RÁDIO AMADOR SALVOU O VALE DO ASSU
FERNANDO CALDAS – Editor do blog Assu Antigo – (fernandocaldas110@gmail.
FERNANDO CALDAS - Editor do blog Assu Antigo - (fernandocaldas110@gmail.com)
Um grito mudo. Seriam assim os pedidos de socorro das vítimas da enchente no Vale do Assu, no ano de 1964, não fosse o trabalho do rádio amador, do aposentado Nilo Fonseca. As cidades ilhadas, somente receberiam os serviços da Telern (Telecomunicações do Rio Grande Norte) anos depois. Sem acesso rápido por terra ou mar, a comunicação era ainda mais essencial.
E toda ela partiu de uma casa pequenina, situada à Rua Maxaranguape, nº 605, no Tirol, em Natal. De lá, o governador do Estado, Aluízio Alves e sua comitiva despachavam as providências do dia. O que o governador sequer desconfiava era que todos as chamadas efetuadas eram monitoradas pelos militares da ditadura.
Naquele tempo, Nilo Fonseca brincava com o rádio amador montado em sua casa, como hoje os jovens usam as salas de bate-papo na Internet. Desde 1961, fazia uma chamada geral e ficava a espera, uma semana, vinda a resposta de alguma parte do Brasil ou do exterior.
Nilo Fonseca era natural de Assu e durante a enchente de 1964, Nilo procurou notícias de sua cidade. A resposta (ou câmbio) veio do primo assuense Tarcísio Amorim. Juntos, o pedido alarmante de socorro.
"Pediram-me para entrar em contato com o governador", lembra. Nos 20 dias seguintes, Aluízio Alves batia a porta da casa de Nilo Fonseca para comunicar o despacho do dia.
"Acordava cedo, todo dia, para arrumar a casa e preparar o cafezinho para o pessoal. Aluízio chegava acompanhado do Chefe da Casa Civil, seu irmão, Agnelo Alves e outros secretários".
A comunicação direta de Aluízio em Assu era com o Coronel Leão, então Secretário de Agricultura do governo. "O coronel pediu urgência da Sudene no envio de mantimentos". Aluízio disse que iria tentar. Quando avisei da possibilidade do contato pelo rádio amador ele ficou admirado. E quando o Superintendente da Sudene, General Albuquerque Lima respondeu a chamada, Aluízio quase cai pra trás sem acreditar", recorda Nilo.
Estupefato com o alcance e importância do rádio amador, Aluízio Alves interligou o prefixo da rádio à transmissão da Rádio Cabugi. Diariamente, grande parte do estado tomava conhecimento das providências tomadas pelo Governo Estadual. Essa ferramenta poderosa de comunicação logo despertou a atenção do alto comando militar. "O general da Guarnição de Natal (situado onde hoje está o Museu Câmara Cascudo) chamou-me para entregar as conversações diárias feitas por Aluízio. Todos os dias às 17h entregava a fita ao general. Era o período da ditadura militar no Brasil".
Nilo Fonseca lembra indignado da ira do general ao saber do envolvimento do Arcebispo Dom Eugênio de Araújo Sales na ajuda às vítimas. Dom Eugênio havia conseguido um comboio para transportar toneladas de mantimentos até a cidade de Angicos (terra natal do governador) e de lá até Assu, por caminhões.
O general disse: "Até esse padre está metido nisso?" O general dizia que tudo tinha de passar por ele". E concluiu: "Foi um período gratificante. Pude ajudar de alguma forma o povo de minha cidade. Um ano depois fui um dos homenageados ilustres da Festa das Personalidade, promovida pelo colunista Paulo Macedo, que realizava essa festa, todos os anos, no Aeroclube".
Fonte: Transcrito do jornal Diário de Natal, caderno Cidades, 13 de abril de 2008.
Do blog: Este Nilo Fonseca citado no texto acima é filho do médico assuense Ezequiel Fonseca Filho, que foi Intendente (espécie de prefeito) do município do Assu, na década de30 e, depois, deputado Estadual, chegando a presidir a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, bem como o Governo do Estado.