Figuras Mipibuenses Sebastiana Franco da Silva (‘Dona Maria’)

Texto de José Alves e Vanda Franco (escrito no Jornal O ALERTA) e do livro “A Tecelã do seu Destino” Seu nome de batismo era Sebastiana Franco da Silva.

Texto de José Alves e Vanda Franco (escrito no Jornal O ALERTA) e do livro "A Tecelã do seu Destino"

Seu nome de batismo era Sebastiana Franco da Silva. Nasceu no Engenho São Paulo, na cidade de Cruz do Espírito Santo, no Estado da Paraíba, no dia 19 de janeiro de 1936, dia de São Sebastião. Daí o nome que recebeu ao se batizar em homenagem ao padroeiro da cidade e, posteriormente, foi devota. Em São José de Mipibu e redondezas, poucos sabiam do seu nome de batismo, pois era conhecida como 'Dona Maria'.

Ela não chegou a conhecer o pai. Sua mãe morreu quando ela tinha 9 anos de idade. Logo depois, a família se reuniu, para saber como ficaria a situação dos filhos. Os irmãos foram separados, morando com outros parentes e nunca mais se reencontraram. 'Bastiana', como era conhecida pelos mais próximos, foi criada pela avó materna, que era viúva.

Aos 12 anos de idade começou a trabalhar no Engenho São Paulo, que produzia cachaça de alambique. A tarefa de Bastiana era lavar as garrafas de aguardente. Tempos depois, o dono do engenho a designou para cozinha na casa grande para, aproximadamente, trinta pessoas.

Nos fins de semana Bastiana ia com a vó às missas do lugar. Começou a namorar com Severino Franco da Silva, um trabalhador do engenho, cujo namoro a avó de Bastiana não aceitava. Casou-se aos 16 anos com o jovem Severino, sem a permissão da avó e sem que ela soubesse. Por esse motivo nunca foi perdoada.

No ano de 1956, o casal Bastinha e Severino, veio morar no Rio Grande do Norte. Não por opção, mas por caprichos do destino. 'Maria' (que passou a assumir esse nome, teve vinte filhos. Treze estão vivos, são eles: Wilson, Antonio, Severino dos Ramos, José Humberto, José, Hélio, Romeu, Carmita, Gerusa, Dilma, Geilza, Ilda e Vanda. Após seu falecimento, deixou quarenta e cinco netos e doze bisnetos.

LIVRO SOBRE SUA VIDA

Professora Vanda Franco, autora do livro "A Tecelã do seu Destino" que conta a história de sua mãe

A filha, professora Vanda Franco escreveu o livro "A Tecelã do seu Destino" que conta a história de sua mãe. "Todos nós temos uma história de vida recheada de fatos, acontecimentos e eventos que nos marcam. Entretanto, há pessoas que se destacam e fogem do comum, pela forma como constroem seus destinos com tanta disposição e firmeza que impressionam e nos faz ficar deslumbrados com tamanha coragem e habilidade de lidar com as adversidades que a vida nos impõem.   Portanto, merecem ser prestigiadas e homenageadas publicamente para que as gerações mais jovens acreditem que vale a pena sonhar com um mundo mais solidário, fraterno e democrático", diz.

"A Tecelã do seu Destino", conta a história de dona Maria, muito parecida com as histórias de tantas 'Marias" da sua época. O que difere e chama à atenção é a capacidade, a garra, a firmeza, a coragem, a fibra e determinação com que agarrou as rédeas da sua vida e construiu seu caminho, conduzindo seu destino".

Vanda narra a trajetória da vida de sua mãe: "sua capacidade rara de enxergar os fatos e até anteceder os acontecimentos nos surpreendia. Que na sua linguagem simples usava sempre a expressão, “Estou cubando” que significa: está observando, pensando, analisando... e o diagnóstico sempre vinha depois. Sempre pedia um tempo. Pressionada dizia: “Agora não. Estou cubando”. E, dificilmente falava coisas sem sentido.

Quando as filhas começaram a namorar, estava sempre atenta e nunca facilitou a vida das meninas. Quanto aos homens dizia: “Em homem não pega nada”. Reproduzindo os valores morais da época.

Dona Maria sempre gostou de ir a feira semanal de São José de Mipibu (aos sábados), comprar alimentos. Se preparava como se fosse a uma festa. O espaço onde se realizava a feira fervilhava de gente. Era na feira onde se encontrava com amigos, comadres, afilhados e pessoas conhecidas, onde se atualizava das notícias e fofocas das comunidades.

LEITORA DO ALERTA

Dona Maria era uma leitora peculiar do jornal impresso O Alerta, que circula, desde 1980, em São José de Mipibu. "Ela comprava o jornal todos os meses. Tinha, também, um carinho especial pelo editor, 'Dedé do Alerta', que sempre a fazia rir com seus chistes", comenta Vanda..

E acrescenta: "Mesmo sem dominar o código da escrita, fazia leitura das imagens, fotografias e gráficos minuciosamente, associando símbolos e escrita. Tinha uma compreensão e discernimento muito mais apurado que muitos analfabetos funcionais. Coisa rara. E aquilo que não conseguia desmistificar e relacionar imagens com a escrita recorre às filhas e a leitura se fazia compreender".

Dona Maria discutia os temas sejam eles, políticos, sociais, econômicos e culturais fazendo análises, críticas com desenvoltura e apontando sugestões de soluções para o bem-estar dos mipibuenses. "Muitas dessas sugestões, se fosse possível ser ouvida pelos administradores da cidade, muitos problemas seriam solucionados e a cidade ganharia muito", declara Vanda.

BENZEDEIRA

Ela tinha um dom: Era benzedeira das crianças. Cultivava plantas medicinais no quintal de casa. Sempre disposta a fazer um chá e ouvir os queixumes, os desabafos das pessoas carentes de afeto, atenção e cuidados. Acreditava que o que serviu para ela, também serviria para as pessoas. Gostava de aconselhar, sem se importar se as pessoas queriam conselhos.

Conhecia quase todos os moradores da cidade e redondezas. Chegou até a ser indicada, anos idos, para disputar uma cadeira na Câmara  Municipal, como vereadora. Recusou. Dizia que, "não dominava as letras. E um vereador tinha que saber ler e escrever bem".

Dona Maria teve uma história de vida ímpar. Mulher admirável com uma força de caráter imensurável.    Era uma pessoa otimista. Acolhia filhos, filhas e netos. Habitualmente, os filhos apareciam para o almoço, sentindo o sabor do tempero da comidinha da mãe. Era incansável. Tinha uma energia positiva inacreditável. Ás vezes as pessoas com depressão, tristeza ou outras dificuldades, bastam poucas horas na sua companhia para se sentir melhor. A casa dela era sempre cheia de gente e por isto recebeu o nome de “A pensão de Dona Maria”. Tinha uma inteligência e uma percepção tão aguçada que havia dúvidas se realmente tinha a idade que informava ter.

Não é por acaso que sua vida está sendo narrada aqui, como Figuras Mipibuenses. Sua biografia está sendo escrita, para a posteridade. Diante de uma época de escassez de bons exemplos, gostaríamos de prestar essa homenagem pública a ela. Essa mulher incansável que tomou as rédeas do seu destino com determinação e convicção. Ela deixa para quem a enxergava duas características da sua personalidade: caráter e integridade moral -, tão em falta hoje. Uma lição de que os problemas devem ser enfrentados e nunca lamentar a vida. Mulher de atitude e ação.

MENSAGEM

             "Mamãe, temos muito orgulho de sermos seus filhos. A senhora foi uma lição de vida para nós. Sentimo-nos muito confortáveis na sua companhia, quando em vida. A senhora nunca frequentou bancos escolares, no entanto, sempre nos deu lição de vida. Teve uma conduta e uma sabedoria que é raro se encontrar. Temos uma admiração profunda pela senhora. Obrigada por ter sido nossa mãe. A senhora era excepcional. Dona Maria, isso não é um elogio emocional de filhos, mas o retrato fiel de um ser humano que sem riqueza material, nos deixou uma riqueza maior: a dignidade humana".

No último capítulo do livro, a professora Vanda escreve: "... A respiração de Maria foi esvaindo-se até esgotar-se por completo. Havia chegado o momento de partida. Sua missão terrena terminara... " Dona Sebastiana Franco da Silva partiu para a Eternidade, na noite do dia 12 de outubro de 2020, dia de Nossa Senhora Aparecida.

Dois anos, após sua partida, Vanda posta essa mensagem em suas rede sociais:

Dois anos de saudades

Mãe, dois anos, que você partiu
A dor ferina, dilacerante e desconcertante dos primeiros dias de luto, paulatinamente, vai se transformando em gratas lembranças na memória das recordações.

Aprendi a conviver com a saudade e a sua ausência física.
Mas, seus ensinamentos, conselhos, repreensões,firmeza, convicções e cuidados me acompanham em cada atitude, acontecimento, nas músicas, nas festas de Natal, nos tachos de canjica, pamonhas, paneladas, nos cheiros de leite de rosas, nas ruas, no mar, nas luas cheias, no campo, nas feiras livres, no sol da manhã no entardecer com café e pão francês com manteiga, nas fotografias…

Tudo me traz sua imagem e sua grandeza. Uma saudade doída e doce …
Das marcas que você nos deixou.
Você cumpriu sua missão na terra e nos deixou um legado de caráter, dignidade, confiança e honestidade.

Nesses dois anos de ausência
Aumenta,em mim, o orgulho, a gratidão à Deus, à vida por ter sido sua filha e descendente do núcleo familiar que você construiu: bisavós, avós,pais, numa sucessão e provir que caracteriza nossa família. Nossa identidade.

Uma pessoa singular e memorável
Não poderia escolher data melhor para partir:
Hoje, dia 12 de outubro,dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, dia de aniversário do seu filho, Beto, dia das crianças …

De mãos postas ao peito
Inclino a cabeça para reverenciar a mulher, a mãe,amiga, companheira que você foi e a lição de vida que você representa.
Honrar nossos antepassados é uma atitude de respeito e sabedoria. Pois vieram antes de nós para nos dar a vida.
Reverenciar sua imagem é reafirmar minha eterna gratidão por ser sua filha.

Que no céu você receba, hoje, as orações e agradecimentos. E a certeza de que nos encontraremos.
Obrigada, dona Maria. Obrigada mãe…Que saibamos cultivar sua imagem para eternidade.

          

                                 

7 respostas para “Figuras Mipibuenses Sebastiana Franco da Silva (‘Dona Maria’)”

  1. Marcos Soares da Silva disse:

    Merecida essa homenagem foi uma grande mulher uma grande mãe uma grande vó e uma grande tia parabéns para sua filha com essa grande história da sua vida que Deus te abençoe grandemente fiquei muito feliz pela sua homenagem parabéns 👏👏👏👏

  2. Jose Humberto Franco da Silva disse:

    Muitíssimo obrigado pela linda homenagem ❤️👏

  3. Irani amiga da filha dela Gerusa. disse:

    Dna Maria era minha amiga sempre qd eu voltava do trabalho ela estava sentada na área da sua CS.la eu parava e ficava conversando com ela.muito tempo gostava de escutar as conversas dela.saudades.

  4. ildo lima disse:

    Que honra de poder ler essa publicação! Orgulho de ser neto de Vovó Maria.

  5. Adla Borges disse:

    Que linda homenagem!! D. MARIA com certeza merece todo esse amor, uma linda história de vida. E quem a conheceu teve muita sorte, ainda bem q eu pude desfrutar da sua companhia e principalmente de seus conselhos tão sábios, os quais sempre lembro e trago pra minha vida. Todos sentimos imensa saudade!!

  6. Maria Dilma Franco da Silva disse:

    Muito obrigada!
    Por essa homenagem. A saudade permanece. As memórias, as lembranças nos conforta!
    Minha mãe! Que mulher incrível!

  7. Elzanira Ferreira disse:

    Linda história de vida.
    Exemplos para toda uma geração que com dignidade surpreende a todos.
    Hoje o mundo seria bem mais humano e feliz se encontrassem muitas D. Maria em seus caminhos.
    Gratidão eterna a ela e parabéns aos
    filhos pela belíssima homenagem.
    Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de conhecer essa família

    Fico agradecida e orgulhosa de ter conhecido essa família, exemplo de vida para o mundo.

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