Fernando De Góes Filho

Macau 1950 a cidade estava no auge da produção de sal.
Uma moça de classe alta noiva estava a dias com um sangramento e o jovem casal de médicos os únicos da cidade não conseguia debelar. Operar para um clinico geral seria temerário!
Era inverno e naquele tempo não se mandava paciente para a capital, muita lama nas estradas, só Jeep para chegar em Natal. Na melhor das hipótese 24 horas saculejando.

O que fazer? As fofoqueiras da cidade ja falavam em aborto, palavra terrível para a família católica.
Então meu pai sugeriu a família mandar buscar o famoso cirurgião comunista e ateu em Mossoró Dr. Vulpiano o que foi aceito de pronto.

A família de posses alugou um teco teco para buscar. Ao sair do pequeno avião o pai da jovem foi logo dizendo Dr. vamos direto ver minha filha que esta muito doente.
Dr. Vulpiano replicou: Não, primeiro me leve ao medico, quero conversar com ele, e convidá-lo a me acompanhar.

Ajudado por meu pai e minha mãe, Dr. Vulpiano operou a jovem. Que se restabeleceu em poucos dias.
O rebuliço da visita do Dr. Vulpiano foi grande, só comparável a do anti-comunista ferrenho Frei Damião.

Este era o médico humanista, que logo depois foi preso torturado barbaramente na Base Aérea de Parnamirim.

Alguns médicos entre eles José Maciel, Mirabeau Pereira, Eudes Moura Fernando de Góes, foram a Sociedade de Medicina pedir ao presidente Dr. Manuel Viturino dar uma nota contra as torturas.
Ouviram dele: Comunista é pra isso mesmo.

Mas teve a grandeza quando estava para morrer chamar meu pai para ir pedir desculpas a Dr. Vulpiano.
O que meu pai fez, e ouviu a resposta: já estava perdoado há muito tempo!

Assim era a grande figura do medico do povo Vulpiano Cavalcanti!