VIAJANDO ATRAVÉS DA MÚSICA
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa É incrível o poder que a música exerce sobre as pessoas.
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa
É incrível o poder que a música exerce sobre as pessoas. Basta ligar o rádio, ouvir uma boa música para que ela invada nosso corpo, faça um percurso por nossa corrente sanguínea e pronto. Logo somos envolvidos por uma profunda sensação de paz e bem-estar. As músicas nos transportam para um mundo mágico de lembranças que nos aquecem o coração, fazendo com a gente esqueça as tristezas e os problemas que povoam nossa existência.
Como toda boa canceriana, eu gosto de ouvir músicas antigas, da época em que eu era adolescente, porque elas me remetem à boas lembranças. Nestes momentos, as recordações me fazem viajar no tempo e eu revivo os momentos da minha juventude na minha cidade de origem. Lembro-me das festinhas no Grêmio da Escola junto aos meus amigos de infância e dos bailinhos no Baixa-Verde Esporte Clube, onde ensaiei os primeiros passos como bailarina de salão.
Dizem, que à medida em que vamos amadurecendo, somos tentados a acreditar que as músicas apreciadas por nossa geração é a melhor. Comigo não é diferente. Assim, também sou tentada a acreditar que cultivo bom gosto musical. Afinal, sou filha de um músico e cresci em um ambiente profundamente musical.
De vez em quando me pego recordando as músicas que a minha avó cantava quando eu era criança e ela me colocava para dormir. Ela apreciava os cantores da época dela, os quais já partiram para alegrar as festas do céu, como Nelson Gonçalves e Ângela Maria, por exemplo.
Meu pai, por ser músico, apreciava tantos os cantores brasileiros como estrangeiros. Desse modo, aprendi a apreciar musicas de Altemar Dutra, Clara Nunes, Frank Sinatra, Beatles, Roberto Carlos e outros cantores da Jovem Guarda.
As letras das músicas destes artistas atravessam décadas. São verdadeiras poesias. Elas falam de amor puro, verdadeiro e até inocentes, o que encanta os nossos ouvidos e enternecem nossos corações. Incontáveis romances foram iniciados pelas poesias recitadas em forma de canções. Ah, como era agradável acordar no meio da noite ao som de uma serenata!
Lembro-me de que a cidade de Baixa-Verde recebia muitos parques de diversão, nos quais o locutor de voz empostada, atuava como cupido. Isto porque, os casais apaixonados ofereciam músicas especiais para seus pares. As mensagens, algumas das quais eram divulgadas de forma anônima, faziam a alegria de muitas moças e rapazes, presenças assíduas nos parques.
Nos “assustados” realizados nas casas dos amigos, as músicas ficavam por conta de grupos como Renato & Seus Blue Caps e The Fevers. Os “assustados” consistiam em grupo de jovens que chegavam de surpresa na casa de alguém portando uma radiola e alguns discos para improvisar um bailinho onde todos dançavam de rosto colado. À dona da casa cabia a responsabilidade de oferecer ao grupo alguns petiscos com ponche. Os jovens não bebiam bebida alcoólica.
Hoje, vejo com tristeza que tudo mudou. Os parques de diversão já não têm o encanto de outrora enquanto dos “assustados” só restam doces lembranças. Lamentavelmente, até a música já não tem a mesma qualidade de antes. É triste constatar que já não se faz música com os atributos de antigamente, onde a figura feminina era enaltecida, reverenciada como uma rainha através de letras românticas, pura poesia.
A música da atualidade retrata a mulher com uma linguagem vulgar e ofensiva. Nelas, a mulher é desrespeitada e não passa de uma cachorra, ou mero objeto de prazer. A poesia de outrora deu lugar às letras vulgares, baixas, imorais e grosseiras. Nada trazem de prazeroso ou cultural para as novas gerações.
Portanto, entre ouvir baixarias que ferem meus tímpanos, que em nada contribuem para o meu crescimento pessoal, prefiro continuar ouvindo as músicas antigas, uma vez que elas alimentam e deleitam o meu espírito. Elas me conduzem à uma viagem repleta de lembranças felizes.