O declínio do império americano

julho 7, 2024

Cefas Carvalho – Jornalista e Escritor Chamou minha atenção a charge divulgada dia desses, por ocasião do debate entre os dois candidatos à presidência dos EUA, o atual Joe Biden e o anterior, Donald Trump.

Cefas Carvalho - Jornalista e Escritor

Chamou minha atenção a charge divulgada dia desses, por ocasião do debate entre os dois candidatos à presidência dos EUA, o atual Joe Biden e o anterior, Donald Trump. Na imagem, o desenho mostra o primeiro numa cadeira de rodas e com um soro, assistido por uma enfermeira, fazendo menção ao estado de saúde frágil e os lapsos de memória e atenção dele. E mostra o segundo com roupa laranja de presidiário assistido por um policial penal, em clara menção aos processos judiciais no qual foi condenado, um deles envolvendo chantagem a uma atriz pornô. Nos comentários da charge, a terrível obviedade: um desses dois senhores vai ocupar o cargo mais poderoso do mundo.

Como os EUA chegaram a esse ponto? Tudo bem que Bill Clinton e George Bush pai não eram exatamente os políticos mais brilhantes e inteligentes da Terra, mas o fato é que neste 2024 o cenário ficou muito mais grave e problemático. Trump, como se sabe, é machista, misógino, racista, xenófobo e tentou destruir a tão propalada democracia americana com incentivo à invasão a um dos pilares dessa democracia, o Capitólio. Já Biden, cheio de contradições e um passado complicado, vem apresentando cansaço mental e falta de foco em vários eventos públicos. Preocupantes para quem comanda um exército e um arsenal nuclear como o dos USA.

Atualmente as pesquisas indicam um empate técnico entre Biden e Trump. Mas o que preocupa o Partido Democrata é que Biden, de 81 anos, parece não ter a saúde e força necessárias para enfrentar um opositor de 78, mas que parece inteiro e mantém a postura agressiva e o tom de voz alto que o caracterizam. Em suma, Biden parece muito velho, Trump, não. Isso pesa para o eleitorado, claro.

Daí setores do Partido Democrata e do eleitorado desejar que Biden abdique da candidatura à reeleição. Pesquisas mostram que essa é a maior chance do partido se manter no poder e evitar entregar o Governo Federal para os Republicanos. No cenário de pesquisas entre Trump e líderes democratas, quem aparece com mais chances de vencer Donald é a ex-primeira dama Michelle Obama, com 10% em média de vantagem.

Contudo, se Biden desistir, a candidatura natural seria a de outra mulher: a atual vice-presidente Kamala Harris. Advogada e ex-senadora pela Califórnia, ela guarda vários simbolismos em sua trajetória política. Negra e filha de jamaicano e indiana, ela representa justamente a imigração que Trump tanto odeia e combate, e esse será um dos temas centrais da campanha.

Por um lado é salutar que em um país por vezes tão conservador e tradicionalista como os EUA, as duas candidaturas capazes de barrar a extrema-direita sejam de mulheres negras, uma delas já vice-presidente. Por outro, é preocupante que uma figura como Trump, presidente que negou a Covid e pandemia, tentou construir um muro para separar os EUA do México e desrespeitou por várias vezes a Constituição e a Democracia, tenha ainda preferência de 50% do eleitorado.

Trump é o nome mais conhecido de uma extrema-direita populista que está há anos em crescimento pelo mundo, com resultados diversos. Bolsonaro, no Brasil, não conseguiu reeleição, amargou inelegibilidade e pode ser preso a qualquer momento por um balaio de motivos, que vão de tentativa de golpe de estado e roubo de jóias. Na Argentina, Milei tem popularidade mas a economia está pior do que antes. Na França o eleitorado elegeu a extrema-direita como maioria no parlamento e agora se espera a possível união entre direita tradicional e esquerda para evitar o mal pior.

Sim, as eleições na França e nos EUA podem sinalizar e até mesmo decidir o rumo e futuro da democracia no planeta. Não são tempos fáceis e a atração de parte do eleitorado mundial pelas pautas da direita merece atenção e mais alguns textos.

Em tempo, o título desse artigo é menção cinéfila ao filme "O declínio do império americano", do canadense Denys Arcand, de 1986, cuja história se passa no Canadá e não nos EUA, onde um grupo de amigos debate temas importantes às voltas com relacionamentos e problemas. Voltei a lembrar do filme (e de sua ótima e premiada continuação, "As invasões bárbaras") ao ler entrevista recente do cineasta, intelectual e humanista, na qual ele afirmou que "estou totalmente perdido diante do mundo atual". Todos nós, Denys, infelizmente.

Uma resposta para “O declínio do império americano”

  1. Carlos disse:

    É, que a Obama chegue a disputa com reais condições de superar o louco.