e se esburrachar no chão. O "artista" se arrebentava e se machucava todo. Os "empurrões", a gente percebia, só não aparecia quem era o autor. Esse caso estranho, causava medo e muita dó, em quem presenciava, sem nada poder fazer pra ajudar, aquele pobre homem, que sofria muito e recebia uma esmola.
Na feira apareciam artistas populares e cantadores de cordel. Tinha um cantor solitário, deficiente visual, com um pandeiro que entoava, cânticos e toadas, com letras totalmente desencontradas. Ele dizia, ser cantor, da Rádio Baturité, da Paraíba.
Em algum lugar da feira, havia uma tenda circular onde se cobrava para quem quisesse vê animais com dois sexos (Hermafrodita). Era uma novidade e, por ignorância, algumas pessoas chegavam a dizer: "era o final dos tempos".

Em outro espaço, não longe dali, um senhor com uma gibóia, (animal não venenoso). Ele exibia a cobra, enrolada no próprio braço que ao desferir uma picada, imediatamente aplicava um produto, que o sangue ficava preto. Logo em seguida, suspendia a apresentação e passava a vender uma pomada "milagrosa" que curava, picada de cobra venenosa. E juntava gente para comprar a tal pomada.
Sob uma árvore um estelionatário, conhecido por Tributino, armava uma mesa e com três dedais de (costureira) e uma bolinha branca, criava um jogo, chamado de Papinha. Ele tinha uma habilidade nos dedais, que driblava as visões dos espectadores, que se metiam a apostar e nunca ganhava. Grande era a velocidade nos dedos, isso sem falar nos "tapias"(comparsas) que fingiam participar e ganhar o jogo, atraindo os incautos para tentar a sorte.
Outro jogo interessante: uma roda feita de casinhas de madeira, com um número de 01 a 25, com uma portinha. No centro, um caixa de madeira, onde havia um preá. Os apostadores, compravam seu bilhete com o número correspondente ao da casinha. Quando levantava a caixa, o preá corria e se refugiava aleatoriamente em uma das casinhas. O prêmio era dado ao apostador sortudo. Isso se repetia por várias rodadas.
Quem sempre vinha a feira de Mipibu era "Chico da Macaca". Ele trazia uma macaca, que adivinhava, quanto o espectador havia doado. Se fosse 5 cruzeiros, o animal ao ser indagada pelo seu dono, dava quantos pulos correspondente ao valor doado pelo espectador. O segredo estava na corda, amarrada no pescoço do animal. Cada puxada leve, que ele acionava, a macaca dava um pulo. E assim ele faturava um dinheirinho.

A maioria dos feirantes vinham de outros municípios, em caminhões, caminhonetes, carroças de atração animal, em lombo de animais e até, traziam tabuleiros nas cabeças, com os produtos para serem comercializados.
A feira dos pescados era dentro e em torno do mercado público, onde eram vendidos caranguejos, siris, mussuns, trairas, acarás, piabas, saunas, tainhas, mores, etc. Em frente ao Mercado Público, eram enfileiradas as bancas com carnes, vísceras de porco, de boi, carne de terceira. etc

Com o passar do dia, já chegando às 11h, as verduras, legumes e frutas iam perdendo a qualidade, com o decorrer da feira, chegando o preço ao alcance dos menos favorecidos. No final da feira, conhecida por chêpa, as mercadorias surradas, perdiam o valor de comercialização, pela metade. Os pobres (chepeiros) adquiriram os produtos mais em conta.
Haviam duas medidas, nas bancas de feijão, farinha, goma etc: o litro e o quilo. A medida de cinco litros (cuia), feita de madeira, era usada para medir farinha de mandioca. Havia, também as medidas de madeiras de um litro, meio litro, para pesar feijão e milho. Para medir açúcar, carnes, queijos, nas vendas, de Nozinho Gomes, Seu Anolino, Samuel e na Boa Fé, eram utilizadas balanças bem aferidas.

Na calçada do mercado, as bancas com diversas guloseimas, como: bolos de milho, de batata, bolo preto ( pé-de-moleque), grudes... e um famoso, que vinha de Cururú (próximo a praia de Barreta). Havia, também, bejú de mandioca, 'Pecado de Maneiro', tapiocas de coco, tapioca molhada, o famoso cuscuz de Maria Paiaiá, de dona Idalina, munguzás, de Donana, sem esquecer do café de Dona Laura, no interior do mercado.


As louceiras artesãs, que fabricavam utensílio de barro, como: panela de barro, potes, jarras, quartinhas para água, cacos de fazer bejus e tapiocas. Além de brinquedos para as crianças: boi, cavalos, vacas de barro. As louceiras deu nome de Rua das Louceiras, atualmente, Rua Dr Paulino.

O vai e vem das feiras é gostoso, um caldo de cana é bem vinda e os mercados não vendem, rssrs.
Tempo que não volta mais.. muitas saudades ficará na memória do povo mipibuense
Meu Deus… que saudades… como é bom viajar no túnel do tempo…quantas recordações maravilhosas…
Obrigada meu querido amigo…por nos dá a oportunidade de viajar no túnel do tempo…
Eu vivi muitos anos comprando nesta feira, no mercado, comprava na bodega de Seu Abel Izaias, comprava carne no açougue de seu Zeze Isaias e comprava feijão na vend de Gonzaga, pai de Paulo e Zezinho