A casa da Santa
Eduardo Gois – Morador de Ceará Mirim/RN Casei-me, no ano de 1983, com uma moça de Ceará Mirim, terra de minha família Fonseca/Varela.
Eduardo Gois - Morador de Ceará Mirim/RN
Casei-me, no ano de 1983, com uma moça de Ceará Mirim, terra de minha família Fonseca/Varela. Para satisfazer a minha esposa, nos finais de semana, ficava hospedado na casa dos meus sogros.
Enjoado que sou, decidi comprar uma casa na cidade, para não perturbar os outros.
Fui ao cartório, e ao transferir o imóvel para meu nome, fui informado que faltava um documento da Igreja local. Sem ele, a escritura não poderia ser registrada.
Na hora eu ri, pois pensei: "Que diabo a igreja tem a ver com isso?
Dirigi-me a igreja e surpreso fiquei, ao tomar conhecimento da beata (secretária da igreja) que teria que pagar pelo documento. "Tudo bem". Achei que seria uma pequena contribuição. Não, o valor era bem elevado. Perguntei o porquê do exorbitante valor. Sorrindo, a beata me disse "que o imóvel fora construído nas terras de propriedade da "Santa". Diante disso, teria que pagar pela liberação do documento.
Indaguei: "Terra da Santa, como assim? Eu comprei o imóvel da sra. Lídia Brejeiro. Não foi da santa não, e mais: esse valor cobrado é uma exploração. Se fosse uma pequena contribuição não teria problema".
A beata, intrigada sem saber responder, chama o padre Ruy Miranda, pároco da paróquia.
- Seu padre, essa senhora diz que o imóvel pertence a Santa e que eu tenho que pagar para liberar a transferência... Comecei a falar.
-É verdade. Todas as terras da cidade ao redor da igreja pertencem à Santa.
Olhando firme nos olhos do padre Ruy, perguntei:
- Seu padre me desculpe pela ignorância, mas acho que não devo pagar pelo documento. Pelo que eu saiba, conforme escritura, comprei a casa a dona Lídia e não à Santa, portanto, não devo nada. Entretanto, posso negociar direto com a Santa, uma vez que o valor é uma exploração e não sou obrigado a pagar.
Vermelho de raiva, vendo que a confusão seria inevitável, o padre Ruy Miranda, chama a beata e diz: "libere o documento, a Santa perdoa a dívida".
Isso aconteceu comigo. Até hoje, quando conto para outros, rio da situação.