Igreja nas Casas

maio 5, 2024

Pe.

Pe. Matias Soares - Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório - Natal-RN

A Arquidiocese de Natal, considerando a sua história de protagonismo dos leigos e a sua dinâmica eclesial, com o Movimento de Natal pode e deve avançar nessa confiança em fazer com que o discipulado e a missão sejam assumidos por todos os fiéis batizados que estão nessa Igreja Particular. O Concílio Vaticano II, o magistério pós-conciliar, as Conferências latino-americanas e os documentos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil têm uma ampla e consistente impostação sobre a temática.

Sem o protagonismo qualitativo e qualitativo dos leigos não conseguimos avançar pastoralmente. Insisto na ideia de que é necessário rezar e estudar para que as nossas relações, enquanto ministros ordenados e demais membros do povo de Deus, sejam marcadas pelo ‘reconhecimento, o papel e a missão que cada um tem na vida da Igreja.

Diferente do que é disseminado, desde o Iluminismo, a nossa ‘autonomia’ é relacional. Não é individualista e autorreferencial. Não pode ser mais determinada por um ‘Clericalismo’, que causa tantos desmandos no estilo de ser Igreja nesse terceiro milênio da nossa história. Essa é uma problemática que precisa ser assumida pelas nossas estruturas eclesiásticas.

A nossa paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório está dando passos para desenvolver o projeto missionário IGREJA NAS CASAS, que tenta justamente ampliar o papel do ministério de todos os fiéis na ação evangelizadora da Igreja. Sem essa abertura, não conseguiremos fazer com a nossa Comunidade seja uma “comunidade de comunidades”.

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Na justa hermenêutica do Concílio, o protagonismo dos fiéis leigos tem um pé no capítulo VI da Dei Verbum. Aliás, a Sagrada Escritura é a fonte primeira da teologia e da dinâmica pastoral da Igreja. Em nossa comunidade paroquial, a partir das nossas assembleias paroquiais de pastoral, em sintonia com a proposta da sinodalidade, com ‘escuta’ do povo de Deus, existe a preocupação de fazer com que a experiência vivida pelas primeiras comunidades cristãs aconteça em nossa comunidade, tendo em vista a conversão missionária das nossas pastorais, movimentos e serviços.

O desafio é enorme. Mudar mentalidades é muito difícil e exige de cada um de nós, muita paciência e perseverança. Mesmo existindo numa realidade, tanto estrutural, quanto cultural, de estilo urbano, ainda temos desafios a serem enfrentados para que saíamos do perfil de uma pastoral de conservação e prestadora de serviços sacramentais, para uma dinâmica eminentemente missionária.

Já encaminhamos a setorização pessoal dos grupos, movimentos e pastorais. O próximo passo é organizar geograficamente os espaços da paróquia em seis setores territoriais. Para conversão missionária da paróquia acontecer, as estruturas físicas também precisam estar adaptadas as muitas demandas que começarão a surgir. Não só os fiéis da área geográfica serão atendidos, com o anúncio permanente da palavra de Deus nas famílias, mas também os que, por opção afetiva, vivem a sua fé em nossa comunidade, da mesma forma serão contemplados.

A paróquia precisa ser desse jeito ‘celular’ de ser Igreja. Temos que superar a ‘estranheza’ de quem está conosco, e não reconhecemos o seu ‘rosto e nome’. Nessa linha de reflexão, penso que podemos ‘sonhar’ com a possibilidade de levar esse projeto missionário para todas as forças vivas da nossa Arquidiocese de Natal.

Poderíamos traçar uma meta de formar em cada paróquia números suficientes de ministros da palavra de Deus para que esse ministério fosse testemunhado em todas as comunidades interioranas e urbanas das nossas comunidades. Só assim, conseguiremos viver o ‘Estado Permanente de Missão’, via o protagonismo dos fiéis leigos, em comunhão com os ministros ordenados. 

O outro passo muito importante é a formação de ministros da palavra. O fundamento da missão é a Sagrada Escritura. Os sacramentos santificam, mas é a palavra de Deus que converte. Os dois lugares teológicos estão interligados. Por isso, devemos e queremos formar servidores permanentes da Palavra. Nos setores missionários, os fiéis leigos precisam ser os protagonistas da ação evangelizadora.

O Espírito Santo impulsiona a todos. O senso da fé do povo de Deus deve ser considerado e incentivado. O clericalismo só trava o dinamismo do Espírito. Uma Igreja testemunha do Ressuscitado é ousada, dinâmica e corajosa. O estilo das comunidades cristãs primitivas precisa ser retomado na atual conjuntura secularista e pós-teísta. A Alegria do Evangelho é a via que cada cristão é chamado a experienciar e a testemunhar neste mundo novo.

Por isso, nos próximos meses estaremos desenvolvendo esse projeto missionário. Queremos ser “Igreja nas Casas”. Penso que toda a Arquidiocese de Natal precisa desenvolver um projeto que dê uma fisionomia pastoral coesa, continuada e consistente às suas ações, tanto interna, como externamente. A partir da lógica do Evangelho é que assumiremos autenticamente um processo de renovação e avanço sempre necessário às águas mais profundas (cf. Lc 5, 1-11).

O caminho é o das “Comunidades Eclesiais Missionárias”. O conteúdo é sempre a proposta do Reino de Deus. Quem desejar fazer parte desse jeito de Ser Igreja, venha estar conosco. O Cristianismo das comodidades nunca teve sentido, já que o seguimento de Jesus é acompanhado de cruz, amor e vida plena. Isso é Páscoa. A conversão pastoral das paróquias e da Arquidiocese de Natal na sua totalidade  exige de todos nós essa tomada de posição e paixão pela causa de Jesus Cristo e da sua Igreja.

Assim o seja!

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