FIGURAS MIPIBUENSES (6) Januário Cicco

novembro 15, 2020

Nasceu em 30 de abril de 1881, na cidade de São José de Mipibu, filho do imigrante italiano Vicente de Cicco e da mipibuense Ana de Albuquerque de Cicco.

Januário Cicco

Nasceu em 30 de abril de 1881, na cidade de São José de Mipibu, filho do imigrante italiano Vicente de Cicco e da mipibuense Ana de Albuquerque de Cicco. Fez os primeiros estudos em sua cidade natal com o mestre Luís Militão.

Quando sua família mudou-se para Natal, passou a estudar com diversos professores particulares, indo depois fazer o curso de Humanidades na
Paraíba, onde ingressou no seminário. Ao término do primeiro ano no seminário, desistiu de seguir a carreira religiosa e voltou para Natal, matriculando-se no Atheneu Norte-riograndense, onde concluiu o curso secundário aos 18 anos. De lá foi para Salvador, estudar na
Faculdade de Medicina da Bahia.

Formou-se em 1906 e veio para Natal, onde instalou consultório na casa de seus pais, à Rua das Virgens, na Ribeira. Moço, inteligente, culto, com grande capacidade de trabalho e com grande entusiasmo pela profissão que escolheu, logo demonstrou desejo de servir aos mais necessitados.

A Natal daquela época tinha uma assistência médica muito precária e dispunha apenas do “Hospital” de Caridade, criado em 1855, que era um verdadeiro depósito de doentes em promiscuidade. Dr. Januário convenceu o governador Alberto Maranhão de que a cidade necessitava de local adequado para tratar seus doentes.

Em 23 de agosto de 1909, foi inaugurado o Hospital de Caridade Juvino Barreto, na casa de veraneio do governador, no monte de Petrópolis (onde hoje funciona o Hospital Universitário Onofre Lopes), sendo Januário Cicco nomeado para trabalhar e dirigir a instituição, que contava com dezoito leitos.


Trabalhou praticamente só, pois contava apenas com ajuda das irmãs filhas de Sant’anna. Anos depois, conseguiu um enfermeiro “prático”, José Lucas do Nascimento, para auxiliá-lo. Aos poucos, o hospital foi sendo ampliado e chegou ao número de setenta leitos, incluindo uma enfermaria com treze leitos para parturientes. Em 15 de janeiro de 1917, o médico Otávio de
Gouveia Varela foi nomeado para ser auxiliar de Januário. Durante quase dezenove anos, os dois dividiram a tarefa de atender todos os necessitados.
Para viabilizar o bom funcionamento do hospital, sem as amarras da burocracia estatal, Dr.


Januário e o governador José Augusto resolveram passar a administração da unidade de saúde para uma entidade civil. A Sociedade de Assistência Hospitalar (SAH), criada em 25 de maio de 1927, tornou-se o órgão mantenedor do hospital e seus anexos. A SAH recebeu do prefeito
Omar O’Grady a doação de um terreno próximo ao hospital para a construção da Maternidade de Natal, iniciada em 14 de janeiro de 1932. Com pouca ajuda governamental, o Dr. Januário utilizou recursos próprios e motivou a sociedade natalense a ajudá-lo com doações e participando de promoções (quermesses, rifas, bingos e festas) para angariar recursos para a
construção.

Quando estava quase pronto, o prédio foi requisitado pelo Ministério da Guerra para servir como hospital de campanha e Quartel General Aliado durante a Segunda Guerra Mundial. Com o fim da 2ª Guerra, foi preciso mais uma batalha comandada por Januário Cicco para retomar o prédio e exigir uma indenização do governo a fim de restaurar a construção e
instalar os equipamentos adequados para o funcionamento da maternidade.


A inauguração da maternidade, em 12 de fevereiro de 1950, foi um grande acontecimento social. O bispo Dom Marcolino Dantas e o escritor Luis da Câmara Cascudo lideraram uma campanha para que a maternidade fosse batizada de Maternidade Januário Cicco. Em 30 de dezembro de 1945, Januário Cicco instalou o primeiro serviço de pronto Socorro de
Natal. Ele foi também o idealizador do primeiro banco de sangue de Natal. Em 30 de dezembro de 1950, criou ainda a Escola de Auxiliares de Enfermagem, com a finalidade de dotar a sociedade de assistência hospitalar e seus hospitais de pessoal capacitado para dar assistência digna à população. Ele ajudou também na fundação da Faculdade de Farmácia.

Em 20 de julho de 1951, Dr. Januário fundou o Centro de Estudos da Sociedade de Assistência Hospitalar, com a finalidade de estimular a discussão científica e a pesquisa pelo corpo clínico dos hospitais, embrião da futura Faculdade de Medicina.


Além de toda sua atividade médica, Dr. Januário Cicco dedicou-se às letras.
Escreveu importantes obras científicas e literárias, como sua tese de conclusão do curso médico O destino dos cadáveres perante a higiene e a medicina legal (1906); Como se higienizaria Natal (1920); Memórias de um médico de Província (1928) e Eutanásia (1937). Este último livro era uma novela literária em que dois personagens médicos discutem
profundamente esse tema tão polêmico ainda nos dias atuais, e possibilitou a entrada do Dr. Januário na Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL). Para sua atualização científica, assinava e lia regularmente periódicos médicos, como a revista Presse Médicale e a revista literária L’illustrations.


No seu leito de morte, chama Onofre Lopes em quem confiara a continuação de sua obra e diz "Meu filho, não deixe a minha obra se acabar". Dr. Januário Cicco faleceu aos 71 anos, em 1º de novembro de 1952, vítima de infarto do miocárdio. O velório e o enterro foram acompanhados por uma multidão, composta por admiradores, autoridades políticas e culturais, que fizeram questão de prestar sua última homenagem ao médico.

Antigo Posto de Saúde 'Januário Cicco', em São José de Mipibu


Em 11 de dezembro de 1953, a localidade de Boa Saúde teve sua emancipação política de São José de Mipibu e passou à cidade com o nome de Januário Cicco, denominação que perdurou até o dia 02 de fevereiro de 1991.

Túmulo de Januário Cicco, no cemitério do Alecrim, em Natal

Por Dr. Lauro Arruda - cardiologista

2 respostas para “FIGURAS MIPIBUENSES (6) Januário Cicco”

  1. Antonio Navarro disse:

    Excelente explanação! Não conhecia a história do dr. Januário Cicco.

  2. Didi Avelino disse:

    Dr. Januário Cicco é merecedor de grandes homenagens de sua terra. Infelizmente, a classe política atual não tem a sensibilidade necessária e, portanto, não contribue para corrigir essa dívida histórica para com seu filho ilustre.