O QUE VEM POR AÍ
NILO Emerenciano – Arquiteto e escritor Apesar de tudo isso haver ocorrido há muito tempo, alguns aí devem lembrar: nas cidades do interior havia uma estranha e maliciosa prática.
NILO Emerenciano - Arquiteto e escritor
Apesar de tudo isso haver ocorrido há muito tempo, alguns aí devem lembrar: nas cidades do interior havia uma estranha e maliciosa prática. Consistia em serem distribuídas durante a madrugada, enfiadas por debaixo de portas ou janelas, folhas de papel ou cadernos escolares escritos à mão, em bela caligrafia, levando acusações e calúnias verdadeiras ou não, vá saber, contra alguns políticos ou pessoas
importantes, ou mesmo pais e maridos que tinham a família coberta de aleivosias.
Adultérios ou insinuações de viadagem eram brandidos a torto e a direito. Lembro meu avô, seu Manuel Araújo, lendo um desses folhetins e falando entre dentes (ele sempre falava baixo): - Ou mentira cachorra da molesta…!
Em ano eleitoral a coisa se intensificava. As pessoas tentavam adivinhar a autoria a partir da letra ou do estilo. Lembrem que isso era antes da televisão, internet, redes sociais, celulares e outros bichos modernos que facilitaram a disseminação de fofocas, fake news e mentiras outras.
Há até um programa de TV assumido no besteirol, chama-se Fofocalizando, imaginem só. Tudo bem quando são só fofocas. Pior, bem pior, quando se trata de acusações inventadas, acompanhadas de montagens feitas por mestres da manipulação. Talvez por isso a rádio Cabugi brandisse o slogan: “- Se a Cabugi não deu, a notícia não aconteceu!”
Há algum tempo o ator Mário Gomes teve a carreira destruída porque um marido ciumento plantou na imprensa a mentira que ele havia sido conduzido ao hospital com uma cenoura enfiada no ânus. Há alguns meses o ator americano Kevin Spacey foi inocentado de acusações de assédio sexual que o mantiveram longe das telas.
Aqui na terrinha, o governador Cortez Pereira foi destruído pelo ridículo, ao enfrentar fakes de todos os tipos, inclusive o escândalo das calcinhas, alguém lembra disso? O humorista Marcius Melhem da rede Globo foi literalmente massacrado por um grupo de mulheres que o paparicavam e depois se uniram em acusações que ao pouco vão se desmanchando no ar. O caso Ana Hickman X Alexandre é somente o
mais novo a ocupar o noticiário. Acusações pra lá e pra cá e no meio disso tudo, revelações de intimidades dos famosos. Há quem goste.
O ex-prefeito de Natal Agnelo Alves (1932-2015) carregou durante toda a sua vida a pecha de ser o responsável pelo incêndio do velho mercado da Cidade Alta, um dos eventos mais dramáticos da nossa história. Justificativa? Abrir caminho para o surgimento dos grandes supermercados. Faz sentido? Claro que não, mas quem precisa disso?
Agora, as árvores que sombreavam nossas ruas, os belos Ficus, essas, sim, foram dizimadas na sua administração sob o pretexto de acabar com a praga dos famigerados “lacerdinhas”, bichinhos que caiam nos olhos das pessoas e ardiam como seiscentos diabos. Algo como jogar fora o sofá por ter encontrado a mulher em flagrante delito usando o dito cujo. Perdemos as árvores e ganhamos um calor infernal
O Diário de Natal e a Tribuna do Norte, há alguns anos, travavam uma luta pela tiragem, e essa luta se refletia nas páginas ditas policiais. Chefes de redação criavam notícias em busca da vendagem. A mais escabrosa foi sobre o vampiro – sim, vampiro, com capa preta, olhos vermelhos e tudo mais - que passou a atacar mocinhas incautas nas noites natalenses, ali pelos lados do bairro de Petrópolis e adjacências.
Estamos em ano eleitoral e acho que passado os festejos de São João a baixaria vai começar. Aí não se trata mais de simples fofocas, mas de planos de poder, onde vale tudo, tudo é permitido, os incomodados que lutem ou se retirem. O buraco é sem fundo. O nível do debate político é baixíssimo. Não se discute economia, saúde, educação, urbanismo. Prevalecem as acusações mútuas, verdadeiras ou não.
Lula foi claramente prejudicado em seu debate com Fernando Collor. A Globo colaborou com isso. Collor tinha em sua frente um calhamaço de papel que não continha absolutamente nada, mas que manteve Lula tenso durante todo o debate. E em seguida, a edição claramente favorável ao "caçador de marajás", depois ele próprio caçado e deposto do poder, fez o resto.
Vamos ver o que vai rolar. Está em jogo a nossa qualidade de vida e a vida da nossa cidade. Serão esses futuros vereadores e prefeitos que vão gerir nossos destinos. Transportes urbanos, postos de saúde, segurança, escolas, participação popular, áreas verdes, arte, cultura, enfim, o dia a dia da Cidade do Sol.
Olho no olho desse povo. E não venham me dizer que não gostam de política. Isso é uma declaração de ignorância. É em cima da ignorância das pessoas que essa gente desprezível trabalha. Não acreditem em tudo que rola nas redes. Nesse meio tem de tudo e para todos os gostos. Alguns afirmam conversar
com ETs ou já ter dado rolés em discos voadores. Há até uma atriz global que afirma – como se isso fosse do nosso interesse – transar dez vezes por dia. E gostar de usar caminhos alternativos para tal feito.
Fazer o que? Só dizer como o mestre Quirino quando não aguentava mais a pabulagem de alguém: - Aí mente…!
Ah se o nosso bom Deus, abrisse as “oiças” e juízo do eleitor, especialmente do eleitorperiférico do municipio! Pois, o eleito, sempre governa em favor das regiões mais ricas da cidade, atuando no eixo Centro, Petrópolis, Tirol, Lagoa Nova, Capim Macio,Ponta Negra (ate onde o turista vai). O resto é mato e buraco tomando conta das vias.