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julho 11, 2021

FIGURAS MIPIBUENSES – Arlindo Izaías de Macêdo

José Alves – Jornalista e editor do jornal e blog O ALERTA   Era o ano de 1917, uma manhã qualquer do mês de fevereiro, quando estaciono o carro na marginal direita da BR-101, no perímetro urbano de São José de Mipibu, e observo um pequeno sítio, cheios de figuras esquisitas e uma placa “Escaninho […].

José Alves – Jornalista e editor do jornal e blog O ALERTA

  Era o ano de 1917, uma manhã qualquer do mês de fevereiro, quando estaciono o carro na marginal direita da BR-101, no perímetro urbano de São José de Mipibu, e observo um pequeno sítio, cheios de figuras esquisitas e uma placa “Escaninho do Poeta”, em frente a uma pequena e simples casa, semelhante a muitas das proximidades.

Era nesse local que residia o poeta Arlindo Izaías Macedo, figura bastante conhecida em São José de Mipibu e que após seu falecimento, em 31 de março de 2018, esse sítio, bem como a casinha, foi demolido.

Assim, iniciei a matéria, publicada no jornal O ALERTA, edição 474 – de fevereiro de 2017:

“O sítio, onde Arlindo Izaías mora, chama a atenção de quem está passando na marginal da rodovia federal. Não pelas plantas, e sim pela coleção de inusitadas obras que ele produz a partir de material jogado e que aproveita para fazer uma exposição de objetos de madeira, cerâmica, pedaços de brinquedos, eletrodomésticos, jogados no lixo. O local chama a atenção e muitos curiosos param para ver o trabalho desse artista plástico mipibuense, mas, que ele gosta de ser intitulado por “Poeta povo”.

Arlindo nos recebe com simpatia e já vai falando sobre seus trabalhos. Mostra cada peça que ele transforma. Algumas são feitas a partir de madeira seca que encontra em árvores caídas, que esculpe e pinta, depois, complementado com diversos materiais descartados. O resultado soa surreal, infantil, ou assustador ao mesmo tempo. Há um peixe voador feito de raiz, com chifres de boi, hélice na cabeça e pintado de preto; um cachorro de cerâmica com óculos; um robô feito de madeira, monitor de computador e rodas de velocípede; figuras com cabeças de boneca e corpos de madeira ou de peças de bicicleta, um fantasma segurando uma cabeça...

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As árvores do sítio têm hélices e figuras penduradas nas árvores. Uma jarra de cimento virou uma carranca humana. Máscaras, manequins e roupas que são rearranjadas segundo a imaginação do artista. As figuras humanas ou animalescas que Arlindo cria não tem uma fonte de inspiração única. “Tudo que eu vejo me inspira, é uma forma de aliviar minhas tensões”, diz. 

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O atelier a céu aberto de Arlindo recebe constantes visitas, principalmente de escolas locais e de Natal. “A criançada adora isto aqui. Eu fico muito feliz quando ficam impressionadas com as imagens. Ele conta que não produz mais para vender, mas os interessados podem sempre chamá-lo na porta para apreciar suas criações de perto, diz.

Terminado de observar as “esculturas” de material reciclável, me sento num banco e começamos a conversar e falar de sua vida. Anoto tudo...

Arlindo Izaías de Macêdo nasceu em São José de Mipibu, em 17 de junho de 1951, “portanto, irei completar este ano, 66 anos. Sou filho de José Izaías Filho e Antonia Martins de Oliveira, que tiveram 25 filhos. Desses, só restam cinco”, diz.

Sua infância foi igual à de outras crianças, numa época em que não existia violência e os meninos eram criados “soltos na rua”. Mas existia respeito aos pais, amor e temor. Porém, muito diferente dos dias de hoje. 

Foto Ilustrativa

Para um pouco, como se puxasse pela lembrança do passado: ”tenho boas recordações daquela época, das brincadeiras, dos costumes. Vivíamos pelos engenhos, tomando garapa e comendo puxa-puxa e rapadura. Mas, bom mesmo, eram os banhos na Bica, nos rios Pituba, Mipibu e na Lagoa do Bonfim”.

Foto Ilustrativa

Arlindo se lembra de alguns amigos de infância, como: Raimundo Macedo, Babú, Beto Barbalho, Afrânio, Tupi, os filhos da família Fagundes. “Estudei o primário (fundamental) no Instituto Pio XII e o Admissão, na Escola Barão de Mipibu. O Supletivo de 1º Grau, cursei na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro”.

Ao alcançar a adolescência, consegui um emprego no Cartório de José Rinaldo e depois fui promovido à escrevente e chefe do Cartório Eleitoral. “Juntei um dinheirinho e aos 18 anos fui embora para o Rio de Janeiro, onde passei dez anos. Meu primeiro emprego no Rio, foi na empresa Desmontador Gordo e o Magro”.

Nesse período, sempre que podia, Arlindo vinha matar a saudade em São José de Mipibu, principalmente, por ocasião dos festejos juninos e de fim de ano, onde a cidade se transformava, recebendo filhos distantes e visitantes.

Foto Ilustrativa

Arlindo resolveu voltar para sua terra. Trabalhou em Cyro Cavalcante, em Natal e depois foi aprovado em concurso público na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Posteriormente, fui exonerado do emprego federal, por “abandono de serviço”. “Nessa época, já era alcoólatra. Porém, há 26 anos que frequento o AA e estou ausente do álcool”.

Arlindo fala que, também, já foi locutor de campanhas políticas, nas memoráveis campanhas, da família Ferreira, além de locutor de propaganda comercial.

POETA

Recitando versos, na Câmara Municipal de São José de Mipibu
- Foto: Daltro Emerenciano

Ao falar de sua veia poética, seus olhos brilham. Arlindo já lançou dois livros de poesia, “Na sombra da Catanduva” e “A fonte de poesia”. Está sempre escrevendo versos para futuras publicações.  Atualmente está concluindo o 36º livro de poesia. “Já escrevi seis livros de história e dois cordéis referente personagens da cidade”. Entre seus livros, estão: "Na Sombra da Catanduva "e "A fonte de poesia".

Homenagem a São José de Mipibu  

São José, terra amada

De um povo simples e gentil

 Uma terra abençoada

 No meu querido Brasil.

São José que tem um clima puro e tropical

 Também és um pedacinho descoberto por Cabral

Uma terra aconchegante

 de um povo acolhedor

 São José é povo bravo

cheio de alegria e amor.

São José terra do Norte

 conhecida até no Sul/

Terra de um povo amado -

 a do Barão de Mipibu.

Ele se auto-intitula de poeta, artista plástico, escritor e talhador. “Meu ateliê é ao ar livre, no Escaninho do Poeta. Por conta desse meu trabalho, sempre aparece gente aqui. Alguns turistas até pedem para entrar para fotografar. Há uns dias atrás alunos do Colégio Marie Jost, de Natal, estiveram visitando o local”, disse.

Obras produzidas por Arlindo, com materiais descartáveis - Foto: TN

Sobre a cultura em São José de Mipibu, diz que sempre foi elevada, com bons artistas. “Aqui é um celeiro de artista, porém seus trabalhos são desvalorizados”.

Sobre o seu futuro declara: “pretendo deixar um legado para São José de Mipibu’, em relação a poesia, filosofou; “Poesia é alimento, é tônico que alivia as sequelas da vida”.teria.

Despeço-me de Arlindo e ao atravessar o portão do sítio ele faz um pedido: para incluir, na entrevista a mensagem: “Nasci em um país arbitrário e morrerei na arbitrariedade do meu país”.

“Nasci em um país arbitrário e morrerei na arbitrariedade do meu país”.-
Arlindo Izaías Foto: Alexandre Freire

Arlindo veio a falecer, a madrugada do dia 31 de março de 2018, no Hospital Monsenhor Antônio Barros, onde estava internado. O corpo foi velado no Centro de Velório Sagrado Coração de Jesus, localizada na Av Moizaniel de Carvalho. O sepultamento ocorreu, às 16h, no cemitério local, após missa de corpo presente, na Matriz de Sant’Ana e São Joaquim.

Arlindo deixou o filho, Marcos Antônio Izaias de Macedo, publicou mensagem por ocasião de seu falecimento: “Um homem integro, de família de tradição Arlindo era apaixonado por São José do Mipibu. Pai de um único filho deixa eterna saudades. Filho e seus netos que todos lhe amam. Deus tenha sua alma em um ótimo lugar”.  

MEU NOME É OMISSÃO

Acabaram-se as senzalas, os troncos e as chibatas

Mas, é verdadeira ilusão

Hoje a tortura, apresenta-se

Com o nome, de omissão

Ela apresenta-se, como um falso paliativo

Com aquele, aperto de mão

E, um patético sorriso

Assim, apresenta-se a omissão, como um bom amigo

São as senzalas, os troncos e as chibatas

Dos prepotentes coronéis

Torturadores de muitas almas e, devastadores de corações

Que continuam massacrando o povo de Mipibu

Com este prepotente nome, OMISSÃO

Em seu blog de Olho em Mipibu, o professor Alexandre Freire escreveu: É com muita tristeza que noticiamos o falecimento de Arlindo Isaías de Macêdo, o POETA DE MIPIBU. Há alguns anos, Arlindo esteve colunista deste blog. Polêmico e sem "papas na língua", através da coluna "Fala Cidadão", ele reivindicava melhorias para São José de Mipibu.

Arlindo gravando matéria sobre o abandono do ginásio poliesportivo "Arlindão", na coluna Fala Cidadão, do blog De olho em Mipibu. Foto: Alexandre Freire

Em um vídeo, Alexandre publica matéria realizada em junho de 2011. O poeta mipibuense trouxe uma matéria sobre o abandono do ginásio poliesportivo O Arlindão, por parte da gestão, da então prefeita Norma Ferreira. Entretanto, assim que o prefeito Arlindo Dantas assumiu, em 2013, reformou aquela praça esportiva, trazendo dignidade e mais uma opção de lazer aos nossos desportistas.

No blog Mipibu de Olho na Verdade, editado à época, por Edivanil Pontes, a professora Francineide (‘Fran’) Moura, mostrou seu descontentamento com um episódio ocorrido com o poeta Arlindo Izaías:

Professora Francineide Moura

“Fiquei indignada com o que ouvi do poeta Arlindo Izaias. Ele narrou que foi convidado pelo apresentador Júlio Silva, para participar do seu programa, surpreendentemente ao chegar ao estúdio da FM 87,9, tomou conhecimento que o diretor da emissora, não permitia a divulgação da cultura popular. Júlio disse para Arlindo que o diretor havia dito que ele iria sujar o programa.

A minha pergunta é: Essa FM Olho D'água é realmente comunitária? Gostaríamos de saber qual é a postura do deputado Fábio Dantas e de seu pai Arlindo Dantas. Que constrangimento, para um poeta de nome como Arlindo. Um verdadeiro, um ser comunitário que dedica uma parte da sua vida ao irmão mipibuense. Defensor nato dessa terra. Isso merece uma ação por danos morais”.

Achados da Quarentena (De Amauri Freire, publicado, recentemente, nas suas redes sociais)

“Remexendo o baú de arquivo de imagens me deparei com esse interessante achado, a visita do poeta Arlindo Izaías ao programa de rádio do amigo Lourival Cavalcanti, veiculado nas tardes de sábado, pela Rádio Olho D'água, de São José de Mipibu.

Esse encontro ocorreu em janeiro de 2011, onde, ao lado de Lourival, tivemos uma longa prosa com o saudoso poeta, ouvindo suas histórias e algumas de suas poesias.

O poeta nos deixou em 2018 e foi recitar suas poesias no céu.

Arlindo Izaías era daquelas figuras clássicas que fazem parte do cenário de cidades interioranas do Brasil, um homem que ousava fazer poesia num lugar onde quase ninguém lê.

Durante muito tempo rabiscou seus escritos, guardando-os para si, sem nenhum interesse literário. Escrevia por simples prazer, nas sombras das árvores do "Escaninho do Poeta", lugar onde viveu boa parte de sua vida.

Muitas vezes ele me parava na rua, com aquela velha mochila, e me mostrava seus últimos escritos. Desde sempre o incentivei a fazer uma publicação, lançar um livro, quem sabe...

Um certo dia, no início da década de 2000, Arlindo me fez uma visita trazendo uma pasta com um grande número de poesias, queria "organizar" seus rascunhos. Responsabilizei-me em digitar tudo o que ele havia escrito até então, sugerindo apenas algumas poucas correções de ortografia.

O material foi calmamente arrumado e ganhou nome - Na sombra da Catanduva.

De posse desse material, Arlindo procurou apoios e conseguiu publicar seu livro através de um esforço do Secretário de Educação João Maria Freire, na gestão da prefeita Norma Ferreira, um dos entusiastas das letras do poeta.

Convém também lembrar de suas participações nos Festivais de Cultura promovidos pela Associação Cultural Cajupiranga, onde ele recitava com sua voz, grave e pausada, algumas de suas poesias, arrancando efusivos aplausos do público presente”.

Participando das comemorações do Dia do Flclore, em agosto de 2011,
pelo Ponto de Cultura Cajupiranga
Foto: Amauri Freire

De Amauri Freire, publicado em seu blog

Recebi a visita do ilustre amigo Arlindo Izaías de Macêdo, poeta das terras de Mipibu, que me trouxe duas poesias, saídas recentemente do forno.

Arlindo Izaias - Foto: Amauri Freire

Ambas fazem homenagens a duas datas históricas, comemoradas na semana passada. O dia de Tiradentes e o aniversário de Brasília – capital do país.

Com o intuito de divulgar todo e qualquer assunto relevante, principalmente na área cultural, e respeitando as individualidades e os pontos de vista, divulgamos com muito prazer as duas obras do Poeta de Mipibu.

UM PATRIOTA ESPECIAL

Patriota, determinado
Homem bravo e de valor
Defensor do povo brasileiro
Este ser, cheio de amor

José Joaquim da Silva Xavier
Guerreiro de bom coração
Defendeu até o último suspiro
Nosso Brasil, nosso torrão

Um transparente mineiro
Herói do nosso Brasil
Um verdadeiro ser, amável e decente
Este ilustre brasileiro, o saudoso Tiradentes

BRASÍLIA DOS BRASILEIROS

Brasília, encantador cartão postal
Brasília, que encanta o mundo inteiro
Obra bela de Oscar e dos candangos
Brasília do brasileiros

Erguida com determinação, bravura e amor
Capital de um país hospitaleiro
Que destaca-se no mundo inteiro
Brasília, capital dos brasileiros, dádiva do criador

És a deusa do planalto
Admirada por muitos olhares
Criado, com amor, por um mineiro
O grande presidente JK
Brasília de um povo guerreiro
Brasília dos brasileiros

Uma resposta para “FIGURAS MIPIBUENSES – Arlindo Izaías de Macêdo”

  1. Terezinha Tomaz disse:

    Que maravilha!!!