Feliz aniversário, Roberto

abril 20, 2025

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte Sábado(19/04) aniversário do rei Roberto Carlos, com direito à festa em solo natalino e natalense.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte

Sábado(19/04) aniversário do rei Roberto Carlos, com direito à festa em solo natalino e natalense. Há poucos anos, nessa mesma data, eu estava ouvindo Caetano Veloso cantando “O Homem Velho”, canção gravada em 1984 no LP “Velô”. Num trecho, o baiano diz “o grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais, o homem velho é o rei dos animais”. Lembrei de Roberto, de quando menino ouvir um jovem em ritmo de aventuras caçando um leão solto nas ruas e que poderia se alimentar do seu amor.

Aquele rei, noutra vez, se dizia um gato negro desacatando outros bichos no telhado. Anos depois, cantou para salvar baleias e protestou contra o desmatamento da Amazônia. Foi o rei quem perpetuou uma gíria animal que se alastrou por gerações afora: “É isso aí, bicho”. O biógrafo Paulo César de Araújo conta que certa vez, numa rodovia dos EUA, o rei mandou seu motorista retornar, só para tentar salvar um louva-deus que teria sido atropelado por ele.

Eu não vejo no cantor uma grande referência ecológica, mas entendo a grandeza dos seus pequenos gestos em algumas causas, que se não o divinizam totalmente, o fazem bem maior do que grande parte dos súditos.

A construção do tecido sociocultural do Brasil nos últimos 60 anos (a idade da Jovem Guarda) tem, no seu alinhavo, a presença marcante dos fios musicais e comportamentais do artista e cidadão Roberto Carlos, por mais que tentem negar alguns protointelectuais.

Jovem Guarda

Suas canções estão aí compondo currículos emocionais de gerações, todas invariavelmente com episódios pessoais envolvendo a figura do rei, presente como uma sombra sobre nossas cabeças e uma película colada aos corações.

Ditadores podem perpetuar-se por meio século no imaginário popular, devido à força da maldade. Mas, os reis, quando bondosos, seguem amados pela história afora. E ninguém, como Roberto, tem um culto nacional sem ser bom.

Atire a primeira pedra em seu cetro, quebrem seus discos, aqueles entre 30 e 100 anos que não tenham ao menos num dia na vida se deparado com ele exercendo influência sobre seus sentimentos, amorosos ou não. É tatuagem.

Sou de 1959, ano-berçário da Bossa Nova, período em que um jovem cantor de boates, oriundo de Cachoeiro do Itapemirim, buscava seu lugar imitando a voz de João Gilberto, o bom baiano que subverteu as notas musicais no violão.

Minha geração, criada nas ondas do rádio, ouviu Roberto na placenta da Jovem Guarda, em escutas paralelas nos toca-discos dos adolescentes da geração anos 60. Criança de cinco, seis anos, eu vi a moda do Calhambeque.

Peguei carona no colecionismo com as figurinhas de chicletes estampando a brasa da Jovem Guarda, as letras do Iê, Iê, Iê que bebiam na fonte dos Beatles. Quando ouço “Splish, Splash”, pareço rebolado de volta à infância.

Álbum de figurinha: "ÍDOLOS DA TV"

Dos muitos álbuns de figurinhas editados a partir do apelo midiático da turma de Roberto Carlos, todos trazendo o mesmo título “Ídolos da TV”, guardo ainda quatro deles, completos, e onde o rei é a figura mais importante e repetida.

De lá para cá, Roberto Carlos atravessou seis décadas reinando absoluto, senão como o melhor artista da MPB, mas consagrado indiscutivelmente como o maior. É parte da historiografia das ruas e ídolo também dos demais artistas.

O rei atingiu aquele patamar onde pode-se ser contra ou a favor dele, mas nunca sem ele. O Brasil não é indiferente ao seu vasto repertório que atende todas as tribos. E a ninguém é permitido ignorar a longa onipresença do Rei.

Roberto Carlos - YouTube

Voltando à canção de Caetano Veloso, citada lá no começo desse texto, há outro trecho que o baiano diz assim: “A solidão agora é sólida, uma pedra ao sol… As coisas migram e ele serve de farol”.

Viva o rei, toda luz ao rei! Bem-vindo à minha cidade, que como as outras, também é sua.

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