A MENINA DOS MEUS OLHOS

novembro 3, 2024

  Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa Para formar a minha personalidade, eu me espelhei em várias pessoas pelas quais nutria admiração.

 

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

Para formar a minha personalidade, eu me espelhei em várias pessoas pelas quais nutria admiração. Desse modo, acredito que hoje, sou um pouco de cada uma dessas pessoas, já que “as pessoas que admiramos dão a forma exata daquilo que somos”. Dentre as figuras que eu admirava na minha infância, destaco uma tia, a qual sempre foi carinhosa, não apenas comigo, mas com todos ao seu redor.

Minha tia cuidava de mim com muito zelo, me contava histórias para eu dormir, me ajudava nas tarefas escolares, passeava comigo aos domingos, enfim, fazia tudo aquilo que se acredita ser responsabilidade das tias. Aliás, tias e avós são pessoas maravilhosas, que fazem as manhas das crianças para dar trabalho aos pais. De tão apegada à minha tia, eu pensava com meus botões: “Quando eu crescer e tiver uma sobrinha, quero ser para com ela igual a esta minha tia tão querida”.

Os anos se passaram e no momento em que me tornei tia, tratei de ser uma presença marcante na vida da minha sobrinha, que considero uma das maiores bênçãos que Deus me concedeu. Eu fui a primeira pessoa a vê-la depois que nasceu, porque estava no hospital esperando ansiosamente por sua chegada. Mal pude conter a emoção ao ver aquele ser tão pequeno, careca e banguela, que aos meus olhos parecia profundamente belo e encantador.

Acompanhei toda a fase do seu crescimento, registrando cada etapa do seu desenvolvimento até a sua vida adulta. Testemunhei a agonia dos pais devido às cólicas comuns aos recém-nascidos e, como seu pai trabalhava no interior, fui eu quem a levou para tomar todas as vacinas e acompanhava sua mãe nas visitas pediátricas.

Acompanhei o nascimento e a perda dos seus dentinhos, assim como fiquei emocionada quando ela começou a falar. Passei um dia inteiro esperando pelo momento no qual ela iria me chamar de “tia”, mas ela chamou por todas as pessoas que conhecia, menos a palavra que eu ansiosamente esperava. Ela parecia se divertir com a minha ansiedade. Quando eu já havia perdido a esperança, ela sorrindo disse titia, finalmente. É claro que eu gravei a palavra em uma fita K-7 da marca Basf – a qual guardo no meu baú de relíquias.

Outro momento emocionante que ficou registrado no meu pensamento e no meu coração, foi aquele no qual ela começou a estudar. Mal aprendeu o alfabeto, escreveu-me um bilhetinho, onde estava escrito: “Amor titia”. É claro que este bilhetinho tão especial também está guardado no baú de relíquias.

Minha sobrinha hoje está adulta e se preparando para casar. Mas ela continua sendo a menina dos meus olhos – um dos melhores presentes que Deus me deu. Eu continuo sendo a mesma tia coruja de carteirinha e de lambuja, ganhei mais um sobrinho – o noivo dela, por quem também nutro um carinho enorme.

Entretanto, toda tia que se preza, necessita de sobrinhos bebês, para mimar, fazer as vontades e encher de manhas para dar trabalho aos pais. Desse modo, minhas amigas Hirlaine Gomes e Fabiana Paiva me concederam o grande privilégio de me considerar tia dos seus rebentos – encargo que eu aceitei com muita disposição e alegria.

Enquanto a menina dos meus olhos não me presenteia com sua prole, eu vou treinando meus dotes de tia com os meus sobrinhos do coração e vivendo muito feliz e contente com esta incumbência. Afinal, ser tia é um grande privilégio e uma grande responsabilidade.

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