UM PEIXE QUASE CENTENÁRIO: O DA COMADRE
Nilo Emerenciano – Arquiteto e escritor Estive, outro dia, almoçando na tradicional Peixada da Comadre, na praia do Meio.
Nilo Emerenciano - Arquiteto e escritor
Estive, outro dia, almoçando na tradicional Peixada da Comadre, na praia do Meio. O local é excelente, ali na rua Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, Ponta do Morcego, com uma vista maravilhosa de toda a extensão da praia.
Por ali funcionou o ASFARN, point dos anos setenta, o Castanhola, o Chernobil que reunia os descolados, o Chaplin, frequentado por mauricinhos, e atualmente o Cais 43. Em data mais próxima existiu um deck, obra do prefeito Aldo Tinoco, que contornava tudo aquilo e permitia um passeio curto, mas fascinante, sobre as ondas e as pedras negras. Hoje a praia do Meio é retrato do abandono. O deck ruiu, o Hotel Reis Magos foi demolido e nada foi feito em seu lugar, e os poucos proprietários remanescentes resistem de forma heroica. Pena. A praia é ótima, central, situada na orla urbana, bem servida de linhas de ônibus. A vista é linda e o banho em suas águas mornas fenomenal. Morro de inveja quando visito Maceió e a sua orla bem cuidada. O que nos falta?
A Peixada da Comadre se confunde com a história recente de Natal. A princípio funcionou nas Rocas, quase Canto do Mangue, próximo de onde depois foi inaugurado o cine Panorama. Almocei ali, primeiro em criança, levado por meu pai. A comadre ainda vivia. Anos depois, com o padre Zé Luís, que ia de mesa em mesa cumprimentando os políticos presentes – sim, a comadre era bem frequentada por políticos e empresários. Local simples, onde o brilho era reservado ao peixe, feito sem refinamentos gastronômicos, apenas com o auxílio luxuoso do pirão e o arrasador caldo como entrada. Uma das poucas unanimidades em termos de restaurantes: “o melhor peixe da cidade.”
A Comadre era Isaura Pereira da Silva, que começou tudo sem imaginar que dava início a uma duradoura tradição. Depois adoeceu. Dela tenho vaga lembrança, já doente. Após sua morte os trabalhos continuaram, agora sob o comando de quem passou a ser chamada Comadre Nova, Francisca Barros de Morais, sua nora, também já encaminhada pelos caminhos do céu.
Depois que a Comadre partiu, seu filho manteve a marca e abriu um ponto em Ponta Negra. E obteve financiamento para comprar esse local em que funciona hoje, na Praia do Meio.
Jerônimo e o irmão Cláudio se revezam na administração do restaurante. Reclamam do abandono da praia do Meio e sua natural consequência: as mesas vazias. Cláudio fala até em se transferir para João Pessoa, mais segura e não tão cara como Natal.
É visível nas paredes e ambiente em geral as dificuldades enfrentadas. Marcas do tempo e da falta de manutenção. Nossa cidade trata com desdém aquilo que tem de melhor, e que é tão valorizado nas cidades que se pretendem polos turísticos: história, tradição e qualidade. Talvez seja aquilo que chamam patrimônio imaterial.
Os irmãos fazem a sua parte. O peixe (fui servido com uma bonita posta de garoupa, ou galinha-do-mar) continua excelente. O caldo que abre a refeição é divino. O atendimento simples e perfeito, feito pelos proprietários. A grande vidraça permite que se veja a praia se estender até o Forte dos Reis Magos. Querem mais?
A continuar o abandono daquele trecho da praia do Meio, da Peixada da Comadre vai restar apenas uma ótima lembrança dos bons tempos. O que há conosco? Porque os homens que cuidam do nosso turismo não divulgam uma tradição de 90 anos? Porque os guias não conduzem os visitantes para conhecer o melhor peixe de Natal? Porque não há sinalização que indique a existência ali, na Ponta do Morcego, dessa excelente culinária local? Uma placa com a sua história, afinal ali almoçaram todos os nomes conhecidos da cidade, de políticos a artistas de renome nacional? E qual o motivo de não se refazer o deck, uma boa ideia, que cria a alternativa de passeio, fotos, e até a chance para os turistas pisarem a areia branca da nossa praia?
A não ser que vocês prefiram esses peixes cobertos com molho branco, bananas e outros complementos, peixe sem cheiro nem gosto de peixe, vamos lá, endossar esse apelo: em nome do bom gosto, da história, da tradição, das nossas origens e costumes, salvemos a Peixada da Comadre. João Pessoa já sequestrou nossas agulhinhas fritas ou assadas na brasa.
Chega! Tirem a mão da garoupa da Comadre!!!
Infelizmente os detentores dos poderes públicos da nossa cidade não tem olhos para cuidar desse pedaço histórico da nossa querida cidade do Natal.
Obrigado pela reportagem, vc disse tudo,o descaso com os pontos turísticos de nossa linda Natal é o ponto crucial prá não avançarmos,entra prefeito sai prefeito e nada é feito, o governo devia entrar com parceria mas não há interesse nenhum, o pensamento deles é só no poder, infelizmente não vejo futuro nenhum prá nossa cidade enquanto não aparecer dois grandes homens ajudado pelo maior que é nosso Deus.
Excelente. O turismo gastronômico fora do foco global local.
Dona Chiquinha, Comadre nova, e seus filhos. Meus saudosos amigos.
Realmente um descaso com nossas tradições. Lamentável!
Boa crônica
Infelizmente entra e sai prefeitos e nenhum olha nossa orla,que horrível, principalmente nesse trecho.
Fico triste com o descaso dos nossos ģovernantes. Uma bela praia se acabando a cada dia, e ninguém toma as providências. Esqueceram essa parte de Natal e só tem olhos para as praias do litoral sul. Entra e sai prefeitos ,governadores e ninguém faz nada pra reconstruirem essa praia . No qual foi uma das mais visitadas por atores, jogadores. Realmente ribeira, cidade alta e as praias ( praia do meio , dos artistas e fortes ) esqueceram mesmo . Na verdade esses políticos estão acabando com nossa cidade Natal . Uma vergonha, uma decepção dessa classe de políticos que não fazem nada pela cidade que foram eleitos. Mais o povo gostam de sofrer, já que a governadora foi eleita de novo né? Fazer o quê?