Engenho Olho D’água, produtor da mais famosa aguardente do Estado, inicia a mecanização de sua lavoura canavieira
“João Berkman Dantas adquiriu um moderno e possante trator de esteira, capaz de substituir o trabalho de 120 homens.
"João Berkman Dantas adquiriu um moderno e possante trator de esteira, capaz de substituir o trabalho de 120 homens. Uma caravana de comerciantes, industriais e jornalistas, vai até o Engenho Olho D’água, em São José de Mipibu, assistir a estreia do trator, sendo fidalgamente recepcionada". (Fonte: Jornal Diário de Natal – 18 de setembro de 1949)
Professora Fran Moura - Pesquisadora
Mecanizar ou perecer, é slogan que percorre o Brasil inteiro. Ou deixamos a etapa primária do trabalho braçal, mandando as enxadas para os museus, como relíquias de um tempo que passou e avançamos resolutamente para a fase superior da máquina, ou então ficaremos marcando passo no mesmo terreno, retardando o progresso econômico do país.
A mecanização da lavoura é uma tese nacionalmente defendida pelos técnicos, mas também, pela grande maioria dos nossos homens de negócios.
Infelizmente a quase totalidade de nossas propriedade agrícolas continua aferrada ao princípio rotineiro, perdendo tempo, reduzindo a produção e porque não dizer, prejudicando a coletividade.
No Rio Grande do Norte este drama assume as proporções de verdadeira tragédia. Raros são os fazendeiros que possuem campinadeiras (máquina para capinar), arados e raríssimos os que contam para o seu serviço com um trator.
UM SENHOR DE ENGENHO DE INICIATIVAS ARROJADAS
João Berkman Dantas, filho e neto de Senhor de engenho, nasceu e criou-se nas tradicionais “Casas Grandes”, no convívio diário com a “bagaceira’, dominando com a vista os canaviais imensos, vendo as moendas esmagarem os feixes de canas e o caldo se transformar em mel e o mel em açúcar bruto...
O engenho que herdou dos seus antepassados, encravado na parte mais fértil do ubérrimo (muito abundante, muito fértil) Vale do Trairi, é um dos mais valorizados da região. Durante muitos anos, produziu açúcar, mas em 1921 iniciou a fabricação de aguardente, até que em 1928, surgiu o nome famoso: OLHO D’ÁGUA.
O produto pouco a pouco foi se firmando, até alcançar o ponto em que presentemente se encontra, liderando da maneira mais absoluta o comércio de aguardente do Rio Grande do Norte.
Não era possível, pois, continuar trabalhando primitivamente. Os canaviais precisavam se multiplicar e centenas de homens anualmente eram mobilizados, numa tarefa árdua e extenuante.
O grande passo, foi, então, dado resoluta e corajosamente.
A ideia de comprar um trator vinha germinando no cérebro de João Berkmans Dantas. E, para preparar a safra do próximo ano, a máquina foi adquirida.
UMA CARAVANA VISITA SÃO JOSÉ DE MIPIBU
O corretor Fassanaro, encarregado dos negócios de João Berkmans Dantas nos embarque de aguardentes, convidou os elementos de maior projeção em nossos meios comerciais, para fazer uma visita ao Engenho Olho D’Agua, a fim de assistir a exibição inicial do trator recém adquirido.
E na tarde do último sábado aproveitando a folga da semana inglesa, em um autentico weekend fim de semana), os convidados se dirigiram para São José de Mipibu.
EM PLENA VÁRZEA
Quando os convidados chegaram ao engenho, seguiram imediatamente rumo à várzea, andando francamente um quilômetro pelo massapê (terreno lamacento), atolando os sapatos na terra preta, atravessando valados, rompendo canaviais.
Finalmente, depararam-se com o trator, que se encontrava em experiência.
UM ESPETÁCULO IMPRESSIONANTE
Bem razão tem o sertanejo ingênuo em dizer que as máquinas, os famosos “cavalos de ferro” têm parte com o diabo...
Assistir um tratador trabalhando, revolvendo montes de terras, destruindo arbustos, a arrancando troncos de velhas árvores, numa marcha aterradora, imponente, soberbo, e um espetáculo enche os olhos e porque não dizermos que causa admiração.
O tratorista, um jovem mipibuense que passou dois meses no Recife fazendo um curso de emergência, liga a alavanca e a máquina parte, lenta e sistematicamente revolvendo o solo.
Primeiramente, um arado de cinco discos, marca internacional, faz parte inicial seccionando a terra em grandes blocos. Depois vem uma grade de quarenta disco de e duas polegadas, triturando tudo, deixando a terra em condições de ser plantada. O trator é de marca OLIVER de esteira Diesel e com 38HP.
A PRODUÇÃO DIÁRIA
Depois de aproximadamente uma hora de trabalho, os entendidos começaram a fazer os inevitáveis cálculos. Hermes Xavier, Raimundo Chaves e José Dantas, riscaram muito papel e chegaram à conclusão de o OLIVER era capaz de preparar convenientemente três hectares diários, substituindo o serviço de nada menos que 120 homens.
UM COQUETEL NA CASA GRANDE
Os convidados regressaram da várzea, meio cansados e foram alegrados com um magnífico coquetel. Whisky, cerveja, água de coco e não podia faltar o caldo de cana, correu franco.
Aclamado pelos presentes, o sr. Militão Chaves, presidente da Federação do Comércio do Rio Grande do Norte usou da palavra, saudando João Berkmans Dantas pela progressista iniciativa que acabava de tomar, iniciando a mecanização de sua lavoura canavieira. O orador foi bastante feliz e recebeu no final, justas aclamações.
Em nome do sr. João Berkman Dantas, agradecendo a saudação, discursou o jornalista Djalma Maranhão, representante dos Diários e Rádios Associados.
RAPIDA ENTREVISTA COM O SR BERKMANS DANTAS
Antes de regressar a Natal, o repórter do Diário de Natal teve a oportunidade de abordar o proprietário do Engenho Olho D'Água, obtendo a rápida entrevista que abaixo divulgamos.
Iniciando as suas declarações, declarou-nos que a produção de aguardente vem aumentando de ano para ano.
Indagamos, então, qual o motivo da enorme aceitação da Olho D’Agua e João Berkmans Dantas respondeu que é devido unicamente ao comprovado escrúpulo na fabricação e ser toda a sua aguardente fabricada exclusivamente de cana, nunca empregando mel.
O nosso entrevistado anima-se e afirma que o consumo de Olho D’Água é superior ao de todas as demais marcas reunidas.
"A minha aguardente é vendida no mundo inteiro e para comprovar o que digo", conta João Berkmans Dantas, "basta exemplificar que o ano passado fui procurado por um cidadão da Europa, contou-me que comprou uma garrafa de Olho D’Água em Londres!"
- E quais as praças aonde é a Olho D’Água mais vendida?
Primeiramente Natal, responde o nosso entrevistado. Fora do Estado vendo bastante para São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória do Espírito Santo.
- E a produção diária? Indagamos:
Na época da safra, fabrico em média 2.500 litros, respondeu sorrindo,
- E porque deixou de produzir açúcar?
Comercialmente a aguardente é mais interessante, deixando um lucro mais compensador.
- Tem sido o efeito da propaganda dos concorrentes?
João Berkmans Dantas respondeu que não, esclarecendo que a produção deste ano está toda vendida antecipadamente, existindo até casos de velhos fregueses que não puderam ser atendidos dentro da quota que desejavam.
A última pergunta do repórter abordou a questão do aumento da produção.
Tivemos como proposta a afirmação de que o trator, mecanizando a agricultura trará um lucro na parte agrícola de 50%. Novos hectares de canas serão plantados e um novo alambique será instalado.
FOTOS DE JOÃO BERCKMANS DANTAS (gentilmente cedidas pelo advogado Fábio Dantas)