O DIABO NA TERRA DO SOL    

novembro 17, 2024

                                                                          NILO EMERENCIANO – Arquiteto, escritor e articulista.

                                                                         

NILO EMERENCIANO - Arquiteto, escritor e articulista.

Será que o diabo existe e é mau como o pintam? Chupa manga? Ou será tudo apenas fruto da crendice e invenção dos povos primitivos?

Em pleno século XXI em que, tal como na Idade Média, fomos assolados por uma terrível pandemia que matou centena de milhares de pessoas, é possível que alguns atribuam ao tinhoso a culpa pelo mal? O Coronavírus terá sido planejado na antessala do inferno? Além de tomarmos vacinas temos que gritar em alto e bom som: xô, satanás?

O diabo chegou ao Brasil trazido pelos europeus com toda pompa e circunstância. De barba, catinga de enxofre, pés de bode, rabo e chifres. E um tridente à guisa de cetro. Aqui ganhou capa preta, corcova, passou a tocar viola e frequentar forrós. Acompanhou-se de boêmios, prostitutas e ladrões. Passou a tomar cachaça. Mas achou dura concorrência.

É que na terra já se lidava com entidades mais ingênuas: Juruparis, Caiporas e Sacis, capetinhas que não brigam com Deus e ainda protegem plantas e animais. O diabo então, velho e esperto, como forma de sobreviver, se adaptou aos costumes locais. Até porque surgia mais um fortíssimo rival vindo da África junto com os escravos: Exu. O antigo Lúcifer perdeu de vez a pompa. Sofreu uma crise de identidade. Passou a ser subornado por um pouco de comida e uma cachacinha deixada nas encruzilhadas.

Ganhou diversos apelidos: Exu-caveira, Arranca- toco, Sete Encruza, Capeta, Coisa- ruim, Tinhoso, Rabudo, Chifrudo, Zé Cotó. Teve até que aguentar a convivência difícil do valente capitão Virgulino, vulgo Lampião, que chegou no inferno quebrando todos os protocolos.

Quando, depois de desmoralizado e despachado nas encruzilhadas, Satã achou que ia sossegar em uma pacata aposentadoria, veio a televisão. Sua humilhação tornou- se espetáculo de TV. Belzebu passou a ser enxotado por qualquer tele-evangélico, longe dos longos exorcismos da Idade Média, quando ainda o temiam.

Pobre diabo. Além da queda, coice. Em poucos milênios passou de favorito de Deus a saco de pancadas no Brasil.

E depois, o que mais vai acontecer?

Lê-se nos evangelhos que no fim, o mal vai ser separado do bem e satã vai confessar seus erros e arrepender-se. Será o fim do mal no mundo. Vencido e desmoralizado, o diabo faz uma autocrítica e se converte. É a rendição final.

Allan Kardec tem a seguinte explicação: “Satanás é evidentemente a personificação do mal sob forma alegórica, visto não poder se admitir que exista um ser mau a lutar, como de potência a potência, com a divindade”.

Aí está. Respiremos aliviados. O bom e velho diabo não passa de criação dos homens.

Melhor deixá-lo de lado e cuidar dos diabinhos das nossas deficiências morais, muito mais vivas, perigosas e recalcitrantes.

E atentar para alguns personagens que se travestem de demônios para infernizar as nossas vidas, ocupando algumas vezes os cargos mais altos de onde podem, usando os longos e afiados tridentes do poder, causar a todos nós males dramáticos, profundos e duradouros. Com esses devemos ser duros e taxativos: Xô, satanás!!!

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