E o Oscar vai para…
CEFAS CARVALHO – Jornalista e Escritor ( Texto publicado na Agência Saiba Mais) Neste domingo, dia 10, será realizada a cerimônia do Oscar 2024, a premiação da indústria cinematográfica de Cinema de Hollywood para os filmes lançados em 2023.
CEFAS CARVALHO - Jornalista e Escritor ( Texto publicado na Agência Saiba Mais)
Neste domingo, dia 10, será realizada a cerimônia do Oscar 2024, a premiação da indústria cinematográfica de Cinema de Hollywood para os filmes lançados em 2023. Ainda que como cinéfilo incorrigível eu tenha predileção por filmes europeus e, digamos, de arte. Também sempre tive fascínio pelo Oscar e acompanho com atenção (e mesmo paixão) as premiações da estatueta dourada desde a juventude.
Contudo, o Oscar é o evento que os cinéfilos amam odiar. Desde minha juventude é hábito entre os "intelectuais" desprezar o prêmio "da indústria". Há também o argumento "namastê" que "arte não é competição". Claro que não é, mas premiações cinematográficas, assim como literárias e musicais, geram interesse pelas obras e seus autores e facilitam a divulgação. Sem falar que derna a pré-história o ser humano é competitivo mesmo, porque na sétima arte não seria assim?
Mas, voltemos ao Oscar. O prêmio realmente foi criado pela indústria, em 1928, para celebrar as (muitas) produções da época. É preciso lembrar que a Europa, embora tivesse excepcionais escolas cinematográficas (principalmente a alemã, com o Expressionismo que nos deu "O gabinete do Dr. Caligari", "Metropolis", "O golem" etc), estava ainda se recuperando dos efeitos da Primeira Guerra Mundial e muitos cineastas preferiram migrar para os EUA atrás de melhores condições de trabalho e dinheiro. Casos de Fritz Lang (alemão), Ernst Lubitsch (alemão), Frank Capra (italiano), Billy Wilder (austríaco), George Cukor (húngaro) e mesmo Charlie Chaplin e Alfred Hitchcock (ambos ingleses).
Sabendo-se que a "A indústria de Hollywood" foi criada com ajuda de diretores europeus de arte e deixando a geopolítica de lado, vamos lá: na mesma dimensão que o prêmio ganhou dimensões mundiais e gigantescas também sempre atraiu detratores. Estes últimos, para mostrar seu desprezo, simplesmente não levavam a sério a premiação e não assistiam.
Quem gostava - meu caso - tentava assistir o máximo de filmes concorrentes, fazia as apostas pessoais, assistia e depois partia para os debates sobre merecimento (ou não) dos vencedores. Parecia simples. Até que surgiram as redes sociais e, principalmente, o Twitter (a rede que mais curto e onde mais se absorve informações, mas também a mais radical, agressiva e que reúne gente disfuncional e/ou tóxica).
Com as redes sociais confirmando aquela frase supracitada de Umberto Eco, passamos a ter por ocasião do Oscar (ou de qualquer outra premiação) uma gama imensa de "especialistas" palpitando sobre. Calma, não estou dizendo que a democratização e inclusão digital não têm lados positivos e nem que as pessoas não podem se expressar, muito menos que só doutores em suas respectivas áreas podem dar opinião sobre assunto assim ou assado, nada disso. Registro a tendência atual de pessoas que não dominam um assunto fazerem questão de opinar sobre ele, e muitas vezes de maneira agressiva e desrespeitosa com a opinião alheia, seja sobre Gaza, STF, campeonato carioca, BBB, física quântica, ou Oscar.
Para complicar as coisas, há tempos o Oscar também vem sendo "analisado" por um outro grupo de pessoas, que eu e um amigo cinéfilo chamamos de "militância identitária do contra". Explico. Hoje, muitos "cinéfilos" assistem (?) e avaliam (ou torcem pelos) filmes pelo que eles têm de "militantes" na área em que se propõem. Claro que o assunto é um espinheiro, mas o problema não está nos filmes (é maravilhoso que existam) mas na percepção que os cinéfilos militantes mantém sobre eles.
Um exemplo disso é "Moonlight", filme independente de 2016 sobre racismo e homosexualidade dirigido por um homem preto. Nas vésperas do Oscar comentava-se que a academia jamais o indicaria, por ser branca e excludente e etc e tal. Foi indicado aos prêmios principais e vaticinou-se que perderia para o favorito "La la Land" ("por este ser um filme de indústria com gente branca e sem aprofundar discussões etc e tal"). Pois "Moonlight" ganhou como melhor filme.
A partir daí teve sua importância reduzida porque na opinião dos mesmos antigos defensores teria sido "aceito pelo sistema". Caso igual ao de "Parasita", em 2020, quando antes do Oscar a vibe era de que "a academia jamais vai premiar um filme falado em coreano sobre guerra de classes" e depois quando o filme superou Scorsese e Tarantino a opinião geral foi de que "o filme também não é tão bom assim, tem algumas falhas". Talvez a graça seja ser excluído pelo sistema e ficar de fora esperneando, como na política costumam fazer PSOL e PSTU.
Ao longo dos anos, de tanto acompanhar comentários e indignações despropositadas e análises sem sentido, meio que já consegui - e sem auxílio de Inteligência Artificial (risos) - emular futuras indignações de cinéfilos de Twitter. Peguemos por exemplo a disputa mais acirrada da noite do Oscar deste domingo, o prêmio de melhor atriz, onde as favoritas são Lily Gladstone, por "Assassinos da lua das flores" e Emma Stone em "Pobres criaturas". Amei os dois filmes e ambas estão excepcionais em seus papéis, diferentes em tudo, e num mundo perfeito ambas deveriam ganhar.
Pelo viés da militância ideológica, em caso de vitória de uma ou outra, a grita dos descontentes será nesses termos: em caso de vitória de Emma Stone: "Claro que a academia iria premiar a branca loira e amada pela indústria e desprezar a chance histórica de premiar a indígena não-binária, afinal, um filme que denuncia um massacre não merece ser premiado na ótica dos velhinhos da academia que continuam desprezando os povos originários. Até quando?".
Já em caso de Lily Gladstone: "Deu a lógica, a academia premiou a atriz que representa uma causa, para se alinhar aos tempos atuais e desprezou a atriz produtora que interpreta uma mulher livre que descobre o sexo e não se envergonha disso. Os velhinhos da academia sempre com medo de mulheres sexuais e de filmes com teor erótico onde a mulher é empoderada nele e não mero objetivo. Até quando?".
Enfim, argumentos para todos os gostos e idiossincrasias. Já vi até gente no Twitter atribuindo a provável vitória de "Oppenheimer" no Oscar ao "fascínio que os EUA tem pelo bélico e por bombardear outros povos", como se quem votasse fossem militares do Pentágono e não gente do Cinema e ainda como se o filme fosse apologia à guerra, o que quem viu o filme sabe que ele não é. Mas, enfim, pedir para as pessoas assistirem os filmes e os avaliarem primeiro como obra cinematográfica talvez seja pedir muito. A prioridade é torcer e opinar. Que assim seja.