O príncipe faz 80 anos
Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte Quando a febre da beatlemania fez ferver a temperatura comportamental e musical das Américas, jovens cabeludos no Brasil lançaram mão de guitarras e entraram na onda, criando um movimento que ganharia o nome de “Iê, Iê, Iê”, uma alusão ao grito dos […].
Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte
Quando a febre da beatlemania fez ferver a temperatura comportamental e musical das Américas, jovens cabeludos no Brasil lançaram mão de guitarras e entraram na onda, criando um movimento que ganharia o nome de “Iê, Iê, Iê”, uma alusão ao grito dos quatro rapazes de Liverpool na canção She Loves You (Yeah, Yeah, Yeah), sucesso intergaláctico a partir de agosto de 1963.
Era a Jovem Guarda, termo sugerido pelo publicitário Carlito Maia e recortado de um discurso do líder comunista Vladimir Lênin. O cantor Roberto Carlos logo assumiu o trono e passou a comandar a turma. E todos juntos começaram a ditar moda e mudar a cara da MPB. No auge do hit dos Beatles, Roberto e seus amigos reuniram a juventude brasileira em torno da tela da TV Record, com o programa “Jovem Guarda”. As tardes de domingo em São Paulo e no Rio mudaram o comportamento da garotada em todo o País.
Nesse meio tempo, um garoto bonito e filho de alta classe foi retirado de uma passarela fashion e recebeu a proposta de fazer carreira no mundo da música. Aqueles que o descobriram viram em sua estampa de galã pop uma possibilidade de construir um contraponto musical e plástico ao sucesso de Roberto Carlos, àquela altura já um fenômeno de massa.
Ronnie Von, que no dia 17 de julho, fez aniversário de 80 anos, surgiu no meio do turbilhão da Jovem Guarda não como mais um súdito do rei que desfilava em calhambeques e carrões conversíveis, mas como um candidato a solapar seu cetro e sua coroa da nova tendência que ocupava as atenções da mídia.
Evidente que Roberto Carlos permaneceu com sua majestade incólume, atravessando as décadas sem o menor sinal de ameaça. Por outro lado, Ronnie Von não foi apenas um “pequeno príncipe” forjado na disputa comercial da indústria fonográfica (com inspiração no livro de Exupéry).
O bonitão teve direito a um naco de glória na história da aventura juvenil dos anos rebeldes e dourados. Vendeu muitos discos, acumulou fãs, arrancou suspiros de adolescentes e senhoras, fez enorme sucesso no rádio e na TV.
Ronnie construi uma discografia respeitada e se estabeleceu no contexto da época como uma das boas cabeças, ao lado de gente inteligente como Erasmo Carlos e a galera da Tropicália que pintou depois. Não era apenas um intérprete como Wanderley Cardoso.
O cantor de cabelos lisos cobrindo os olhos tinha bagagem cultural, fruto da boa formação escolar e do seu interesse por estudar o tempo em que vivia. Foi reconhecido pelos colegas contemporâneos como conhecedor de teoria musical.
Foi a ele que recorreram os roqueiros Arnaldo Batista e Sérgio Dias, na companhia de uma loirinha chamada Rita Lee, quando quiseram formar uma banda de rock psicodélico tupiniquim. Ronnie os batizou de “Os Mutantes” e o resto todos já sabem.
No programa “O pequeno mundo de Ronnie Von”, também na Record, quem lá cantava perdia a chance de se apresentar no programa de Roberto Carlos. Era a concorrência histérica pelos interesses comerciais dos que exploravam os dois jovens talentos.
Recentemente Ronnie Von comandava um programa de TV, o “Todo Seu”, na TV Gazeta. Espremido entre a audiência das grandes redes, o cantor oferecia bons e inteligentes papos sobre tudo, de música à gastronomia, de turismo à literatura. E estava léguas do lugar comum da TV aberta.
Longa vida ao velho príncipe da Jovem Guarda.