Gileno de Natal, Leno do Brasil
Alex Medeiros – Jornalista e escritor Natal perdeu, quinta-feira (8), seu filho Gileno Osório Wanderley de Azevedo, nascido em 25 de abril de 1949.
Alex Medeiros - Jornalista e escritor
Natal perdeu, quinta-feira (8), seu filho Gileno Osório Wanderley de Azevedo, nascido em 25 de abril de 1949. O Brasil perdeu o multiartista Leno, o cara que ainda menino surgiu na cena musical dos anos 1960 no rastro da onda da beatlemania que provocou no país o movimento Jovem Guarda, também chamado Iê Iê Iê a partir da fonética do grito Yeah, repetido três vezes num refrão da canção She Loves You, lançada pelos Beatles num álbum de 1964.
Quando separo geograficamente o prenome de batismo do nome artístico é para ser repetitivo como nas tantas vezes em que escrevi sobre meu amigo e ídolo nessas mais de três décadas escrevendo em jornais. No último aniversário de Leno, em abril passado, publiquei uma crônica sobre ele, e que na sua inteligência e perspicácia percebeu que eu me despedia dele. Remeti a Cascudo o desfecho “e como Natal não consagra Leno, ele consagra Natal”.
Sim. Porque repeti muitas vezes, na mídia e nas confrarias, que a minha pequena cidade nunca compreendeu a grandeza de Leno, sua enorme importância no processo cultural da Jovem Guarda, na feitura da nossa MPB.
Sou cercado de registros históricos da sua carreira, revistas, recortes de jornais, provas incontestes do que agora estabelece o seu legado no contexto da construção do mágico movimento liderado pelos Carlos, Roberto e Erasmo.
A adolescência de Leno foi dividida entre Natal e o Rio de Janeiro, onde nas duas ele percebeu precocemente o que estava por vir. Se aqui ele rabiscava as primeiras canções, lá encontrava a ressonância daquilo que queria e sonhava.
Com a vizinha carioca, Lilian Knapp, descobriu o caminho para a onda de rock n roll que explodia na tela da TV Rio, quando ambos frequentavam o programa Brotos no Treze, comandado pelo intrépido Carlos Imperial entre 1961 e 1965.
A menina namorava um cara que tocava no programa, Renato Barros, que seria depois líder do Renato e Seus Blue Caps. Das ofertas de ingressos para entrar na TV, logo veio a ideia (de Renato) de fazer dos amigos uma dupla.
Quando Leno e Lilian formaram o par musical, o natalense já era conhecido por duas músicas de sua autoria gravadas no segundo disco de um tal Erasmo Carlos. Puxadas pelo hit Gatinha Manhosa, SOS e Disco Voador, de Leno.
Incrível é que ambas as letras foram compostas por um moleque entre seus 15 e 16 anos. Em 1966, ano do LP de Erasmo, a canção Pobre Menina, versão de um Leno aos 17 para o sucesso Hang on Sloopy, dos The McCoys, explodiu.
Atentem ao que representa o primeiro sucesso de um adolescente disputando audiência de rádio e TV, de vendas de discos com Strangers in the Night (Sinatra), Day Tripper (Beatles) e Mamãe Passou Açúcar em Mim (Simonal).
Em 1970, A Festa dos Seus 15 Anos fez Leno e Lilian brigar pela preferência com Let it Be (Beatles), Ando Meio Desligado (Mutantes), Everybody’s Talkin (tema de Perdidos na Noite) e Foi um Rio que Passou em Minha Vida (Paulinho da Viola).
Tudo que veio depois consagra o legado de Leno, seu pioneirismo na leitura do rock, na costura da pegada roqueira com a Bossa Nova, no experimentalismo que transformou seu guitarrista, um tal Raul Seixas, em fenômeno da cultura.
Desde a tarde de quinta, meu telefone e minhas redes não comportam tantas mensagens oriundas de todo o Brasil, querendo notícias, confirmação da morte de Leno. Passei a noite paparicando um filho aniversariando, nascido no dia da partida de John Lennon. Agora todos os anos faremos da sua festa um tributo a Lennon e Leno, uma amorosa razão social nas batidas do meu coração.
Ao Diogo, filho único de Leno, e seus inúmeros fãs, façam dessa crônica um terno beijo. Viva Leno para todo o sempre..
Parabéns, Alex Medeiros, pela belíssima crônica. Justa e mais que oportuna homenagem ao nosso conterrâneo Leno.
A ele a nossa eterna reverência.