Rio Mipibu e o Vale do Trairí

Cristovão Ferreira – Mipibuense, radicado no Rio de Janeiro/RJ(ferreiracristovao6@gmail.

Cristovão Ferreira - Mipibuense, radicado no Rio de Janeiro/RJ(ferreiracristovao6@gmail.com)

O rio Mipibu, nasce nos 'olheiros' na Mata da Bica, passa pelo sítio Morgado (de propriedade dos Peixotos) ,depois atravessa, por um bueiro, a rodovia de acesso a cidade de Nísia Floresta, entra no terreno do Engenho Mipibu(da família Sales) e, finalmente, desemboca no Rio Levada do Espinho, no Vale do Trairí. 

Nascente do rio Mipibu, na Mata da Bica - Foto: Amauri Freire

A Mata da Bica antigamente era uma floresta onde localiza a nascente do rio Mipibu. Manancial muito importante para o abastecimento d'água da cidade, atualmente, realizado por meio de poço tubular da Caern.

Nos anos 50 e início de 60, os mipibuenses iam, diariamente, tomar banho naquela nascente de água límpida. No local, eram vistas lavadeiras que ganhavam seu sustento, com lavagem de roupas.

Lavadeiras de roupas, na nascente do rio Mipibu - Foto: Luis Carlos Freire

Esse rico manancial, como outros, sofreram e sofrem, ainda, com o descaso dos nossos administradores municipais.

Eu, me pergunto: - Porquê tanto descaso?

Há uma outra nascente em São José de Mipibu: a do Rio Pituba que tem sua nascente no bairro Bela Vista e deságua, também, no Rio Levada do Espinho, no Vale do Trairí.

A luta de alguns poucos mipibuenses, liderados pelo ambientalista Amauri Freire, de nada adiantou e adianta, para salvar o meio ambiente de São José de Mipibu, formado pela Mata da Bica e o Rio Pituba.

O descaso continua, por várias gestões municipais. No ano de 2004, presenciei uma reunião do Plano Diretor de São José de Mipibu. Na ocasião, se discutia três grandes problemas da cidade: a superlotação do cemitério; a questão do Matadouro Municipal e a preservação da Mata da Bica e da nascente do rio Pituba. Como estava em plena campanha eleitoral para prefeito e vereadores, tiraram de pauta dos debates, esses problemas. Penso que era para não prejudicar candidatos ligados a quem idealizou aquela comunidade, nas imediações da Bica.

Além da criação de uma comunidade desordenada, a bandidagem  apoderou-se da área. Ninguém tem coragem de visitar a Mata da Bica. Se for, fica sob a mira de bandidos e traficantes de drogas, que agem livremente.

Me chegam comentários que estão reflorestando a mata. Como? Reflorestar com árvores frutíferas? Não é reflorestamento é um paliativo inadequado. Se for eleito um prefeito comprometido em desapropriar aquelas casas e remanejar para um conjunto residencial, seria o começo. Isso é possível com vontade política e muito amor à Mipibu, em querer salvar a Mata da Bica e da Pituba.

Bananeiras plantadas na margem do Rio Mipibu - Foto: Amauri Freire

É possível sim, salvar a Mata da Bica e a Pituba, basta ter vontade política e comprometimento com o meio ambiente. 

O Vale do Trairi, é composto por três rios: Trairí, Ararai e o Rio Levada do Espinho, que divide o Vale com a Fazenda Canadá. Os rios; Pituba, Rio Preto e o Rio Mipibu, são afluentes do Rio Levada do Espinho, que os tornam um rio perene, Já o Trairi e o Araraí, são periódicos. Quando há enchente dos rios do Vale do Trairi, os três rios se juntando um só rio.

Na minha adolescência conhecia o Vale do Trairí, muito bem, porque caçava e pescava naquela área. O Rio Levada do Espinho, por ser perene, as águas são abundantes em peixes, como: traíras, cangatis, mussuns e camarões pitus.

Nas tardes, após às aulas, íamos com uns amigos, entre eles, Zé (da caixa d'água) e Elias (funcionário do Senhor Júlio Ramalho, proprietário dos geradores de energia elétrica da cidade), aguardar os marrecos, que ao cair da tarde migravam da Lagoa do fumo para Lagoa de Boa Cica (em Nísia Floresta). Os marrecos vinham em bando em forma de asa delta, nós ficávamos em pontos estratégicos com espingardas de soca, preparadas para espalhar chumbos e atingir o máximo daquelas aves. Mirava-se em uma e a espingarda espalhadeira atingia várias aves. 

Em algumas vezes, íamos pescar à noite, camarões pitus, traíras, mussuns... Na margem do Rio Levada do Espinho, preparávamos pesqueiros dentro das canarana (espécie de capim parecido com cana-de-acúcar) e pitimbóias (tipo de rede pequena) e puçá, com  taliscas de madeira, colocando mandioca apodrecida e limão, amarrados na madeira.

Os camarões vinham para o 'banquete' (isca). Com uma lanterna, observávamos se alimentando. Era só suspender as pitimboias, que eles caiam dentro. Em seguida, despescávamos e colocava no mesmo local para atrair mais camarões.

Enquanto isso, ficávamos com varas, pescando mussum ( peixe que habita lagos, córregos, brejos, pântanos e rios, podendo sobreviver a longos períodos enterrado na lama. É um peixe com hábitos noturnos). Lá pela meia noite, recolhíamos as pitimbóias e voltávamos para casa, todos cansados, já que íamos à pé e ao retornar, acrescentava o peso dos pescados e das pitimbóias molhadas. Ao chegar em casa, dividiámos os pescados.

Existia uma 'pininba' (birra) entre os mipibuenses e os goianienses (natural de Goianinha). Se comentava que Goianinha era a "Terra do mussum", onde se vendia mussum por metro. Os goianienses ficam 'fulos de raiva'. Na realidade, a terra do mussum era Mipibu.

Hoje não vende mais. Pelo menos o tempo que fiquei por São José de Mipibu, entre os anos 2000 e 2006, não observei vender esse peixe no mercado público. Antigamente os mussuns eram vendidos na feira dos peixes. Ele tem o formato de uma cobra preta, mas é perfeitamente diferenciado por ser muito escorregadio e a calda ligeiramente em forma de rabo de peixe.

Para segurar o mussum, há uma técnica: prende entre o dedo maior e o anelar e o indicador. Segura forte e dessa forma ele não escorrega.

Pense numa muqueca gostosa, a de mussum... É trabalhoso para limpar, mas depois, se torna um prato especial.

Como tenho saudade daquelas aventuras

Uma resposta para “Rio Mipibu e o Vale do Trairí”

  1. Fernando Moraes disse:

    👍🏼Parabéns, pelas lembranças de outrora e pela preocupação e cobrança de ações efetivas para a sobrevivência dos mananciais de Mipibu.