Zé Arigó, Dr. Fritz e Eu

setembro 25, 2022

Nilo Emerenciano – Arquiteto e escritor Está em exibição nos cinemas brasileiros o filme Predestinado, que conta a vida, as curas e as cirurgias espirituais do médium mineiro Zé Arigó ou José Pedro de Freitas (1921-1971), natural de Congonhas/MG.

Cirurgia espiritual por Zé Arigó Foto: Jornal Jundiaí Agora

Nilo Emerenciano - Arquiteto e escritor

Está em exibição nos cinemas brasileiros o filme Predestinado, que conta a vida, as curas e as cirurgias espirituais do médium mineiro Zé Arigó ou José Pedro de Freitas (1921-1971), natural de Congonhas/MG. Arigó foi um curandeiro que durante os anos 1950 e 1960 chamou a atenção da imprensa e das pessoas em geral a partir das curas extraordinárias que realizava, chegando a atender cerca de 200 pessoas diariamente, usando os seus dons especiais (ele intermediava o espírito Dr. Adolph Fritz) e ferramentas rudes, como facas, tesouras e canivetes.

Não é um fenômeno novo. Pessoas de todos os níveis sociais buscam, em todos os tempos, a ajuda de pessoas como ele, cheias de esperanças e alguma fé no maravilhoso.

Medium Zé Arigó - Foto: Correio Braziliense

Em 1986 o cientista Augusto Ruschi submeteu-se a uma pajelança executada pelo cacique Raoni e o pajé Sapaim. Ruschi morria aos poucos, contaminado por veneno de sapo. O caso teve repercussão internacional.

O ex-presidente Lula tratou-se há alguns anos com João de Deus, curandeiro que hoje responde a processos por abuso sexual. Boa parte dos seus patrícios também, inclusive o ator global Reynaldo Gianecchini. Essas pessoas, mesmo as que tem acesso a medicina da maior qualidade, quando enfrentam doenças buscam o apoio do que para elas é o sobrenatural.

Lula não é o único caso de chefes de estado ou famosos que o fizeram.

Lenonid Brejnev, por exemplo, líder da extinta União Soviética, quando gravemente doente, buscou socorro junto à paranormal Djuna Davitashvili. João de Deus contou entre seus pacientes com os ex-presidentes Bill Clinton, Hugo Chávez,  Dilma Roussef. Entre outros a apresentadora Xuxa, o ator Marcos Frota, o humorista Chico Anísio, a atriz Shirley MacLaine e a apresentadora Oprah Winfrey.

No Recife, o médico/médium Edson Queiroz celebrizou-se dando continuidade a essa tradição de médiuns curadores até morrer de forma trágica. Dr. Edson seguiu a tradição de Zé Arigó, “incorporando” o dr. Fritz e curando as pessoas usando a sua sensibilidade especial, ou mediunidade, trabalho que se faz no mundo há tanto tempo que a origem se perde na noite dos séculos.

Pajés, xamãs, babalorixás, feiticeiros e até nossas rezadeiras do Seridó sempre o fizeram, as rezadeiras contando com a ajuda de um raminho santo. Na Vila de Ponta Negra, Dorinha mantém viva essa tradição. É uma pessoa simples, que passa o dia inteiro atendendo uma variada clientela. Vi várias vezes dona Tetéra, ou Quitéria, seu nome de batismo, rezando feridas e machucões utilizando um novelo de barbante e uma agulha com os quais ela “costurava” a doença. E entoava: “O que é que eu cozo?” O paciente respondia: “Carne rendida, osso quebrado e nervo torto.” E aí Tetéra decretava: “Isso mesmo eu cozo...”

Nos anos 1960 a natalense Isaltina Cavalcanti, moça bonita de longos cabelos, cantora dos programas de auditório da Rádio Poti, abraçou essa tarefa. Acompanhando o babalaô Sebastião Pedra d’Água, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde atendia centenas de pessoas que, em fila, aguardavam a hora de serem curadas pelo espírito do médico alemão Artz Scovsck. Tal ocorrência foi registrada no filme A Opinião Pública (1967), primeiro longa de Arnaldo Jabor. Ainda no Rio, em meados dos anos 1990, no bairro de Bonsucesso, o médium Rubens Farias teria atendido Alcione, Joãozinho Trinta, Telê Santana, e até o ex-presidente João Figueiredo, além de outros famosos.

Mas, sem dúvidas, Zé Arigó foi o maior e mais autêntico deles todos.

Simples, de origem humilde, o típico caboclo do interior mineiro, Arigó foi objeto de estudos – e deixou-se estudar por cientistas, médicos e juristas -sempre impressionando a todos que tiveram a oportunidade de vê-lo em ação. Fazia cirurgias sem anestesia nem assepsia ou instrumentos adequados e obtendo bons resultados, sem causar dores ou complicações. Jamais obteve compensação financeira pelo trabalho que realizava, pelo contrário, enfrentou dissabores, perseguição e até prisão. Nesses dias de materialismo extremado, vale a pena ver o filme e se emocionar com tanta bondade e altruísmo.

Tenho meu próprio depoimento. Enfrentando uma crise terrível de bursite, apelei para d. Penha, minha mãe, expert nessas coisas de cartomantes, médiuns, rezadeiras e outras cositas mas. Liguei: “Mamãe, aquela sua amiga, a que atua com o dr. Fritz?” Batata. Com o número em mãos telefonei para a senhora que atendeu prontamente. Corri para a sua casa. O quarto havia sido transformado em consultório médico. Ela já vestia bata branca e falava arrevesado, no que pretendia ser um sotaque alemão. Era o dr. Fritz. Voltou-se para mim e apertou, ríspido, meu ombro dolorido. Gritei com a dor súbita. O dr. Fritz me repreendeu: “- Onde estarr seu fé?”, como se numa hora daquela eu lembrasse de fé. Em seguida mandou que eu deitasse na maca e foi mexer em alguns instrumentos. Virei a cabeça para a parede, já arrependido daquilo tudo. “O que vim fazer aqui?”, pensei. “Essa mulher é uma louca. Esse Fritz não é espírito, nem médico, nem coisa nenhuma.” Voltado para a parede não senti a aproximação da mulher. Senti, sim, a agulhada da injeção que ela aplicou no ombro, exatamente no lugar da dor! Gritei como um alucinado e quase me atracava com dr. Fritz e tudo. “Me aleijou, essa charlatã! Vou processar! Vou processar!” Não me perguntem o que havia ali e me foi injetado. Voltei para casa desesperado, amaldiçoando dr. Fritz, chamando-o de nazista, criminoso e o que mais me ocorreu. “Pense nos seus guias”, ele disse, à guisa de despedida. Me peguei então com são Pedro, são Paulo, são Francisco, são Cosme e Damião, que eram médicos. Apelei aos espíritas, dr. Bezerra de Menezes, Januário Cicco, irmã Sheila, André Luís. No aperreio chamei até por Ali Babá e os quarenta ladrões. Prometi ser o melhor homem do mundo a partir dali, contanto que não me deixassem perder o braço ameaçado. Em casa contei o sucedido, me lamuriando. “Não vou conseguir dormir...!” Mas dormi. E dormi tanto que só acordei as 13h00 do dia seguinte. Até hoje, e isso faz mais de 20 anos, não sinto nem sombra de bursite. Já pedi, claro, desculpas ao dr. Fritz por tudo que pensei e as besteiras que disse, esteja ele onde estiver, mesmo que não tenha explicações pra tudo que aconteceu naquela noite.

NATAL/2022

3 respostas para “Zé Arigó, Dr. Fritz e Eu”

  1. Evânia Flávia disse:

    Impossível não se divertir e aprender com seus textos. Abraço Fraterno.

  2. Francisco Alves de Mendonça disse:

    Bem, lembrado este acontecimento, quando conhecemos que existe algo a mas, além do nascer e morrer (fisicamente). ABS meu amigo Nilo

  3. Hugmara disse:

    Parabéns Professor Nilo,pela ótima esplanacão.
    Juscelino Kubitschek também procurou a cura de sua filha com o médium Arigó, embora para mim, a cura da sua bursite tenha sido algo palpável pra nós, já que escutamos da sua própria fala.
    Um abraço e até sexta 😃