HISTÓRIA: A Revolução de 1817 no Rio Grande do Norte e o episódio no Engenho Belém em São José de Mipibu
Por José Alves – Jornalista e Bacharel em História Cinco anos antes da Independência do Brasil, portanto, 205 anos atrás, no dia 29 de março de 1817, o Rio Grande do Norte era declarado independente de Portugal.
Por José Alves - Jornalista e Bacharel em História
Cinco anos antes da Independência do Brasil, portanto, 205 anos atrás, no dia 29 de março de 1817, o Rio Grande do Norte era declarado independente de Portugal. A investida, liderada por André de Albuquerque Maranhão, veio em consonância com que acontecia na Paraíba, Ceará e Pernambuco, centro da Revolução de 1817.
O movimento é um marco na história do país, especialmente na região Nordeste. Foi o primeiro a assumir o poder (cinco anos antes da Independência do Brasil) e o primeiro a trazer a raiz o pensamento republicano (sete décadas antes da Proclamação da República). Mas a revolução teve prazo curtíssimo, sendo dias depois abafada pela tropa real.
Transcorrido dois séculos, poucos mipibuenses conhecem esse episódio, que teve São José de Mipibu, como cenário, o que poderia ser transformado em ponto turístico pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.
COMITIVA VISITA ENGENHO BELÉM
Esse movimento, bem como os dois potiguares André de Albuquerque Maranhão, líder potiguar morto no encerramento da revolução. Outro nome é o de Padre Miguelinho, potiguar que atuou decisivamente em Pernambuco, sendo depois executado pela Coroa, foram lembrados. Uma comitiva formada por representantes da Fundação José Augusto, Instituto Histórico e Geográfico do RN e da Igreja Católica, esteve em São José de Mipibu, no dia 31 de março de 2017, por ocasião da visita de Paulo Fernando de Albuquerque Maranhão em terra mipibuense.
Paulo Fernando de Albuquerque Maranhão é descendente de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que no ano de 1597 participou da expedição do Rio Grande, sob o comando de Manoel Mascarenhas, que conquistando a foz do rio Potengi, construiu a cidade de Natal e a Fortaleza dos Reis Magos, em posição estratégica, para a defesa da cidade.
Em visita a fazenda Belém, nos arredores de São José de Mipibu, no vale do Trairí/Araraí, Paulo Maranhão percorreu os ambientes da casa que serviram de cenário por ocasião da prisão do presidente da então Capitania do Rio Grande, José Inácio Borges.
“José Inácio Borges se encontrava dormindo num quarto separado dos demais quartos interligados da casa. Esse quarto tinha um acesso para o lado de fora da Casa Grande. Após ter sido identificado o quarto os militares sob o comando de André de Albuquerque Maranhão cercaram o ambiente, invadiram o cômodo e sem qualquer resistência por parte do presidente da Capitania anunciaram a prisão”, discorreu.
Entendendo a Revolução Pernambucana
Os estrangeiros que vinham fazer negócios no Brasil traziam as ideias liberais que eclodiam na Europa no Século XIX, além de livros e de outras publicações que estimulavam o sentimento de revolta entre a elite pernambucana, que participava ativamente, desde o fim do século XVIII, de sociedades secretas, como as lojas maçônicas.
A Revolução brasileira origina-se em Recife, articulada pelo comerciante capixaba Domingos José Martins, radicado há pouco tempo na cidade, onde chegara em 1814. Em sua residência promoveu reuniões, confabulou e, entre diversos simpatizantes por suas ideias, sólida e filosoficamente embasadas no discurso dos religiosos, o potiguar Padre Miguelinho e Frei Caneca, persuadiu e arrebanhou vários adeptos de envergadura.
Foi daí que surgiu o sentimento de emancipação e independência de Recife e Olinda e ganhou alguns adeptos em outros Estados vizinhos. Era nas sociedades secretas, como a Maçonaria que os intelectuais, religiosos e militares se reuniam para discutir e difundir o que os imperialistas chamavam de “infames ideias francesas”. Os temas discutidos nessas reuniões, as concepções libertárias, eram difundidas quase abertamente.
O cabeça do movimento emancipacionista no Rio Grande do Norte foi o proprietário do opulento Engenho Cunhaú, André de Albuquerque Maranhão, responsável por prender o governador da época, José Inácio Borges, no Engenho Belém, localizado em São José de Mipibu e, depois, ocupar Natal e formar uma Junta Governativa.
O levante se deu no dia 6 de março. No dia seguinte, um manifesto do Padre Miguelinho, Secretário do Governo Revolucionário, proclama a República na então Capitania de Pernambuco. O movimento, irradia-se pelo Nordeste, a começar por Alagoas e Paraíba, alguns dias depois chegando a Natal, onde em pouco faria prosélitos, homens do clero e militares que, sem demora, passam a conspirar.
Nos encontros no Engenho "Suaçuna" (ou "Suassuna"), em Olinda, reuniam-se José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, Antônio Francisco Cavalcanti de Albuquerque, André de Albuquerque Maranhão e outros, com os mesmos objetivos.
André de Albuquerque Maranhão viveu sempre no Engenho Cunhaú, vigiando safras, ouvindo missa (...). Vez por outra ia ao Recife e lá conhecia gente prestigiosa e alta. Seu pai, de quem era homônimo, faleceu em fins de setembro de 1806 e o Engenho "Cunhaú", à época, maior núcleo econômico da Capitania do Rio Grande, passa a ser administrado pelo jovem revolucionário, mais conhecido por “Andrezinho de Cunhaú” para diferenciá-lo do pai.
Mesmo distante de Pernambuco as atividades revolucionárias não se ausentaram do seu cotidiano, até porque para o Rio Grande do Norte vieram vários companheiros das reuniões naquele engenho olindense, a saber: o próprio José Francisco de Paula Cavalcanti, à época Capitão-mor do Rio Grande do Norte (1806- 1812) e um dos proprietários do referido engenho, e o seu irmão e co-proprietário Antônio Germano Cavalcanti, Comandante da Companhia de Linha aquartelada em Natal, em 1817;
E ainda: os padres João Damasceno Xavier Carneiro, conselheiro de André de Albuquerque, Antônio de Albuquerque Montenegro, Vigário de Goianinha, e Feliciano José Dornelas, Vigário de Natal desde 1796; o funcionário real José de Quental e, até, José Inácio Borges, que seria o Capitão-mor no ano do episódio
PAPARI
Convém mencionar que o advogado português Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa, instalado em Papari (hoje, Nísia Floresta), promovia em seu Sítio "Floresta" reuniões com simpatizantes pelas ideias republicanas, assim como também aconteciam no Sítio "Ribeiro" e no Engenho "Belém", em São José de Mipibu.
Por volta de 1810, realizando pesquisas por esta região, o inglês Henry Koster visitou o "Sítio Floresta", fato que descreve em “Viagem ao Nordeste do Brasil”. Há conjeturas de ter sido ele agente secreto da maçonaria britânica e de que, então, estaria a serviço da revolução que sucederia sete anos mais tarde.
André de Albuquerque é a figura central, nessa Capitania. Homem cordato, perdoador de pecadilhos dos inúmeros escravos, elegante e receptivo Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo, rico proprietário de vastos domínios, comandava o Regimento de Cavalaria Miliciana quando foi deflagrada a rebelião em Recife, a ela aderindo. Romântico, sonhador de uma sociedade mais justa em contraposição ao status quo vigente, se transforma, arvorando-se em legítimo líder militar.
Assim, chefiando 600 cavaleiros, André de Albuquerque Maranhão, ou simplesmente “Andrezinho do Cunhaú”, depois de prender o então governador da província, José Inácio Borges, no Engenho "Belém" ,em São José de Mipibu, segue para Natal.
Ele tomou a cidade do Natal, em 28 de março de 1817. No dia seguinte, convocou pessoas conhecidas e religiosas, e constituiu o governo.
Informado sobre tais eventos, o Príncipe Regente (aclamado Rei de Portugal, do Brasil e Algarves, em 1818, com o título de Dom João VI) envia para o Nordeste um contingente com armas, dissuadindo desta forma os mais exaltados ânimos revolucionários.
Amanhecera o dia 25 de abril. O valente José Peregrino e seus bravos companheiros ainda se achavam à pequena distância de Natal, quando aí desenvolve-se a contra-revolução. Ao sinal de nove badaladas no sino da matriz, como havia sido previamente convencionado, partiu da casa do alfaiate Manuel da Costa Bandeira um grupo composto dos monarquistas A esse grupo reúne-se Antônio Germano com sua companhia, e assim incorporados, dirigem-se ao palácio.
Afora as sentinelas de praxe, o Padre Damasceno era a única companhia de André de Albuquerque Maranhão. Quando os contra revolucionários chegaram para rendê-lo, resistindo, ele foi ferido por Antônio José Leite Pinho, que atingiu com a espada a sua região inguinal. No tumulto, ainda procurando segurar a lâmina, fere dois dedos. Após isso, foi arrancado do governo provisório e impunemente apunhalado. Ferido, foi conduzido para a Fortaleza dos Três Reis Magos e colocado num quarto escuro.
Sentindo a morte que se aproximava, chamou o amigo, vigário da Freguesia de Natal, Feliciano José d’Ornelhas, para dar-lhe a extrema unção. Sem assistência, faleceu o Senhor de Cunhaú, com aproximadamente 40 anos de idade.
Pela manhã, retiraram o seu corpo e transportaram nu, sujo de sangue coagulado, onde foi sepultado na Matriz. No caminho, as mãos piedosas de Ritinha Coelho cobriram-lhe a nudez com uma esteira. Cinco anos depois, foi proclamada a Independência do Brasil.
Durante reforma do prédio da antiga Catedral, em Natal, em fevereiro de 1995 (178 anos após o acontecimento), os restos mortais de André de Albuquerque Maranhão foram exumados, depositados em nova urna funerária e novamente sepultado no mesmo local, segundo os cânones cristãos.
FONTE DA PESQUISA: Ritinha Coelho - A Mulher Potiguar – Cinco Séculos de Presença; Tribuna do Norte (Viver) de 29.04.2017; blog Daltro Emerenciano; Internet