Verão de uma andorinha só
Domicio Arruda – Médico urologista e cronista Com reportagens sem cinegrafistas, trocados por paus de selfie, conduzidas por repórteres desconhecidos e descartáveis, já estamos nos acostumando.
Domicio Arruda - Médico urologista e cronista
Com reportagens sem cinegrafistas, trocados por paus de selfie, conduzidas por repórteres desconhecidos e descartáveis, já estamos nos acostumando.
Ainda não se pode avaliar os resultados do método que abunda nas TVs, mas profissionais de outras áreas precisam ligar o pisca, e o sinal de alerta.
Diferente dos cobradores de ônibus e bombeiros de postos de combustíveis – que já não são encontrados em vários países – substituídos por tecnologia, os cameramen e women não tiveram ajuda dos legisladores.
Ninguém propôs lei que preserve empregos, proibindo a reportagem televisiva do eu sozinho.
Se a moda pega, vai revolucionar também a atividade médica.
Atendentes e secretárias de consultórios acabam de vez.
Consultas já são marcadas pelo WhatsApp e pacientes da vez são chamados pelo painel eletrônico.
Com aviso sonoro na voz clonada de Ísis Lettieri que poderá também ter o módulo de justificativa para os atrasos dos médicos.
De dez em dez minutos, a gravação avisará que o doutor está retido numa emergência no hospital, e que logo iniciará os atendimentos.
Por ordem de chegada.
Os cirurgiões terão que fazer suas operações sem o auxílio de instrumentadores.
O hospital disponibilizará o material.
É só pegar e usar, sem intermediários.
Enquanto não chegam os aparelhos que dão laudo, será o próprio radiologista que pedirá ao paciente para prender a respiração.
E apertará o botão.
Nos laboratórios, com equipamentos que analisam o sangue sem punções e furadas, os técnicos ficam sem utilidade.
É tanta novidade por vir, nesta longa pandemia, que não se espantem se provocarem mudanças climáticas radicais.
Os verões serão feitos por uma única andorinha.