SOBRADÃO DA RUA DO COMÉRCIO 31
Valério Mesquita – Escritor (mesquita.
Valério Mesquita - Escritor (mesquita.valerio@gmail.com)
Anos passados, numa noite de inverno, desabou o teto do sobrado da rua João Pessoa nº 31 (hoje denominada rua Nair Mesquita), ou antiga rua do Comércio, Macaíba,. O prédio tem um valor sentimental para todos nós da família de Alfredo Mesquita Filho. Ali nascemos, no andar superior, Nidia Mesquita, minha irmã, e eu.
O casarão pertenceu ao meu avô paterno Alfredo Adolfo de Mesquita. Desde o inicio do século passado, no estabelecimento montou a sede do seu comércio de tecidos, perfumaria, miudezas e artigos em geral. Sua construção é do final do século dezenove. Constituía-se no último sobradão antigo que resistiu à onda modernista de novas edificações que desfigurou completamente a feição tradicional e clássica do centro da cidade. Da rua do comércio, décadas atrás, desapareceram a casa de Auta de Souza e Henrique Castriciano, o casarão onde nasceram Alberto Maranhão e Augusto Severo, a residência antiga do farmacêutico José Augusto Costa, o prédio da antiga Intendência ao lado da farmácia Milagrosa além do sobrado onde negociou o comerciante Francisco Saraiva Maia e perto da ponte o 1º andar, o Clube Sete, onde se divertia a nata da sociedade dos anos 30 e 40, antes do Pax Club.
Voltando à construção que ruiu, ali também residiram, além do meu avô, os meus pais desde 1933, quando se casaram, até os idos de 1945, ao tempo em que se transferiram para a casa da rua Francisco da Cruz nº 39, com a ida de minha avó paterna Ana Olindina de Mesquita morar em Natal, onde posteriormente faleceu. No seu inventário, posto que o seu marido falecera em 1929, a residência da rua da Cruz ficou com Alfredo Mesquita Filho, mas o sobrado da rua João Pessoa tocou para o seu irmão Vicente Mesquita. Vale acrescentar que vários inquilinos ali residiram após o casal Alfredo e Nair haverem se mudado: Cícero Luís e Silva, José Álvares e o próprio Alfredo Mesquita, quando reformou a casa da rua da Cruz, entre 1959 e 1962, aproximadamente. Finalmente, o prédio (foto) nº 31, foi adquirido pelo comerciante João Nicolau de Oliveira, pai dos amigos Jorge, Juarez, Zito, Josiel e Jonas, passando residir ali. Com o seu desaparecimento e a divisão do espólio, coube ao seu filho e advogado Juarez Lima a sua herança.
Com o passar do tempo, vendo os antigos imóveis da então rua João Pessoa e da Conceição serem demolidos, manifestei, por várias vezes, o desejo de adquiri-lo através de emissários e familiares do proprietário, não sendo possível, todavia, consumar o intento. Com o infortúnio do seu desmoronamento foi-me oferecido por intermédio de alguns familiares a sua aquisição. Passei diante do sobrado, revivi as minhas silenciosas emoções e deplorei não poder, naquela época, concretizar o meu sonho. Admito que o trabalho de restaurá-lo fidedignamente é hercúleo e caro. Sei apenas que ali, sob os escombros, há de ficar um significativo pedaço da história de nossas vidas. E de cidade.