ESCREVENDO NOSSA HISTÓRIA; A energia elétrica de São José de Mipibu em tempos passados

junho 25, 2023

Cristóvão Ferreira Cavalcante- Mipibuense radicado no Rio de Janeiro/RJ Em São José de Mipibu, antes da inauguração de energia de Paulo Afonso, no ano de 1965, o empresário Júlio Ramalho era o proprietário da Usina que gerava energia.

Cristóvão Ferreira Cavalcante- Mipibuense radicado no Rio de Janeiro/RJ

Em São José de Mipibu, antes da inauguração de energia de Paulo Afonso, no ano de 1965, o empresário Júlio Ramalho era o proprietário da Usina que gerava energia. A energia era vinha de dois geradores: um grande, que chamávamos de 'Usina', situado na rua Sete de Setembro, no prédio onde, atualmente, é a Cerâmica Marta Job.  

O outro gerador, bem menor, ficava localizado onde, hoje, é a Câmara Municipal. Esses geradores forneciam energia para as residências das pessoas mais abastadas da cidade. Também, funcionava para puxar água da Mata da Bica (nascente do Rio Mipibu) para a caixa d'água - tipo chafariz-, situada ao lado da Igreja Matriz.

caixa d'água funcionava na parte superior, onde atualmente é a Câmara Municipal

Essa água chegava até a caixa d'água através de canalização que vinha da Bica, pela rua Sete de Setembro, também, conhecida como a "Rua do Cano, até o reservatório. A água era entregue nas residências através de "Canequeiros". Essas pessoas enchiam a água em galões de 20 litros, nas torneiras e transportavam em duas latas, fazendo um galão, quer transportavam até quatro latas simultaneamente.

A água era paga pela quantidade de galões que era recolhida. O funcionário do senhor Júlio Ramalho, chamava-se José Estevão de Lima Filho, conhecido na cidade por "Zé da Caixa" ou Caxixi. Era ele quem organizava a fila para a retirada da água, seguindo a ordem de chegada dos "Canequeiros".

Ainda adolescente, meus pais determinavam ir pegar água no chafariz para nossas casas. No entanto, só conseguia carregar o galão com duas latas. Enfrentava uma fila era enorme. Havia garoto atrevido que tentava furar a fila, aí o 'pau quebrava', gerando discussão e briga.

Havia dias em que o gerador entrava em pane, ou se rompia a tubulação, era um sufoco.  A única maneira de suprir a falta de água na caixa d'água era transportar a água da Bica até as nossas residências, subindo a ladeira íngreme da rua Sete de Setembro. O desafio era a disputa para saber quem era mais forte do que o outro. Eu, ficava envaidecido porque não arriava o galão para descansar, levando até nossa casa, de uma 'tirada só'.

A Usina - gerador grande- fornecia energia para iluminação pública da ruas do centro da cidade. Funcionava a partir das 18h e às 21h30 quando era desligada. Trabalhavam nessa tarefa e manutenção da máquina, os funcionários, Zeriele Elias, que acionavam um apito anunciando, que logo a energia seria desligada.

Zeriel era uma pessoa simples no viver, atencioso no trato com quem conhecia. Ele cuidava da manutenção dos geradores da Usina. Logo cedo, estava ele a supervisionar tudo, para que às 17h, a Usina começasse a "dar sinal de vida' com seus estalos, anunciado para a população que daria toda a sua energia para clarear as noites tranquilas de São José de Mipibu. Os postes das ruas principais e nas praças eram iluminadas por minúsculas lâmpadas fazendo a alegria de todos, principalmente da juventude.

Quando se ouvia um tremendo estouro, provocado pela quebra da correia do grande gerador era um corre corre danado, e lá estava Zeriel todo sujo de graxa, tirando e colocando parafusos nos potentes motores para que tudo estivesse devidamente funcionando no horário estabelecido..

A manutenção, geralmente era demorada e, muitas vezes, só era restabelecida a energia, na noite seguinte. Aliás, os motores da Usina eram de fabricação inglesa, e o único na região, apenas, um similar se encontrava em Minas Gerais, uma vez que existiam apenas dois no Brasil.

Quando faltava o óleo para que o motor funcionasse, ou quando a correia quebrava, justificativa por não ter luz na cidade naquela noite, era motivo para a moçada se reunir na calçada para bater papo mesmo às escuras, iluminados por lampiões de gás ou velas. Ficava assim a cidade, quando Zeriel não conseguia - apesar dos esforços que fazia - consertar o velho motor de Júlio Ramalho.

Quantas vezes no meio de uma festa popular ou solenidade faltava energia. Ele era chamado às pressas para se desdobrar nas tarefas de consertar o defeito para que o evento prosseguisse, custando-lhe isso, algumas horas a mais do seu descanso noturno, e quase sempre, sem nenhuma remuneração extra.

O outro funcionário, Zé da Caixa ('Caxixi'), sentou praça na Polícia Militar, depois se casou com uma prima. Aposentou-se como Sub-Tenente. Ele era considerado 'intelectual' por ser assíduo leitor de jornal, que só chegava em Mipibu as 19h. No outro dia, sentava no banco e rodeado dos Canequeiros (a maioria, analfabeta), onde lia, em voz alta, as matérias mais relevantes, principalmente, as policiais. Seu Joca 'Canequeiro', pai de Augusto 'Pintado' era um dos mais entusiasmado ao ouvir a leitura feita por Caxixi.

Somente com a chegada da energia elétrica de Paulo Afonso, inaugurada no ano 1965, pelo Governador Monsenhor Walfredo Gurgel ( será motivo de uma futura crônica), aposentou os geradores e os guerreiros funcionários Zeriel e Elias.

Governador Walfredo Gurgel e o vice-governador Clovis Motta e prefeito Hélio Ferreira, inauguram energia elétrica
de Paulo Afonso, em São José de Mipibu, em 1965 - Acervo Lúcia Amaral

OBS. Fotos e informações complementares do blog Pelas Trilhas da História, editado pela professora e pesquisadora Lúcia Amaral, o que agradecemos.

3 respostas para “ESCREVENDO NOSSA HISTÓRIA; A energia elétrica de São José de Mipibu em tempos passados”

  1. Parabéns Dedé ficou realmente bemreeditado. Obrigado!

  2. Maria do Socorro Gomes de Santana disse:

    Excelente!Memória incrível, meu amigo Cristóvão. Muito importante para todos os Mipibuenses. Parabéns pelo seu aniversário. Que Deus continue lhe abençoando com muita saúde, paz, amor e felicidades. 👏👏👏👏👏👏

  3. Fernando Moraes disse:

    👍🏼Parabéns, mais um resgate histórico.