MARCADA POR UMA ARANHA

abril 20, 2025

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa Era Carnaval.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

Era Carnaval. Enquanto a maioria se perdia na folia das grandes avenidas, eu escolhi o caminho oposto: a paz da Fazenda Boqueirão, no interior da Paraíba. Céu estrelado, cheiro de mato, sinfonia de grilos e um açude esplendoroso. O cenário conspirava para um retiro de alma. Mas eu esqueci de combinar com a fauna local.

Em algum momento entre uma rede e uma espreguiçadeira, uma aranha — provavelmente nativa, rústica e sem instrução em superpoderes — decidiu transformar meu rosto em território de ataque. Não sei se ela se sentiu ameaçada, se me achou bonita demais e ficou com inveja. O fato é que me picou. Bem ali. No meio do rosto, deixando sua marca registrada.

Logo depois, vieram os sintomas: febre, calafrios, dor de cabeça… tudo, menos a capacidade de escalar paredes ou soltar teias pelos pulsos. Nenhum sentido aranha. Nenhuma habilidade acrobática. Confesso que eu até tentei escalar uma parede, mas acho que o salto alto atrapalhou. De novo mesmo, somente um leve desequilíbrio ao levantar da cama.

Pensei comigo: Peter Parker levou uma picada e virou super-herói. Eu levei uma picada e virei paciente da Farmácia San Vale. Ele ganhou um uniforme e uma missão. Eu ganhei compressas frias, antialérgicos, antibióticos e camadas de pomada e protetor solar.

Talvez a diferença entre Peter Parker e eu esteja na aranha. A dele era radioativa, cheia de energia urbana e com doutorado em genética mutante. A minha era uma aranha do sertão paraibano. Bruta, e sem ambição científica. Talvez nem conheça aquela parente que deu superpoderes a Peter Park.

No final das contas sobrevivi — mas meu rosto continua marcado. Voltei da Fazenda Boqueirão sem superpoderes, sem teia, sem uniforme especial, mas com uma boa história pra contar.

A aranha, apesar de tudo, deu-me um superpoder: ela dotou-me com a capacidade de contar causos, espantar aranha com meu olhar 43 e nunca mais dormir fora de casa sem mosquiteiro. Especialmente em fazendas.

Isto porque, nem toda mulher maravilhosa se torna uma heroína de filmes ou histórias em quadrinhos ou usa máscara. Às vezes ela só usa repelente e seus superpoderes se resumem em contar histórias.

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