Por Haroldo Varela
Cada um com a sua crença. Beatas fazem coro afinado e enfadonho, a música parece sem fim. Pessoas pedem proteção, agradecem as graças alcançadas, pagam promessas e homenageiam a padroeira.
A disputa é grande para carregar o andor, rende prestÃgio na cidade. Os abonados fazem pose, mas quem segura o peso são os mais humildes, que com uma fé fervorosa, dão conta do recado. E você ?Â
Mesmo depois da buchada de bode, daquele caldo de mocotó que tomou as 6h da manhã no mercado, vestida de longo, cÃlios postiços e equilibrada num tamborete, ainda vai à procissão? Claro que sim, tentar garantir um lugar no paraÃso.
O trajeto é longo e mesmo cambaleando segue o cortejo até o final. Véu, terço na mão, já nem sente mais os pés cheios de calo (aquele maldito sapato novo), cansada, com aqueles óculos do tamanho de um para-brisa de kombi (quase uma Jacqueline Kennedy tupiniquim), tenta disfarçar as olheiras e a cara de ressaca .
As ladeiras são intermináveis , mas mesmo cambaleando e com a voz fraca, ainda tenta perseguir o hino (mesmo estando com as músicas da festa na cabeça). O tempo parece que estacionou e tudo que você queria era estar em um quarto escuro, com o ar condicionado ligado e no silêncio total.