‘Quem se diz cristão ou cristã deve ser agente da paz’ e ela ‘não se constrói com armas’, diz presidente da CNBB

setembro 3, 2021

Em mensagem pelo Sete de Setembro, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade ligada à Igreja Católica, Walmor Oliveira de Azevedo, disse que os cristãos devem ser agentes da paz e que é um absurdo defender o armamento da população.

Dom Walmor de Oliveira, presidente da CNBB Foto: Divulgação

Em mensagem pelo Sete de Setembro, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade ligada à Igreja Católica, Walmor Oliveira de Azevedo, disse que os cristãos devem ser agentes da paz e que é um absurdo defender o armamento da população. Ele também pediu que as pessoas não se deixem convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário. Citou ainda o desemprego e a alta inflação, defendeu os direitos dos índios, e criticou a derrubada das matas que está provocando uma redução da quantidade de água no país.

No vídeo divulgado pela CNBB, Walmor, que também é arcebispo de Belo Horizonte, não citou em nenhum momento o presidente Jair Bolsonaro ou o governo federal. Mas a mensagem é um recado contra as políticas e condutas adotadas por Bolsonaro. O presidente vem, por exemplo, afrouxando as regras ambientais e para a aquisição de armas, e atacando outros poderes, em especial ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

— O Brasil está sendo contaminado por um sentimento de raiva e de intolerância. Muitos, em nome de ideologias, dedicam-se a agressões, ofensas, chegando ao absurdo de defender o armamento da população. Ora, quem se diz cristão ou cristã deve ser agente da paz, e a paz não se constrói com armas. Somos todos irmãos — disse o presidente da CNBB.

Depois, pediu:

— Não se deixe convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário. A existência de três poderes impede a existência de totalitarismos, fortalecendo da liberdade de cada pessoa. Independentemente de suas convicções político-partidárias, não aceite agressões às instituições que sustentam a democracia. Agredir, eliminar, hostilizar, ignorar ou excluir são verbos que não combinam com uma democracia que busca cada vez mais se consolidar.

Ele pediu também orações pelas vítimas da Covid-19:

— Rezemos especialmente pelas vítimas da Covid-19, mal que ainda nos ameaça e que vamos superar com o fundamental apoio da ciência. Por isso é importante que cada pessoa procure se vacinar e respeitar as medidas de segurança, fundamentais para se evitar a propagação da doença. Vacinar-se é ao mesmo tempo cuidar de si, do outro, dificultando a circulação da Covid-19. É um compromisso ético, uma tarefa cristã.

No vídeo, o arcebispo afirmou que a intolerância afasta as pessoas de Deus. Também disse que os cristãos não podem ficar indiferentes à realidade de desemprego e alta inflação, agravada pela pandemia. Avaliou que são urgentes políticas públicas para a retomada da economia e a inclusão dos mais pobres no mercado de trabalho, e também apontou a ocorrência da fome:

— A fome é realidade de quase 20 milhões de brasileiros. Aquele pai que não tem alimento a oferecer para o próprio filho é seu irmão, nosso irmão. Do mesmo modo, a criança e a mulher feridas pela miséria são suas irmãs, nossos irmãos e nossas irmãs.

O presidente da CNBB disse ainda que “é dever cristão estar sempre aos lado dos pequeninos, dos que sofrem, defender os índios”.

— Os povos indígenas, historicamente perseguidos e dizimados, enfrentam grave ameaça. A pressão de um poder econômico extrativista, ganancioso, que tudo faz para exaurir nossos recursos naturais. Esse poder tenta manipular instâncias de decisão, alterar marcos legais para avançar sobre terras indígenas, dizimando a natureza, os povos originários e a sua cultura — afirmou Walmor, numa referência ao julgamento no STF sobre o marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

Sobre o meio ambiente, afirmou:

— A exploração desmedida e irracional do solo, com a derrubada de florestas, está levando à escassez de água em nossas torneiras. Não podemos deixar que o Brasil, reconhecimento internacionalmente por ser rico em recursos naturais, seja devastado e torne-se uma terra arrasada.

O GLOBO

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