O homem que parou o Trem da Esperança

Cristóvão Cavalcante – Mipibuense residente no Rio de Janeiro Escrever sobre a história, relatando fatos e acontecimentos que marcaram o desenrolar político de uma época, é certamente um grande desafio.

Cristóvão Cavalcante – Mipibuense residente no Rio de Janeiro

Escrever sobre a história, relatando fatos e acontecimentos que marcaram o desenrolar político de uma época, é certamente um grande desafio. Vamos lembrar um acontecimento, ocorrido em 1965, por ocasião da acirrada campanha política para governador do Rio Grande do Norte.

HISTÓRICO

A eleição de Dinarte Mariz em 1955 ao Governo do Estado registrou a chegada da UDN ao poder. Mariz foi eleito pela coligação UDN-PSP-PDC, tendo tomado posse à 01/02/1956. Desde então, começaram a surgir grandes conflitos entre os udenistas Aluizio Alves e o próprio Dinarte, pois ambos tinham finalidades comuns: o domínio do poder político no Estado. Este conflito foi se consolidar com a proximidade da eleição que definiria o sucessor de Dinarte Mariz, em 1960, quando Aluizio Alves saiu candidato ao governo do Estado.

Dinarte Mariz
Aluízio Alves

Nas eleições de 1960 ocorre o rompimento definitivo entre Aluizio Alves e o governador Dinarte Mariz, pois, Aluizio se candidatou ao governo do Estado e Dinarte Mariz decidiu apoiar o nome de Djalma Marinho. Assim, o Estado foi dividido entre os partidários das duas lideranças políticas; dinartistas de um lado e aluizistas de outro.

A campanha política de 1960 alterou o cotidiano da cidade do Natal como também, mexeu com a calmaria do interior do Estado. O povo participou ativamente dos comícios e passeatas, as ruas pareciam verdadeiras "praças de guerra", num duelo de cores, gestos e símbolos entre os partidários de Aluizio Alves e Djalma Marinho.

Nas residências dos aluizistas passaram a ter uma bandeira verde, que simbolizava os votos existentes naquela casa. A medida em que a política se desenvolvia era criado um clima de guerra, com desavenças, entre vizinhos, amigos e até familiares. Muitos namoros chegaram ao fim, sociedade eram desfeitas, pais passaram a brigar com os filhos, altas apostas eram feitas pelos mais endinheirados. Muitas residências foram pintadas na cor verde.

A coligação partidária que apoiava a candidatura de Aluizio Alves denominou-se "Cruzada da Esperança". O verde tornou-se a cor oficial da campanha e Aluizio Alves convocou a todos seus partidários que fossem à praça pública de camisas, lenços e bandeiras verdes. Por outro lado, seus adversários usavam as bandeiras vermelhas ornadas com um chapéu de palha ao fundo.

Aluizio Alves venceu as eleições do dia 3 de outubro de 1960, obtendo uma votação notável. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral, Aluízio venceu em todo o Estado com uma maioria de 24.378 votos sobre o seu adversário, Djalma Aranha Marinho (Fonte: Monografia de Marileide Carvalho de Macedo - "O pioneirismo do marketing político no RN: A campanha da Cruzada da Esperança- 1960).

TREM DA ESPERANÇA

Na campanha política para governador, em 1965, os potiguares assistiram a uma reedição do embate havido em 1960 entre as forças políticas comandadas por Aluizio Alves e Dinarte Mariz e se naquela ocasião Alves triunfou sobre Djalma Marinho, dessa vez a derrota afligiu ao próprio Mariz numa peleja contra Walfredo Gurgel.

Em 1965, exatamente há 58 anos, a campanha eleitoral a Governo do Estado, estava acirrada, entre os candidatos Monsenhor Walfredo Gurgel, pela Arena Verde e Dinarte Mariz, pela Arena Vermelha.

Foto: Brechando

O Trem da Esperança, idealizado por partidário de Aluizio Alves, partiu de Natal lotado de correligionários da Arena Verde, com parada em várias estações, durante o percurso, que tinha Nova Cruz como destino.

Uma dessas paradas foi em São José de Mipibu, na Estação de Cima (era localizada próxima a Rua Bonfim). Desde cedo, dezenas de eleitores se aglomeravam no local, vestindo roupas verde e portando bandeiras e galhos de árvores. O trem passava pelo 'Grupo Novo', atual Bairro Novo, quando o maquinista acionou o apito. A multidão corria ao lado da locomotiva que transportava apoiadores, até em cima dos vagões da composição. O maquinista, por precaução, reduziu a marcha para evitar um acidente com as pessoas que seguiam a pé, até a Estação de São José de Mipibu (Estação de Cima). Houve uma breve parada, onde onde o candidato a governador, Monsenhor Walfredo Gurgel fez um breve discurso, ovacionado pelos presentes.

Estação de Cima (demolida)
Estação de Baixo (atual Restaurante Papary)

O Trem da Esperança seguiu viagem na velocidade normal, com uma grande multidão seguindo a pé até a Estação de Papary, ('Estação de Baixo') hoje, Estação de Nísia Floresta. Lá já havia centenas de eleitores a espera. O delírio dos simpatizantes crescia a cada parada. Finalmente, o trem chega ao destino: a cidade de Nova Cruz, onde vieram correligionários em caravana, das cidades vizinhas. Foguetões, discursos inflamados e muita música, cantada pelas 'Alas Moças (jovem da sociedade, vestidas verde).

Dr. Aluizio Bonifácio Feitosa(in memoriam) e sua esposa Crisólita ('dona Linda') - Foto: 2000

Ao retornar para Natal, o trem que passaria na Usina Estivas, situada no município de Arez, teve que parar por conta de obstáculos, sobre os trilhos. Na época, comentou-se que a ordem partiu do Administrador da Usina Estivas, Dr. Aluizio Bonifácio (in memoriam), apoiador do senador Dinarte Mariz, candidato da Arena Vermelha, que a frente de dezenas de trabalhadores da Usina, fizeram uma barricada com troncos de árvores, na linha férrea na propriedade da Usina Estivas.

Usina Estivas - Fonte: RN Econômico, 1972.

Foi um 'auê dos diabos, esse fato como outros perseguições, alavancou mais a popularidade do Monsenhor Walfredo Gurgel. Foi chamado a força de policiais militares, da cidade de Goianinha e com ajuda dos correligionários desimpediram a passagem, prosseguindo a viagem de volta a Natal, sem mais qualquer sobressalto.

Chegando na capital, a festa continuou noite a dentro...

Monsenhor Walfredo Gurgel já cansado se despede da multidão e esbaforido se desloca a sua residência. No outro dia, nas antenas das rádios e jornais, as reportagens eram avassaladora Deu no que deu. O velho sacerdote foi eleito com uma margem mais do que as pesquisas apontava.

Quatro anos depois(1968), Dr. Aluizio Bonifácio se candidatou a prefeito de Arêz, pela ARENA, tendo como companheiro de chapa Antônio Bráulio da Cunha. Venceu as eleições para administrar o município de 1969-1973.

Dr. Aluizio Bonifácio por ocasião da posse, na Câmara Municipal, como prefeito de Arêz
Dr. Aluizio, discursando por ocasião de uma solenidade na cidade

PS. Uma observação que vim saber após escrever este texto, o Dr. Aluízio Bonifácio era sogro do nosso amigo José Alves ('Dedé do Alerta).

3 respostas para “O homem que parou o Trem da Esperança”

  1. Fiquei emocionada ao relembrar essa passagem em nossas vidas! Aluísio, meu esposo, era um guerreiro do bem, amado e respeitado por todos!

  2. José Itamar de Freitas Gurgel disse:

    Nessa época eu morava em Mipibu, lembro muito bem desse acontecimento. Até porque meu pai Fernando Gurgel, era primo legítimo de Walfredo Gurgel e eu sempre o acompanhava nesses eventos.

  3. Há lembrei – me de um caso: ‘ Em 1960 meu pai apoiava Dinarte Mariz e minha irmã mais velha Arilda também. Eu, sempre fui atrevido e cantava as marchinhas do então candidato AA, que meu pai ficava fula da vida. E chamava Aluízio Alves de demônio de capa verde. Isso não impedia de eu, minha mãe, minhas irmãs Vicentina e Verinha participacemos dos comícios nas cidades perto de Mipibu. Vicentina minha irmã era ala moça, vestida a Carter e com bandeira verde.