Eu sou o ALECRIM!

janeiro 22, 2023

Heráclito Noé – Professor e Escritor (Whatzapp 84-99941.

Heráclito Noé - Professor e Escritor (Whatzapp 84-99941.6676)

Nasci em 1856. No começo eram pequenos sítios e umas casinhas de taipa. Tenho ao Norte o rio Potengi e a Cidade Alta; ao Sul, Lagoa Nova e Dix-Sept Rosado; a Leste Barro Vermelho e Lagoa Seca; e, finalmente, a Oeste, as Quintas. A área é de 3.444,73ha, com 30 mil habitantes. Tenho a maior densidade empresarial da cidade e sou um dos maiores contribuintes de impostos das três esferas de poder.

Eu me chamava Refoles, devido ao rio Potengi ser o preferido do pirata francês Jacques Riffault, onde ele tantas vezes escondeu o seu barco.

Entre as igrejas de Nossa Senhora da Conceição e a de São Sebastião, havia uma localidade conhecida como Baixa da Égua. O padre João Maria mudou o nome para Baixa da Beleza e assim passou a ser chamada.

Entre 1855 e 1856, diante um surto de cólera, por uma questão de saúde pública, foi construído um cemitério, substituindo a igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação e a de Nossa Senhora do Rosário, como locais de sepultamento.

Cemitério do Alecrim - Foto: Fatos e fotos de Natal Antiga

O cemitério público foi um dos marcos de minha ocupação. Tem 20.000 m2 de área, 18 quadras, 11 ruas e cerca de 6.300 túmulos, jazigos ou mausoléus.

Muitas pessoas famosas jazem aqui: o comerciante Juvino Barreto, o Padre João Maria, Pedro Velho, ex-senador e ex-governador, João Câmara, ex-senador e Café Filho, ex-presidente da República.

Um dos mausoléus mais bonitos foi construído por Januário Cicco, em memória da sua filha Yvette. Existem duas estátuas feitas na Itália representando a esposa e a sua filha sendo arrebatadas pelo Anjo da Morte.

Mausoléu da família Januário Cicco - Foto: Tribuna do Norte

Depois da construção do cemitério, vieram o Grupo Escolar Frei Miguelinho-1913, Igreja de São Pedro - 1919, Hospital Policlínica do Alecrim -1934, Base Naval de Natal - 1941, durante a II Guerra Mundial; além do Relógio - 1966, doado pelo Rotary Club do Alecrim.

Fui batizado como bairro pela Lei N° 251, de 30 de setembro de 1947, e ganhei o nome Bairro do Alecrim em 23 de outubro de 1911.

Segundo o historiador Câmara Cascudo, essa denominação aconteceu por conta de uma moradora das imediações da atual Praça D. Pedro II, que ofertava ramos de alecrim aos acompanhantes dos cortejos fúnebres. Portanto, desde criança, trago a marca da solidariedade.

O Bar Quitandinha, palco de diversos eventos culturais e políticos, surgiu em 1938, antes mesmo da Praça Gentil Ferreira, que foi inaugurada em 1939.

Foto: Pense numa Notícia

Recebi muitos artistas famosos, dentre eles: Marinês e sua Gente, Zito Borborema, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Cauby Peixoto e Antonio Marcos. Políticos como João Goulart, Ulisses Guimarães, Dinarte Mariz e Aluízio Alves aqui estiveram, sem falar no sucesso do grande Comício da Diretas Já.

Algumas de minhas ruas têm nomes de tribos indígenas: Av. 06 – Canindés; 07 – Caicós; 08 – Pajeús; 10 – Paianazes;12 – Paiatis;

Os grupos que dão nome a essas ruas pertencem a uma tribo maior: os Cariri; Os Caicó viviam em Caicó, Florânia e parte de Cruzeta; Os Pajeú, Caraúbas, Olho d’Água dos Borges, Augusto Severo e Upanema; Os Canindé, Mossoró, Areia Branca, Carnaubais, Pendências e Macau.

Os desfiles carnavalescos com as suas tribos de índios mantinham vivas as memórias desses nativos. As “batalhas” eram prévias carnavalescas que se encontravam na Vila Naval. Havia também o Bambelô Asa Branca, uma espécie de coco de roda.

Os clubes Atlântico, Cobana, Tiradentes, Alecrim e o Mauá, faziam a alegria do meu povo.

As festas religiosas ficavam por conta das igrejas de São Pedro e São Sebastião.

A Paróquia de São Sebastião, na Av. 9, foi criada em 1949. Em 1969 o teto da igreja desabou e foi construída uma nova, fruto das campanhas realizadas nos anos seguintes, durante as festas do padroeiro, comemoradas no mês de janeiro.

Tínhamos quatro cinemas: São Pedro, na rua Amaro Barreto; São Luís, na Av. 02, São Sebastião, na Av. 10 e o Olde, por trás da Igreja de São Pedro. O Cine José Augusto, inaugurado em outubro de 1923, segundo o escritor Anchieta Fernandes, foi o primeiro, e o segundo, foi o Cine Alecrim - 1947, nas proximidades da Praça Gentil Ferreira.

Cine São Luiz - Bairro do Alecrim

Dois teatros: o Sandoval Wanderley, criado na gestão do prefeito Djalma Maranhão (1960-1964), antigo Teatrinho do Povo. Nos anos 90, o Teatro Jesiel Figueiredo substituiu o Cine Olde.

Na área do esporte, a fundação do Alecrim Futebol Clube, em 1915, foi um marco importante.

Tenho orgulho de abrigar a maior feira da cidade, a Feira do Alecrim, realizada aos domingos, quando foi criada. Atualmente, aos sábados, desde o dia 10 de outubro de 1940, até os dias de hoje. O Mercado da 6, existe desde setembro de 1970.

Continuo à disposição de todos vocês. Sejam Bem-vindos!!!

Fontes: História da Cidade do Natal, de Câmara Cascudo; Alecrim Ontem, Hoje e Sempre, de Evaldo Rodrigues de Carvalho; acervo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal (SEMURB) 

4 respostas para “Eu sou o ALECRIM!”

  1. GILVALDO FRANCISCO CANELA disse:

    Bela reportagem, só acrescentando em matéria de clubes faltou o CAMANA (Casa do marinheiro de Natal), pois o COBANA é o clube dos oficiais da marinha e o Atlântico era o clube dos sargentos da marinha.

  2. Socorro Ribeiro disse:

    Muito bom!👏👏👏

  3. Glauce Moura disse:

    Como sempre, seus escritos são irretocáveis, Caríssimo Amigo.
    O Alecrim foi devidamente homenageado.
    Parabéns!

  4. Ivo de Oliveira Costa disse:

    SENSACIONAL,essa retrospectiva histórica do bairro onde nasci, e do qual tenho orgulho de lá ter vindo ao mundo!